Fiel ao amor

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Te sigue esperando mi corazón - Río Roma (Reproduzir)

– Eu vou o que? – Segurou Angeles pela cintura e desencaixou seus corpos, colocando-a no chão.
– Vai voltar para a Argentina. – Olhou ao redor procurando sua calcinha. Encontrou-a rasgada no chão e balançou a cabeça.
– Você vai fingir que nada aconteceu? É isso? – Subiu a cueca e a calça, arrumando-as em sua cintura. 
– E o que você queria que eu fizesse, German? Porque eu não provoquei, não fui eu quem começou.
Angeles terminou de arrumar a saia e a blusa, precisando somente dar um jeito no cabelo.
– Você sabe o que aconteceu aqui. Sabe o que nós dois sentimos. – Pegou a calcinha dela no chão e colocou em seu bolso do terno quase espontaneamente.
– Nós transamos. Aliás, eu estou quase casada e o Alejandro é maravilhoso.
German respirou fundo e fechou os olhos.
– Mas você não o ama. – Falou pausadamente enquanto arrumava a gravata.
– O que te faz pensar que eu ainda amo você, German Castillo? – Ela aproximou seu rosto do dele. – Qual a capacidade que você tem de ler os meus pensamentos?
– Você falou pra mim quando estávamos fazendo amor, agora. Falou enquanto gemia em meus braços, chamava meu nome. – Suspirou.
– Eu amo o prazer que você me faz sentir.
Angeles deslizou as mãos pelos fios bagunçados do cabelo e o olhou.
– Até mais ver, Senhor Castillo. – Sorriu cinicamente e deu as costas para ele, quase sentindo o corpo tremer.
German observou ela começar a andar para sair da sala, mas a sua mente foi mais rápida e a puxou para ele novamente, colando seus corpos.
– Você precisa aprender a se despedir.
Olhou-a dentro dos grandes olhos verdes e a beijou intensamente, sentindo os lábios dela ainda úmidos e quentes do momento cheio de paixão que acontecera minutos antes.
Se existia alguma forma de separar os dois naquele instante, era desconhecida. Ambos estavam presos pelas bocas desesperadas e cheias de saudade. German colou ainda mais seu corpo ao de Angeles e mordeu o lábio dela, soltando um suspiro logo em seguida.
Escutaram o som de passos bem próximos e se separaram rapidamente.
– Corre pro banheiro! – German sussurrou e Angeles olhou ao redor, procurando a porta que dava acesso ao cômodo.
German passou a mão pelo cabelo e fingiu estar procurando algo. A porta abriu e apareceu um velhinho com roupa de zelador.
– Desculpe, eu estava apenas procurando o meu celular. Acho que não deixei aqui. – German falou calmamente. 
– Ah sim, Senhor... Eu estou apenas verificando, pode ficar tranquilo. – A voz era baixa e trêmula. – Aliás, eles já vão brindar o sucesso do evento.
– Tudo bem, eu estou indo. Obrigado.
German sorriu e esperou que o homem saísse da sala para bater na porta do banheiro. Riu ao escutar Angeles resmungando algo e observou ela sair já arrumada, como se nada tivesse acontecido.
– Eu vou primeiro e depois de uns 5 minutos você vai. – Ela falou e olhou a hora. – MEU DEUS, nós ficamos aqui por 50 minutos.
– O que tem? – Perguntou despreocupado.
– O Alejandro deve estar me procurando. Droga, German. – Saiu quase correndo e voltou para o salão principal.
Angeles correu os olhos pelo lugar e caminhou até uma mesa com dois homens: Alejandro e Jorge. Sentou-se ao lado de seu noivo e segurou a mão dele.
– Onde você estava, Angie? – Alejandro perguntou, olhando-a calmo.
– É... O Pablo, da Argentina, lembra? – Alejandro assentiu. – Então, ele me ligou pra contar umas novidades e você sabe como somos quando nos falamos.
– Ah sim.
Alejandro não acreditou muito, porque viu quando ela estava dançando com German uma hora antes, mas não falou nada. Poderia ser apenas coisa de sua cabeça. Ou não.
-
A festa já estava quase acabando e tanto German como Angeles continuavam apenas trocando olhares intensos, sem palavra alguma.
A maioria dos convidados já estavam bêbados e os homens dançavam com moças bem mais jovens. German aproveitou que Alejandro tinha ido ao banheiro para se aproximar de Angeles.
– Só queria me despedir. – Falou baixo e pegou a mão dela, depositando um beijo nas costas e deixando ali um papel.
– O que é isso? – Ela estava confusa pelo papel e nervosa pela presença dele.
– Não abra agora. Muito menos perto do seu noivo. – Respirou fundo. – Espero que possamos nos ver novamente.
Ela sorriu leve e o abraçou, porque apesar de tudo, ainda o amava. Amava-o absurdamente.
– Eu continuo sendo fiel ao nosso amor. – German sussurrou no ouvido dela e sorriu, beijando-a no rosto.
Aquelas palavras a deixaram sem reação, fazendo o corpo tremer por inteiro. Observou ele sair do salão e ir embora, entrando em um carro preto que já o esperava na saída. O coração parecia querer sair para fora, pulando de emoção.
– Meu amor! – A voz de Alejandro a despertou dos pensamentos que estava tendo e nenhum era com ele, apenas com German.
– Oi, querido!
– Eu estou com sono, vamos pra casa, por favor. – Riu.
Angeles balançou a cabeça rindo, mordeu o lábio e puxou seu noivo para se despedir dos demais.

