Ligação

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The cars – Drive (Reproduzir)

Encarou a tela do celular por alguns longos segundos e escutou passos se aproximando. Era Alejandro. Apagou a mensagem rapidamente. Sabia que não voltaria atrás em sua decisão. Não iria escrever outra mensagem e se o certo fosse enviar, por que não tinha apertado no botão "ENVIAR" em vez de excluir tudo?
– Meu amor, já está pronto? – Abraçou a noiva por trás e beijo o rosto dela.
– Ainda não, mas quase. – Virou para ele.
– Eu te amo. – Ele sussurrou e acariciou o rosto dela.
Beijaram-se por vários minutos até escutar o barulhinho avisando que a lasanha estava pronta para ser servida.

– BUENOS AIRES, ARGENTINA –
7h00:
German acordou cansado, sentindo as costas doerem. Tinha ficado na empresa por mais tempo do que o normal na noite anterior. Nem lembrou direito que era seu aniversário. Levantou-se e foi tomar um banho, pensando em como Angeles estaria. Será que iria lembrar? Sentiu uma dor no coração ao recordar da foto no jornal e da matéria. Ela estava com ele. Com certeza nem passaria pela cabeça.
Saiu do banheiro e vestiu uma calça jeans escura e uma camisa polo azul com um sapato social. Estava extremamente casual, mas sem deixar o estilo charmoso de sempre.
Desceu as escadas e encontrou um café da manhã maior que o normal. Violetta e Ramallo já estavam sentados à mesa.
– Bom dia pro aniversariante mais lindo de todo o mundo! – Violetta levantou e abraçou o pai dela.
Ele riu baixo e beijou a cabeça da filha, extremamente feliz por ela ter lembrado e de estar com ele, mesmo sendo errado, porque estava em turnê.
– Obrigado, meu amor! – Sorriu.
– Parabéns, German. Feliz aniversário. Depois dou um abraço, porque esses pães estão muito convidativos. – Riu.
– Tudo bem. E obrigado de novo.
Sentou-se no lugar de sempre e olhou o celular pela décima vez. Estava desejando uma mensagem dela. Queria pelo menos uma forma de saber que ela lembrou.
– O que tanto olha nesse celular, pai? – Perguntou enquanto mordia um pedaço da torrada.
– Espero uma mensagem de sua tia. – Falou sem rodeios.
Ramallo e Violetta trocaram olhares rápidos e voltaram a atenção novamente para o aniversariante.
– Você sabe que ela está noiva, não sabe? – Perguntou a filha, quase nervosa.
– Sei. – Falou baixo. – Mas, qual o problema de um homem com seus 43 anos completos poder sonhar que a mulher de sua vida lembrou do aniversário? – Sussurrou quase pra si mesmo que para os demais da mesa.
Violetta sentiu como se seu coração parasse de bater. Ele ainda a amava e estava claro todo esse tempo.
– PARIS, FRANÇA –
Parar de pensar nele foi uma coisa que ela não conseguiu. Queria estar em seus braços e dizer que ainda o amava e que sentia saudade.
– Angie! Angie, meu amor. Acorda! – Silvia cutucava a amiga.
– Que? Sim, vou. – Falou quase eufórica.
Silvia soltou uma gargalhada e balançou a cabeça.
– O sexo ontem foi tão bom que nem trabalhar você está conseguindo? – Sentou-se ao lado da amiga enquanto falava.
– Eu queria que realmente fosse culpa do sexo de ontem. – Apoiou a cabeça nas mãos e ficou observando Silvia pegar várias balas de um pote que estava na mesa.
– Não! – Pôs uma bala na boca. – Não me diga que é o Castillo novamente.
Angie assentiu.
– Nossa senhora, esse homem deve ser bom de cama mesmo. Dois anos, Angie.
– Pior que ele é sim. Eu nunca transei com ninguém daquela forma e... Olha, de verdade, eu nem gosto de chamar assim. Pra mim, nós dois fizemos amor. Transar e sexo são coisas casuais.
– Mas e então? – Outra bala. – Você apenas lembrou dele e ficou assim? Distraída e lesada?
– Hoje é o aniversário dele. 43 anos. Eu não consigo parar de pensar em como deve estar ou com quem. – Deitou a cabeça na mesa.
– Não que eu não goste dele, mas só acho que deveria dar um desconto pra você. Sair da sua cabeça um pouquinho. Voltar para as milhares de putas com as quais ele tentou casar e te deixar em paz.
– Ele não tem culpa do amor que eu sinto. – Levantou a cabeça. – Será que ele pensa em mim?
– Por que não pergunta pra ele? – Deu de ombros enquanto enfiava mais duas balas na boca.
– Você acha que eu devo? – Angie levantou.
– Pega o celular, pergunta e depois manda ele pro inferno de novo. Simples assim.
– Eu já mandei ele pro inferno alguma vez?
– Você fez isso quando veio pra Paris, bebê. – Silvia riu quase irônica.
– JÁ SEI! – Deu um grito e desbloqueou o celular. – Eu só preciso que ele saiba que eu desejo um feliz aniversário. Então, você mesmo pode ligar do seu celular, pra ele não salvar meu número novo, e falar que eu desejo tudo aquilo.
– Por acaso eu virei mensageira e não sabia? – Mais balas.
– Por favor, Silvia! – Juntou as mãos.
– 2 minutos.
Angeles sorriu e bateu palmas, quase chorando de felicidade. Pegou o celular da amiga e digitou o número que sabia de cabeça.
– Mais de dois anos que eu estou casada com o Jorge e ainda não sei o número dele de cabeça. – Outra bala.
Colocou a chamada em viva-voz e deixou o celular na mesa, perto das duas.
– Sim? – A voz grossa e rouca tomou conta de toda a sala.
Angie sentiu seu corpo estremecer e sentou-se na cadeira, aproximando-a da mesa e do celular de forma quase desesperada. A voz dele a matava por dentro. Suspirou e sorriu. Ele não mudou a forma de atender o celular. Nunca perguntava quem era primeiro e sim o que queria. Frio e seco.
– Não vai falar? Cancelarei a chamada. – Ele estava impaciente. Dava para perceber em seu tom de voz
– NÃO! Oi, meu nome é Silvia. Silvia Navarro Salinas. – Falou perto do celular.
– Certo. German Castillo. Por que ligou em meu celular, Srta. Navarro?
– Senhora, por favor. – Respirou fundo. – E eu apenas quero dizer que ela deseja um feliz aniversário e espera que você passe muito bem esse dia, porque pelo que ela diz, você merece. E que sente saudade.

