VOICES ➸ muke

8. red

Luke.

Acordei com o cheiro de bacon quente, e apenas por um segundo, eu esqueci ondo estava. Eu ainda estava dormindo, eu sorrio ao sentir o cheio. Adoro quando Michael faz o café da manhã.

Abro os olhos, esfregando-os levemente conformo encaro a realidade.

Eu não estava em casa, eu estava lá.

Meu coração afunda e minhas mãos começam a tremer. April. Eu preciso de April, e nós precisamos sair daqui agora. Para o nosso bem.

Eu me esforço para achar meu moletom e uma camisa. Meus sapatos estão amarados e eu me preparo apenas para calmamente pegar April, as chaves do carro e dar o forra daqui. Eu tomo uma respiração profunda, abrindo a porta e cautelosamente caminhando para a cozinha. Calum está de costas para mim enquanto fritava o bacon e é claro... panquecas. April estava sentada no balcão e assistia como ele virava as panquecas. Ela riu quando ele tentou lançá-la para cima enquanto ainda estava na frigideira, como nos programas de culinária.

"Você conseguiu, Cal!" ela riu, batendo palmas. Ele fez uma pequena reverência e beijou sua cabeça.

"Você acha que devemos levar essas para o papai?" ele pergunta, colocando a comida em um prato.

"Cal?" ela pergunta docemente, fazendo Calum para o que estava fazendo. Ele se inclina para ficar no nível dos olhos dela.

"Sim, princesa?" ele pergunta, fazendo meu estômago revirar.

"Você ama o papai?"

"Sim, eu amo. Mas adivinha?"

"O quê?"

"Eu também te amo." ele beija sua testa novamente e se vira para me ver de pé atrás da porta, espiando.

"Awe, papai! Nós estávamos indo te levar café na cama!" April exclama. Calum vem para perto de mim, me puxando para longe da segurança da minha parede e passa os braços em volta de mim. Eu não abraço de volta. Ele beija minha bochecha.

"Bom dia, babe. Está com fome?" ele pergunta casualmente. Eu só olho para ele sem expressão. "Venha, eu fiz bacon!" ele diz brincando, cutucando meu estômago.

"Posso tomar leite com toddy?" April pula para cima. Uma ideia aparece na minha cabeça. Graças a deus por April.

"O-oh, querida, nós estamos sem. P-por quê não vamos comprar algum, enquanto Calum termina o café da manhã?" eu digo rápido. "Calum? Onde estão as chaves?" eu peço o mais casualmente possível, sem fazer contato visual.

"Oh, não está aqui. Desculpe Lukey, havia algo de errado com os freios... levei hoje para a oficina. Sim, pode ser que demore um tempo para concertar." ele sorri para mim, fodidamente sorri.

Minha respiração fica mais rápida enquanto eu começo a entrar em pânico, completamente em pânico... eu não posso controlar isso... eu estou tendo outro ataque de pânico.

Os cantos ao redor da minha visão fica distorcido e vermelho, eu estou tremendo, parece que as mãos de alguém estão apertando minha garganta. Naturalmente, isso só me faz ficar ainda mais desesperado. Calum corre para o meu lado, e April solta um gritinho. Ela nunca tinha me visto ter um ataque de pânico, era algo que eu nunca queria que ela presenciasse.

"Papai!" ela começa a chorar.

"Shh, querida, está tudo bem, ele vai ficar bem." Calum a acalma enquanto ele esfrega minhas costas. "Luke, o que eu faço?" ele sussurra para mim, ele parecia tão preocupado, como se estivesse à beira de lágrimas. Eu só queria afastá-lo de mim o mais forte que pudesse, mas eu não tinha energia. "Tudo bem babe." ele sussurra me puxando para um abraço, me fazendo pirar ainda mais.

Eu estava preso aqui.

Não havia maneira de sair, e mesmo se houvesse, para onde diabos eu iria?

~*~

###TW automutilação

Calum finalmente havia caído no sono, e eu estava ansioso por algo durante todo o dia. A única coisa que poderia levar toda a dor, a única coisa que me faz esquecer. Isso sempre volta, não importa o quê.

Eu rastejo para fora da cama, com cuidado para não acordá-lo e me tranco no banheiro. Eu procuro nos armários por aquilo, finalmente me deparando com um de uma nova marca. Eu rasgo a sua embalagem e removo cuidadosamente para fora. O metal frio me faz tremer enquanto eu caio no chão.

Prendo a respiração, traçando sobre as velhas cicatrizes adormecidas. Passaram anos. O pensamento de fazer isso de novo me fez querer gritar, mas eu sabia que era a única coisa que eu poderia fazer agora para apenas respirar.

Esse costumava ser Michael, ele era a única coisa que poderia me manter sã.

Ele não estava aqui agora.

No início, eu tinha tentado ligar para ele, usando o celular de Calum. Ele não atendeu. Eu me pergunto se ele ainda estava no hospital... se ele estava bem. E se ele não estivesse? Eu saberia, se não fosse por Calum. Essa coisa toda, na verdade, era culpa de Calum. Eu o beijei, eu deixei que ele levasse Michael para longe de mim. Quer dizer, eu ainda não confio nele depois do que ele disse e fez. Mas isso não significa que eu não o amo. Eu preciso dele.

Eu preciso de Michael.

O vermelho se reuniu no meu pulso e transbordou, fazendo uma pequena pequena linha carmesim escorrer pelo meu braço. Eu faço isso de novo, e mais uma vez.

E de novo.

Vermelho cobrindo meu antebraço, vermelho se reunindo em gotas no meu colo, vermelho reunido no azulejo branco na minha frente. Vermelho salpicado contra a parede em pequenos pontos que eu mal podia ver. Vermelho cobrindo minha visão.

Tudo era vermelho.

Vermelho é a raiva profunda que só sai da dor. Vermelho é acreditar, e depois ter dúvidas. Vermelho cheira a vingança, sofrimento e ódio. É a raiva que chora quando você sente como se tivesse quebrado promessas. Vermelho é mais importante que a voz, no fundo da sua cabeça, que lentamente te quebra. Isso zomba silenciosamente de você com uma voz cheia de ódio, "Você não pode fazer isso, você é fraco." Vermelho sente como fogo, chamuscando seu coração através do deserto e do sol, ele está precisando de um amigo, mas não tem nenhum. Vermelho é o coração que foi quebrado em dois, é ouvir essas mentiras e se perguntar se elas são verdadeiras. Vermelho é a única cor que eu posso ver.

Vermelho é tudo o que posso ver, sentir, pensar e me afogar quando ele me toca.

Isso acontece quando ambos fazem, são apenas maneiras diferentes.

Com Michael é paixão, bonito e quente, como fogo.

Mas com Calum é raiva, desespero, errado e medonho, como sangue.

Tudo é vermelho.

Muito vermelho.

~

luke&april defence squad