7. therapist

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Michael.


"Então, Michael." eu me mexo na cadeira de couro duro, "Você quer me dizer o que aconteceu, naquela noite?"

Não.

"Não." eu digo automaticamente.

"Michael", ele suspira: "Como você espera que eu te ajude se você não me dizer o que está errado?"

Eu não espero que você me ajude, seu merda. Nós não precisamos de você.

Eu só dou de ombros, querendo apenas que as vozes parassem de gritar dentro da minha mente, isso está me dando dor de cabeça.

"Apenas me diga o que acontece, Michael." ele bufa.

"Ok." eu digo, me levantando da cadeira de couro desconfortável, "Eu tentei me matar porque eu estava triste, mas eu não estou mais triste, ok? O problema foi resolvido, na verdade, nunca realmente esteve lá. Foi um erro, eu queria voltar no tempo no mesmo momento em que fiz aquilo. Por que você acha que eu chamei a ambulância?" eu digo.

"Michael, você parece muito irritado."

"Meu deus..."

"Sente-se. Me fale sobre isso." ele gesticula de volta à cadeira do inferno.

"Não, eu não estou com raiva de qualquer outra coisa, só de você! Você está me irritando pra inferno! Está tudo bem agora! Podemos apenas deixar por isso mesmo? Eu não quero falar sobre isso, porque você não pode me ajudar. Eu posso ajudar a mim mesmo saindo desse maldito hospital."

"Mas Michael, por quê você está neste hospital em primeiro lugar?"

"Porquê eu tentei me matar, porra!" eu grito, meu rosto ficando vermelho.

"Isso não foi o que você nos disse." ele diz, se inclinando para trás em sua cadeira.

"Nós? Quem são nós?" veneno escorrendo através das minhas palavras.

"As enfermeiras, os médicos, eu. Quando eu te vi pela primeira vez, você estava chorando histericamente, dizendo a todos que as vozes te obrigaram a fazer isso." ele usa um sorriso de satisfação. "Você ouve vozes, Michael?"

"Não, bem, não mais."

Não minta, Michael. Você está surdo agora? Nós ainda estamos aqui. Nós nunca vamos embora.

"Você tem certeza?"

Não.

"Positivo." digo rapidamente. Ele levanta as sobrancelhas e escreve algo em seu bloco de papel amarelo.

Ele sabe que você está mentindo, Michael. Ele acha que você é louco. Basta esperar, ele vai colocar você internado em um manicômio até amanhã.

"Então, quando é que essas vozes começaram?"

"Isso importa? Eu não as escuto mais, então nada disso é necessário." eu dou de ombros, tentando parecer relaxado. Por dentro, eu estava com medo.

"O que você quis dizer com 'elas me obrigaram a fazer isso'? As vocês te dizem para fazer coisas? Coisas que você não quer fazer?" ele questiona, sentando na borda de seu assento. Eu só olho de volta para ele fixamente. "Michael.", ele suspira: "Você precisa se abrir para mim, ou nunca vamos chegar a lugar nenhum."

"Onde nós supostamente vamos chegar?" eu atiro de volta.

"Precisamos encontrar a raiz disso, descobrir porquê você está ouvindo-"

"Ouvia." eu interrompo.

"Sim, ouvia, as vozes em primeiro lugar."

"Eu já sei porquê."

"Você sabe?" ele me olha surpreso. Eu só aceno com a cabeça. Ele me pede para continuar e é minha vez de suspirar.

"É uma longa história." murmuro, não querendo dizer. Eu não o conhecia, eu não confiava nele.

"Temos um monte de tempo, Michael, me conte."

Eu engulo.

Pare de ser tão covarde, Michael. Lhe diga que você traiu seu marido e ele te deixou. Então cheio de culpa e auto-piedade, você tentou se matar.

Isso não foi tudo o que aconteceu... as vozes estão mentindo para mim...

"E-eu pensei que meu marido estava me traindo, com uma menina. Meu amigo me falou sobre isso. Acho que fiquei chateado, eu não acreditei nele. Então, ele me mostrou fotos, fotos deles juntos e se abraçando. Fiquei triste, eu pensei que ele ia me deixar para ficar com ela. Eu fiquei extremamente bêbado com a minha colega de trabalho e dormimos juntos. M-mas eu não me lembro de nada! Não foi minha culpa... ele descobriu. Me deixou. Pensei que ele me odiava, então as vozes começaram. No início, elas eram baixas, como um sussurro no fundo da minha mente. Mas elas aumentaram, ficando cada vez mais altas, até que tomaram meus ouvidos. Me dizendo o quão inútil e repugnante eu era, que Luke nunca vai me amar de novo, que eu deveria apenas me matar e salvar o mundo desse peso. Comecei a me machucar, isso ajudou um pouco, fazia as vozes ficarem mais quietas, mas depois pioraram, pioraram muito. Eu achei que Luke queria se divorciar de mim, então eu fiquei bêbado, e as vozes apenas continuaram a me dizer para fazer isso. Eu fiz para que elas se calassem. Mas eu mudei de ideia, eu não preciso mais morrer. Então eu senti meus braços queimando. Olhei para baixo e vi os cortes, eu ainda não faço ideia de como eles foram aparecer ali. Eu não queria fazer isso, apenas- apenas aconteceu. Eu não quero morrer, eu ainda não quero morrer, então eu chamei a ambulância. Elas eram barulhentas, enquanto eu estava me recuperando, mas depois eu recebi um telefonema de Luke e- e ele me disse que me amava. E eu não as escuto desde então."

Ele me da um bom e longo olhar, seus lábios se contorcem em um sorriso. Não é um quente e bom sorriso. É um sorriso cheio de maldade que fez o meu estômago revirar.

"Você é um mau mentiroso, Michael. Você está ouvindo-as agora mesmo. Divirta-se no hospício."

Meus olhos arregalam e eu ouço a som da porta sendo aberta atrás de mim, me viro para ver quem é. Um homem vestindo um terno chique e carregando uma prancheta entra, sorrindo tristemente para mim.

"Olá Michael, eu sou o Dr. Philips, eu preciso que você venha comigo."

Eu franzo minhas sobrancelhas com suas palavras e olho ao redor. O homem que estava previamente sentado na cadeira de couro, com o bloco de notas de papel amarelo, tinha desaparecido.

"M-mas e o homem?"

"Michael, com quem você estava falando?" ele pergunta.

"E-eu pensei que era o meu terapeuta, mas, ele sumiu." eu digo em descrença. "Ele estava aqui, m-mas agora ele sumiu... onde ele foi?"

"Michael, olhe para cima." o Dr. Philips aponta para uma câmera de segurança no canto. "Vimos tudo, você estava falando consigo mesmo. Não havia ninguém aqui."

"O-o quê? Isso não é possível-"

"Michael, eu preciso que você venha comigo."

Viu, Michael? Você é louco.

VOICES ➸ mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora