13 - Le Chevalier

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Era um escritório bastante cheio de bugigangas e cacarecos. As paredes e o chão eram de madeira, cheios de quadros e outros artefatos. O lugar era empilhado de estantes lotadas, cheias de caixas e baús. Era um ambiente quase intransitável, apenas com uma trilhe em meio aos montantes de coisas. Janet a guiou por meio do labirinto até o fim da sala.

Havia uma rede de palha pendurada por toda a parede acompanhada de um quadro antigo ilustrando árvores esbeltas e altas com bambus. A mesa, na verdade, era um baú gigantesco com uma poltrona de couro por trás, onde sentava o chefe. Ao lado, havia barris e mais alguns baús, além de caixas.

— Seja bem-vinda, Senhora Black. – Cumprimentou o chefe, tinha uma voz educada e com um sotaque puxado.

Janet sentou-se em um barril seco e Dominica no outro. Tudo aquilo estava cheio de poeira e cheirava levemente a bolor. Teias de aranhas e escorpiões passeavam por entre as tantas quinquilharias. O homem a olhava como se fosse a engolir com os olhos, tinha cabelos encaracolados longos e negros, um bigode Dom Juan, usava um chapéu vermelho com uma pluma rosa, além de vestir um casaco da mesma cor que o chapéu.

— É um prazer pode conhece-lo, mas Janet não me disse qual o seu nome. – Sorriu com gentileza, Janet parecia um pouco desconfortável.

— É um segredo, lamento. Todos me conhecem como Le Chevalier. É o meu nome no submundo e o que todos sabem, se me chamar pelo meu verdadeiro nome, não saberão sobre quem está falando. Nem mesmo Janet sabe o verdadeiro. – Aquilo soou estranho, mas Dominica ignorou, tinha outras prioridades.

— Le Chevalier? Então temos um cavaleiro aqui?

Ele apoiou os cotovelos na mesa e inclinou-se um pouco, encarando Dominica frontalmente e de uma forma mais penetrante. Ela tentou se manter dura e sem esboçar nenhuma reação, como se não se importasse com a intimidação dele.

— O que você quiser. Acho que não estamos aqui para falar sobre mim, não é? Le Chevalier é meu nome e isso é tudo o que posso falar. O assunto é outro, sim?

Janet balançou com a cabeça e pôs-se de imediato a falar.

— É sobre Elis. A maga que trabalhava com a gente, ela está procurando pela moça. Só isso, pode falar algo sobre isso? – Ele não olhava diretamente para os olhos do homem, desvia o seu olhar para o chão ou para o teto. Gaguejava também, mas tentava disfarçar.

— Hm... Elis, é? Faz tempo que não a vejo. Sinto falta, muita falta dela, mas ela sempre sumia, não é mesmo, Janet? Não podemos confiar nessas pessoas da laia dela. – O homem gesticulava bastante, tinha uma lábia fortíssima. – Nunca confiei nesses aviõezinhos, gosto de ter os meus próprios, de minha confiança, como meu lacaio preferido, o jovem Janet. Elis era rápida e discreta, mas sempre passava muito tempo sumida, nunca gostei de trabalhar com ela, gosto de ter constância com meus trabalhos, entende Senhora Black? Constância.

— Claro. Contrabando é uma tarefa árdua e difícil, tem que manter seus clientes fartos de itens roubados. Não deve ser nada fácil matar os donos, achar peças perdidas e nem trazer coisas enormes de muito longe. Deve gastar muito com magos para manter tudo debaixo dos panos e para fazer alguns portais, creio. – Dominica não medira as palavras, ela sabia que tinha que ser direta o bastante para intimidá-lo ou senão, ele não falaria nada que fosse útil. – Infelizmente, não conta com magos de alto escalão, se recusam a fazer isso.

Ele foi pegue de surpresa pela senhora, ficou sem palavras. Com os peitos cheios de ar e a garganta fechada em um susto, ele manteve-se calado por alguns breves segundos antes de se recompor e se colocar à batalha novamente para apenas fazer com que Dominica fosse embora sem raptar nenhuma informação.

A Saga Scion - O Diamante NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora