E como quem recebe uma bendição dos Deuses, eu me preparei para a morte. Minhas velhas roupas, feitas de trapos remendados, suor e sangue foram arrojadas sobre as brasas de uma fogueira que crepitava em alguma parte longe de mim.
Vesti a calça justa de couro que parecia ter sido feita sob medida e amarrei o cadarço das botas enquanto escutava uma campana soar e ecoar pelos corredores lá fora.
Havia chegado o momento.
Que surpreendente pode ser a vida depois de tudo.
A noite fria de Quimera me recebeu com o rugir do vento, além das grandes grades do castelo não se podia ver nada além do bruxulear das tochas e da escuridão que abraçava o caminho além dos domínios de Odon.
Acomodei a bolsa nas costas e senti que pesava o dobro. Além das poucas coisas com as quais eu costumava andar, o rei tinha ordenado que me suprissem com um pouco de comida, medicamentos e água.
Eu deveria me sentir agradecida por ainda estar viva depois de tudo e para pagar esse imenso favor que significava ainda respirar depois da grande ofensa que causei ao rei roubando e matando em seus domínios, eu deveria empreender um caminho que ninguém em sã consciência se sentiria afortunado de percorrer.
O vento que rugia com fúria cessou.
As folhas das árvores dançaram com uma brisa leve.
A noite foi invadida por uma paz absoluta, justo como o grito em um guerreiro antes do golpe final.
Illián parou a meu lado. Usava o mesmo traje que os guardas do rei. O prata da roupa dele refletia o brilho da imensa lua maior que pendia eterna no céu de Quimera. Seus olhos frios enfocaram os muros que nos separavam do caminho de trevas que nos esperava lá fora. Levou uma mão a espada que pendia descansando em sua cintura e deu um passo a frente, acompanhado de um temeroso curandeiro jovem demais pra morrer e de uma mercenária cuja dívida pagaria com sua própria vida.
Saímos dos domínios da Corte lua rumo a uma terra sem leis em busca da princesa desaparecida.
Um príncipe cujo destino salvaria nosso mundo.
Um curandeiro que se converteria em homem.
Uma mercenária cujo caminho estava traçado sem importar o quanto lutasse.
*☆**☆**☆**☆*
Havíamos cavalgado durante horas, cortando a noite pelo estreito caminho que se abria passo entre as árvores na densa floresta que nos levava direto ao norte.
Illián ia à frente, iluminado pela luz pálida da lua como se atraísse seu resplendor. O silêncio que nos envolvia era quase palpável. Suponho que nossos pensamentos representavam nossas próprias batalhas. Dentro de cada um algo rugia como a fúria de um mar tempestuoso, ainda que nossos lábios calassem, ainda que nossa postura não nos delatasse.
—Então você é a famosa filha de Iris? —Encarou-me com indiferença, como se tivesse falando com o tronco de uma árvore morta.
Ignorei seus olhos grandes e amendoados e acomodei a bolsa nas costas, deixando que o ritmo da cavalgada e sua lentidão me concedessem a tranqüilidade que meu interior insistia em recusar.
—Reconheço que esperava mais da filha da magia negra... Você é bastante... Simplória.
Seus olhos me escrutaram e o curandeiro do príncipe sorriu com desdém.
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Noite eterna (Livro 1)
FantasyPlágio é crime. Todos os meus livros estão registrados na Dirección nacional del derecho de autor em Buenos Aires. Expediente: 5298019 Noite Eterna será, em breve, publicado pela Editora Skull!!!! Para mais informações, IG @taylopesl 💜🌑📝 Você pr...