Ele não tinha forças pra muita coisa. Nem sabia se o que estava sentindo era tristeza ou felicidade. Lembrou-se do corpo dela enquanto faziam amor e deixou que uma lágrimas escorresse pelo seu rosto. Enquanto observava os pingos de chuva baterem no vidro do carro quase agressivamente, pôs uma das mãos no bolso do terno e encontrou a calcinha dela, encarou-a e riu mentalmente vendo que havia uma coroa desenhada.
Baixou a cabeça e esperou mais lágrimas descerem ao lembrar de que aquela poderia ter sido a última noite. Queria lembrar de cada toque e agradeceu aos céus por não estar bêbado. Guardaria aquele amor que fizeram na sala de reuniões para o resto de sua vida.

Angeles esperou que seu noivo dormisse e levantou-se para ir ao banheiro, tirando do bolso do pijama o pequeno papel que ele tinha entregado. Sentou-se na pia e abriu o papel, já conseguindo perceber que estava quase em forma de carta, com a letra cursiva e bem desenhada de German. Sorriu ao imaginar o momento em que ele estivesse escrevendo aquilo e respirou fundo para começar a ler.

"Y pasan y pasan los años y me sigue doliendo tu amor
Y pasan y pasan amores y te sigo siendo fiel, aunque no quiera
Y trato de enamorarme
Y con alguien más entregarme
Mi cuerpo de desesperó
Pero te sigue esperando mi corazón..."
Que outra forma de começar esta carta, se não for com uma das canções de Río Roma? Ah. Aliás, queria dizer que todas contam nossa história de amor. Penso eu que até se inspiram na gente, porque somos uma ótima fonte.
Antes de tudo, eu queria dizer que te amo e estou escrevendo isso dentro do banheiro masculino (quebrei o romance mesmo), simplesmente porque não queria que as pessoas chegassem para me atrapalhar enquanto eu escrevesse.
Então. Não sei se essa pequena folha de papel será capaz de me fornecer todo o espaço que necessito para declarar meu amor. Sinto que nem conseguirei dormir hoje lembrando da gente naquela sala. Dos beijos roubados e do amor que fizemos. E são nesses momentos que me falta o sono que eu justamente faço sempre a mesma pergunta: o que você fez comigo?
A resposta é simples: devolveu-me a vida.
Você me amou como ninguém nunca amou e me fez te amar incondicionalmente, com todas as opções seguintes inclusas: amar, namorar, casar, ter filhos e ser feliz pra sempre.
Mas é incrível como o destino muda as coisas, não é? Ver você partindo maltratou meu coração de uma forma tão absurda que eu nem sabia mais se ele existia. Você matou-me por dentro, destruiu todas as minha esperanças de um futuro feliz.
E já foram tantos anos que eu nem te culpo mais, culpo aos dois. Nós. É bonito como isso soa, você não acha? Nós.
Minha vida tornou-se estável e completamente entediante depois de você ter saído de Buenos Aires. Mas hoje, depois de tanto, percebi que meu coração só estava protegido, por uma grande e segura cápsula. Cápsula essa que foi destruída por beijos de uma famosa compositora. E eu garanto, Angeles Carrara, garanto que o único que quero é que você seja feliz. Não há nada mais certo que isso. Só quero que esse sorriso maravilhoso possa estar presente ao casar com seu noivo. Espero que ele te faça feliz, porque se não fizer, eu faço.
Como você pode ver, meus esforços por mais espaço nessa maldita folha falharam. E é isso. Pelo nosso amor, sou capaz até de te deixar. De deixar minha felicidade.
Com amor,
Castillo.

Estar aos prantos não era uma expressão possível de descrever a situação dela. Os soluços tomavam conta do cômodo e só sentia dor por saber que tinha acabado, por não ter aproveitado mais o tempo que tinha com ele. Várias vezes durante a leitura parou para enxugar os olhos, consequência de palavras que a marcariam pelo resto de sua vida.
Recuperou-se e voltou para o quarto, observando seu noivo dormir tranquilamente com o short de patinhos azuis. Sorriu e acariciou o cabelo de Alejandro, sentindo o coração doer de uma maneira absurdamente insuportável.
Fechou os olhos e deitou ao lado dele, tentando esquecer da carta que tinha acabado de ler.
Observou o celular e pensou em mandar uma mensagem para ele, o que desistiu de fazer após sentir os braços de seu noivo a rodeando.

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