Adeus

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– BUENOS AIRES, ARGENTINA –
Para Angie e German, o resto da viagem foi resumida em apenas uma palavra: tédio. Eles passavam o tempo todo fugindo um do outro e fazendo de tudo para não se esbarrarem. Nos passeios, não ficavam próximos e nem conversavam entre si, mesmo quando era pra falar sobre o trabalho, eles evitavam.
Chegaram em Buenos Aires quando já estava anoitecendo. Cada aluno foi para sua casa e Angie acompanhou a sobrinha.
– Vilu, eu preciso falar com você. – Falou baixo, esperando que German não escutasse. Ele estava destrancando a porta.
– Fala aqui mesmo. Fiquei de me encontrar com o Leon mais tarde. – Sorriu.
– É que... Eu andei pensando e decidi morar novamente na Europa, porque eu acho que vai ser melhor pra mim e não quero que você ache que estou te abandonando, muito pelo contrário.
Não percebeu que tinha falado um pouco alto e depois de alguns segundos sentiu uma mão segurar firme seu braço, deixando-a frente a frente com dois olhos castanhos que faiscavam de raiva.
– Violetta, entra em casa. – Ele respirou fundo depois de dar as ordens para a filha, que entendeu a necessidade de conversa entre os dois e entrou quieta.
Angie olhava ao redor, sem querer enfrentar o que estava em sua frente. Não queria olhar dentro dos olhos dele, porque tinha certeza que era uma fraqueza indiscutível.
– Por que? – Soltou-a e perguntou.
– Por você, pelos problemas... Por tudo. Por nós dois, German. – Sussurrou, segurando o choro.
– Eu não posso acreditar que você está pensando nisso, de verdade. Principalmente depois da noite de amor que nós dois tivemos e...
– Nós estávamos bêbados. – Ela o cortou.
– Bêbados ou a merda que fosse, nós dois nos amamos. – Ele passou a mão pela barba.
– Não vale a pena que tenhamos essa conversa. – Ela olhou para o lado, nervosa.
– Não vale a pena para você, mas para mim vale sim. Eu preciso dessa conversa pra saber o que fazer depois daqui.
– Como assim? Quer dizer que você está dependendo da minha decisão?
– Se você decidir ficar, eu luto pelo nosso amor até perder completamente as esperanças. Se você for, considere-se esquecida, porque eu enterrarei tudo que um dia tivemos.
E era exatamente isso que ela queria que acontecesse quando fosse embora, mas escutar aquelas palavras saindo dele, doía mais do que ela tinha imaginado, porque não tinha planejado aquela conversa.
Ela levantou a mão e acariciou o rosto dele, como se quisesse observar cada centímetro da face dele, para lembrar da pele macia quando a saudade fosse maior que tudo. Deslizou os dedos magros pelos lábios que a recebiam sempre de maneira tão agradável e continuou descendo as mãos, parando nos ombros. Deixou-as apoiadas ali e ele aproximou seu corpo do dela, colocando as mãos em sua cintura. A distância estava acabando tão rápido que os lábios se encontraram quase que de imediato, iniciando um beijo lento e intenso, que durou alguns segundos, até ele a puxar para colar seu corpo com o dela. Juntou novamente suas bocas e ela subiu uma das mãos até a nuca dele, acariciando levemente, deslizando as unhas pela pele e puxando devagar o cabelo. Ele mordeu o lábio dela e sugou o inferior sem machucar, mas tão sensual que ela sentiu ficar excitada aos poucos.
– Sinto muito. – Sussurrou no meio do beijo e encostou suas testas.
– Por que sente muito, Angie? – Sorriu enquanto falava. – Você escolheu lutar pelo nosso amor.
Ela afastou seu corpo do dele e balançou a cabeça, respirando fundo.
– Eu me escolhi, German. Não vou ficar na Argentina.
– E esse beijo? – Apontou para a boca, confuso.
– Já ouviu falar em beijo de despedida? – Sorriu fraco e segurou a mão dele.
– Eu só espero que esse não tenha sido um.
– E eu espero que você possa me perdoar, porque estou fazendo o melhor para mim. – Sussurrou e olhou para o chão.
– Isso não é amor.
Ele não se alterou, porque tinha a certeza de que naquele momento não valeria a pena.
– Pense o que quiser.
– Já pensei. Se você me amasse como diz, seria forte o suficiente para passar por isso, ao meu lado. Você não está fazendo assim. Você está fugindo, Angie. Então não venha me dizer que eu sou sempre o errado e que eu sou um covarde, porque olha quem está sendo agora. – Respirou fundo. – Mas quer saber? Pode ir. Eu vou cuidar da minha filha com todo o amor que não pude compartilhar com você. E eu espero que você seja muito feliz.
Olhou ao redor e soltou sua mão da dela, sentindo que mesmo não tendo mostrado fraqueza, estava destruído completamente. Afastou-se sem olhar dentro dos olhos dela e entrou na mansão.
– PARIS, FRANÇA –
Ela tinha falado com Violetta pouco antes de viajar. Despediu-se de forma breve, com alguns abraços e várias lágrimas, mas breve. German não tinha ido para o aeroporto, porque simplesmente achou que não era necessário sofrer mais ainda. Não queria mais ver ou falar com ela. Estava magoado e não concordava por ela ter decidido pelos dois.
Angie escrevia músicas para uma gravadora famosa, quase a melhor, de Paris. Gostava do que fazia e quando deixou pela primeira vez o trabalho, chegou a sentir saudade. A sua sorte era que já conhecia algumas pessoas na cidade e tinha amigos.
Silvia Navarro era a mais próxima dela. Mulher bonita, morena, simpática e inteligente. Ficaram amigas em um evento de divulgação da gravadora em que ambas trabalhavam. Silvia era casada com o dono, Jorge Salinas, mas também cuidava da parte financeira. As duas sempre foram próximas, tanto que Angie já tinha contado sobre Jade, Esmeralda e pouco tempo antes de viajar informou por e-mail tudo que aconteceu com Priscilla.
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Fazia um mês que tinha chegado em Paris e a única coisa que incomodava eram seus pensamentos. Lembrar dele a deixava desconcertada e muitas vezes distraída. Os beijos eram recordados sem pena, porque para ela, nunca em sua vida tinha beijado alguém como a ele. As palavras de amor ditas por ambos estavam sempre ali, atormentando-a. Acordava todas as noites, como se sentisse os braços dele ao redor do seu corpo, mas era tudo sonho.
Chegou em casa na sexta-feira à noite e foi direto tomar um banho, porque estava atrasada para uma festa na casa de Silvia e tinha certeza de que demoraria alguns minutos escolhendo a roupa. Saiu do banheiro apressada e foi até o pequeno closet, com diversos modelos de vestidos, curtos e longos, claros e escuros. Pegou um cor de rosa que quase chegava a bater no joelho e um par de sapatos de cor bem mais clara que a do vestido, quase alcançando um tom branco. Tirou a toalha e pôs uma lingerie sensual, como todas que tinha.
Estava passando o perfume quando escutou o celular tocar no móvel ao lado. Pegou e olhou o nome do contato, sentindo o corpo estremecer completamente e todos os sentimentos passados que estavam quase sendo esquecidos, voltaram à tona.

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