O príncipe da lua

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Esmurrei a grossa porta de madeira enquanto meus olhos ardiam e tudo ao redor se convertia em chamas e fumaça. Gritei entre lágrimas e desespero enquanto as paredes queimavam junto com o pouco que havíamos conseguido guardar durante todos esses anos. Cada objeto, por menor e insignificante que pudesse parecer, era valioso a sua maneira. Havíamos lutado muito e estávamos perdendo tudo...

Era minha culpa.

Senti meus joelhos baterem no chão enquanto minhas mãos escorregavam sobre a parede e uma tosse seca arremetia uma e outra vez. Estava sufocando, já não podia respirar.

Foi então que pela segunda vez Ferreiro salvou minha vida.

Essa seria a última.

De certa forma eu o havia matado.

                                                               *☆**☆**☆**☆*

Despertei-me sentindo meu coração martelar no peito como um trovão em meio a uma tempestade enfurecida. Permiti que meus olhos se acomodassem a luz amarelada das velas em forma de lua crescente ao lado da pequena cama onde me encontrava, em cima de um criado mudo adornado com flores e estrelas de maneira. Um móvel peculiar, assim como tudo naquele lugar.

Fiz uma careta de dor quando me movi lentamente e coloquei meus pés sobre o piso gelado. Era como se mil agulhas perfurassem minha cabeça. Cada parte do meu corpo protestava desejando permanecer sobre os lençóis macios como se cada célula que me conformava soubesse que eu provavelmente jamais pudesse deitar em um lugar assim novamente.

Observei as paredes ao meu redor enquanto buscava minhas roupas, desejando livrar-me daquela ridícula camisola de seda que me concedia uma aparência tão vulnerável e inapropriada e me dei conta de que minha bolsa também havia desaparecido, assim como tudo o que havia dentro dela.

Isso era tudo o que eu tinha.

Levantei-me levando instintivamente a mão a cintura e não me surpreendeu sentir que havia um curativo sobre a minha ferida, assim como em todas as demais, recentes ou não.

Caminhei silenciosamente até a grande porta branca de madeira do outro lado do quarto, disposta a encontrar o que me pertencia para logo depois pensar em uma maneira de sair dali.

—Perdão senhor, mas será que o rei enlouqueceu? Como pode confiar na palavra dessa mercenária?

—Não estamos aqui para julgar as decisões do rei Amis...

—Entendo senhor... Mas estamos sendo enviados diretamente para a morte e se o senhor me permite, acho que a Corte poderia conseguir alguém melhor como acompanhante...

—Tenho certeza que meu pai já pensou em todas as opções. Só nos resta confiar que essa tenha sido a correta.

—Em nome da Lua maior eu te suplico Illián! Antes de morrer eu desejaria constituir uma família, ter uma esposa e filhos correndo ao redor de uma pequena casa no campo...

—Você terá meu velho amigo. Nessa ou em outra vida.

—Tão reconfortante...

—Suas preocupações não te permitem pensar Amis... Você não deve temer a batalha, deve estar preparado pra ela e nesse momento nosso tempo está se esgotando.


As vozes foram cessando na medida em que o príncipe e seu acompanhante se afastavam. Abri cuidadosamente a porta observando com atenção o corredor vazio a minha frente, iluminado por tochas de ambos os lados das paredes, mergulhado em uma luz alaranjada desconfortável e solitária.

Noite eterna (Livro 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora