Deitado em sua cama, olhando para o teto e com o rádio tocando ao fundo. É assim que Adam gosta de passar as tardes, nada melhor do que descansar um pouco depois do almoço. Seu quarto está na penumbra, a única iluminação permitida são os poucos raios de sol que entram pela janela do seu quarto daquela tarde nublada.
Seus olhos começam a pesar, enquanto ele deixa que seu corpo relaxe. Quando já está quase dormindo, ouve seu celular tocando. One Call Away. Apenas pelo toque ele sabe quem está lhe ligando. É a música que Liz insistiu que colocasse como toque exclusivo do contato dela.
Ele abre os olhos devagar e se estica preguiçosamente até o criado-mudo para pegar o aparelho. Atende e coloca no viva-voz.
- Oi, Liz.
- Está em casa? - ela suspira pesadamente. Sua voz parece longe e falha.
- Estou. O que houve? - pergunta preocupado, sentando rapidamente. Ela fica em silêncio, parecendo estar pensando como responder.
- Preciso falar contigo. Chego à tua casa em dez minutos. Tchau - Antes que ele pudesse conseguir qualquer outra informação ela desliga.
Ele olha pela janela tentando imaginar o que Liz pretende lhe dizer. Ela costuma fazer isso, mas nunca aguenta chegar à casa de Adam e acaba contando por telefone. Ainda olhando pela janela ele percebe que o céu está em um tom de cinza escuro, por entre as nuvens já se pode ver alguns relâmpagos. Sem dúvida vai chover.
Pra ele é uma visão bonita. Desde muito novo gosta de dias nublados, de chuva e das tempestades - principalmente as de verão, por causa dos relâmpagos -. Mas desde que Liz chegou à pequena cidade de Alvorada, os dias de chuva ganharam um significado diferente.
Faziam com que ele se lembrasse do dia que a conheceu, do dia em que os olhos cor de tempestade da garota se cruzaram pela primeira vez com os simples olhos castanhos dele.
Adam tinha 15 anos, dois anos a menos do que tem agora, ele tinha saído propositalmente quando uma tempestade estava prestes a cair. Com seu grande guarda-chuva preto em mãos, se encaminhou até a pequena praça da cidade. Os primeiros pingos de chuva começaram a cair quando ele já conseguia avistar de longe as árvores levemente alaranjadas do lugar. Caminhou lentamente até o portão da praça, e deixou que algumas mulheres desprevenidas saíssem correndo com seus filhos no colo, a procura de abrigo na cafeteria do outro lado da rua.
A chuva já caia um pouco mais vigorosa, foi aí que ele teve uma das visões mais tristes de sua vida. Uma garota chorando, os cabelos negros curtos estavam cobertos por um pó branco que parecia ser trigo. Depois de observar a cena por alguns segundos reconheceu a garota, Liz. Ele a conhecia de vista da escola, eles faziam o primeiro ano em salas diferente.
Os pingos de chuva caiam grossos, fazendo com que uma água branca descesse pelos cabelos da garota. Enquanto a garota chorava copiosamente sentada no banco de pedra, ele se perguntou como alguém poderia chorar com a aquela linda chuva caindo. Decidido a saber o motivo - mesmo que achasse que não fosse de sua conta -, ele se aproximou da garota e colocou a mão em seu ombro. Fazendo com que ela se assustasse e o encarasse surpresa com seus olhos enormes.
Ele se surpreendeu com o incrível tom de cinza dos seus olhos, fazendo com que ele visse a coisa que mais amava. O céu tempestuoso.
Ficaram assim por alguns segundos. Até que ele sentasse ao lado dela e estendesse o guarda chuva em sua direção, protegendo-a da chuva.
- Cuidado, você pode pegar um resfriado - falou sem encará-la, tinha medo de ficar sem palavras ao olhar nos olhos da moça.
- O que você quer? Fazer piadinhas? Pois saiba que eu dispenso - ela disse agressiva se levantando.
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Short StorySomos autores que acham que a combinação de música e livros pode mudar o mundo! ✳✳✳ Melhor Ranking: #51 em Conto (06/07/2016)