Silêncio.

– Isso é algum tipo de brincadeira? – A voz dele estava trêmula, era mais que óbvio.
– Eu espero que você saiba de quem eu falo. Ela estava do meu lado, sabia? – Silvia pôs outra bala na boca enquanto falava.
A outra já estava quase desmaiada enquanto escutava a voz dele e comia as unhas e os dedos, extremamente nervosa. Sabia que a sua manicure não ia gostar, mas aquilo era o de menos.
– Angie? – Sussurrou ele de uma forma quase inaudível. – Se você estiver escutando, quero que saiba que eu... Eu ainda te amo. Acho que até mais.
Começou a chorar ao escutar ele falando aquilo.
– Pensar todos os dias em nossos beijos não funciona mais. Eu preciso deles novamente. Preciso de você. Mas sei que está feliz. E quero que seja assim também. Mandarei o presente de noivado.
Silvia observou a amiga quase querendo falar e encerrou a chamada rapidamente. Puxou uma cadeira para ao lado de Angeles e a abraçou, tentando fazê-la parar de chorar. Nunca tinha visto ela daquela forma desde a vez em que deixou German.
– Por que eu não posso amar meu noivo? – Soluçava ao falar. – Era apenas isso que eu queria. Amar o Alejandro e esquecer ele. Esquecer o German.
Silvia suspirou e deitou a cabeça de Angeles em seu colo, como uma criancinha fica ao lado da mãe. Elas duas eram inseparáveis e juraram que em momento algum, uma iria abandonar a outra.
– BUENOS AIRES, ARGENTINA –
Mordeu o lábio inferior e limpou a lágrima que insistia em cair. Ela tinha lembrado e sentia saudade. Mesmo que seja apenas lá no fundo, ele sentiu um pouco de esperança. Viu um futuro e quem sabe, nem muito distante assim.
– Papai! – Violetta entrou no escritório quase correndo.
– O que? – Tentou recuperar o ar de sério e insensível, mas não foi possível.
– Você estava chorando? – Pôs as mãos na cintura.
– Não. – Endireitou-se na cadeira. – O que você quer mesmo?
– Só queria avisar que já assinei o segundo contrato com a gravadora. – Sorriu animada.
– Que bem, meu amor. Fico muito feliz por você.
– Ah, e outra coisa. Parece que a Angie já marcou a data do casamento. O Alejandro me enviou.

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