Alma de Fogo

CAPÍTULO 6 - Olhos de fogo

Está tudo escuro.
Ouço vozes me chamando. Não consigo ouvir direito o que falam, mas entre os grunhidos, ouço uma voz masculina e divina chamando meu nome.
- Lory! - Clama a voz que me chama.
Abro meus olhos, mas nao por muito tempo. Tento mante-los abertos, mas eles parecem pesar como chumbo. Entre as falhas tentativas de acordar, vejo que estou sendo carregada. O rosto do jovem menino que me carrega nao é muito nítido, mas rapidamente reconheço. Isaac.
Não consigo reconhecer o lugar onde estamos. Tudo parece girar.
- Aguente firme, Lory, eu estou aqui, irei te ajudar. - Isaac me larga cuidadosamente em cima de algo macio e quentinho, provavelmente uma cama.
Vencer a dor e o cansaço nao é nada facil. Apesar de lutar contra, meus olhos acabam fechando, tudo fica preto e logo perco a consciencia.

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Sinto o sol batendo em meu rosto. Abro meus olhos, o sol ilumina todo o ambiente. Estou em um quarto de paredes de madeira escura, nas janelas, curtinas bejes rendadas, os móveis sao rusticos, um armário, uma cômoda e dois criados mudos, um de cada lado da cama, que aliás, era de casal. Havia um lustre enorme no teto, mas como estava claro, as luzes estavam apagadas.
Sinto uma dor ardente na lateral do meu tronco, bem abaixo do tórax. Levanto minha camisa para ver do que se trata. Há um ferimento, ja costurado e fechado, mas pela dor, deve ser fundo.
Do outro lado da porta, escuto duas pessoas falando, uma delas é Isaac, reconheço a voz. A outra é uma voz suave e feminina, nao faço ideia de quem seja.
- O que iremos fazer com ela? - Pergunta a voz feminina.
- Eu nao sei. O estado dela nao é muito bom. Ela atravessou o portal com um ferimento grave, isso causou sequelas internas. - Fala Isaac.
Meu coraçao dispara. Sequelas internas? Ferimento grave? Portal? Lembro-me do dia anterior. Os olhos do garoto brilhando em uma cor esquisita, as palavras estranhas que nunca ouvi, e o mais inquietador, um buraco negro se abrindo no meio da minha cozinha. Lembro também das pessoas arrombando minha porta, que vi pelo canto do olho. Tudo tão....assustador. Tantas perguntas, nenhuma resposta. O que esta acontecendo?
Preciso sair desse lugar, preciso fugir. Me levanto, dolorosamente. Meu ferimento dói, coloco a mao sobre ele e pressiono, tentando abafar a dor. Olho pela janela. Árvores e mais árvores. Onde estou? Vejo ao longe uma estrada de barro, mas nao há nada além disso, senão árvores. Na janela nao há nenhuma tranca, nada que eu possa abrir. Como irei sair daqui? Há uma outra janela, menor e mais alta. Essa, por sua vez, tem uma tranca. Tento abri-la, mas parece estar emperrada. Começo a me desesperar. Forço para a janela abrir, sem parar, e minha cabeça esta clamando pela fuga. Abra, por favor, abra!
Em meio às falhas tentativas, vejo meu reflexo no vidro da janela. Meu olho, normalmente castanho, esta vermelho, vermelho como a chama do fogo. De repente, a tranca da janela abre quase que sozinha. Sem pensar duas vezes, pulo a janela, caindo em um arbusto, que amorteceu a queda.
Meu machucado arde, levanto a camisa, esta sangrando, os pontos estouraram. O pressiono com minhas maos para amenizar a dor. Corro o mais rapido possivel pela estrada de barro. Nao sei para onde estou indo, só sei que tenho que sair de perto daqui. Coloco uma de minhas maos em meu bolso. Meu celular. Espero q esteja com bateria. 5%, da para fazer uma ligaçao. Alex, ligo para Alex.
-Lory! Gracias! Onde vc estava? Te liguei o dia todo...- Alex falava, mas rapidamente o interrompo.
-Alex! -minha voz é de dor e desespero- Socorro, me ajuda por favor! - Só consigui falar isso antes que o celular deligasse. Nao sei como Alex conseguirá me achar, mas nao posso perder as esperanças.

Continuo andando por mais uns 10 minutos, até que meu ferimento arde muito, uma dor tão forte, tao profunda....caio no chao de joelhos, com minhas maos pressionando o machucado, que a essa altura, nao parava de sangrar. Tudo começa a ficar preto, e caio inconsciente.