NADA DISSO PARECE REAL. Uma nave gigante está sobre Manhattan. Ela apareceu do nada. Uma droga de nave. Eu tentei vê-la por mim mesma, mas as únicas janelas do nosso apartamento me mostram apenas os outros prédios da vizinhança, então tudo o que eu consigo ver quando olho são tijolos e vidros sujos e o pequeno beco abaixo de nós. Mas está tudo na TV. Estamos sentados, vidrados na tela. Benny fica cruzando as mãos e sussurrando orações que eu nem imaginava que ele sabia. Ele tem um taco de baseball no colo e não e mexeu por uma hora. Talvez mais. Eu passo meu tempo me mexendo para lá e para cá no sofá ou andando pela sala de estar, constantemente checando meu celular e também o de Benny, para ver se algum deles captam algum sinal. Não conversamos entre nós salvo quando ouvimos grupos de pessoas correndo pelos telhados. Eu começo indo em direção à porta, mas Benny diz "fique aqui" de uma forma que me faz sentar novamente no sofá.
LEGADOS RENASCIDOS Além disso, eu fico esperando a porta se escancarar e minha mãe aparecer. Eu não quero estar no telhado quando isso acontecer. O que quer que isso seja, não está acontecendo apenas aqui em Nova York, mas em cidades ao redor do mundo. Alguns estão chamando de invasão. Outros de guerra. Nada disso faz sentido. É impossível fazer a minha cabeça entender. Esses alienígenas estranhos com armas a laser continuam aparecendo na TV só podem ser imagens feitas por computador. Ou isso é apenas algum tipo de marketing para um filme ou coisa do tipo. Eu me lembro de aprender na escola sobre uma velha transmissão de rádio em 1930 que era sobre invasão alienígena. As pessoas pensaram que era real, mas acabou por ser uma farsa. Isso tem que ser uma farsa, certo? Ou pelo menos, é nisso que eu fico tentando acreditar. Se isso for uma piada, é a melhor e mais cara piada da história. Os noticiários continuam mostrando imagens feitas por celulares e tablets - acho que algumas pessoas estão tendo a sorte de ter sinal. A maioria tem imagens tremidas ou borradas. Algumas com maior qualidade. Alguns canais começam a mostrar um vídeo retirado do YouTube. É de uma garota que deixou um recado como num anúncio público e fala sobre o garoto loiro que eu vi lutando na TV mais cedo - aparentemente seu nome é John Smith - e como ele é um bom alienígena. E que um bando de alienígenas malvados estão aqui para conquistar a Terra. Essa é a porcaria mais louca que já vi. Toda vez que o portão bate, eu fico agitada e olho para a porta, esperando que seja minha mãe. Mas nunca é. Na décima segunda vez que ouço, o barulho do metal é seguido por um som de algum cara gritando. - Caramba! Droga! Eles estão aqui! - o eco do seu choro sobe as escadas pelo prédio. - Eles estão no quarteirão! Eles estão no quarteirão!
Eu reconheço a voz como sendo a do homem de idade que senta na nossa varanda e algumas vezes conversa com os pássaros. Eu me viro para Benny, mas ele apenas estala a língua e move um pouco a cabeça. - O garoto está perdendo - ele diz, sem tirar os olhos da TV. - Esses monstros pálidos não vão se incomodar com Harlem. Estamos seguros aqui. Ele aumenta o volume da TV. O canal que estamos assistindo está transmitindo ao vivo do centro, onde a maioria dos policiais de NY estão - parece que os alienígenas estão concentrados lá. Benny se inclina para frente na sua poltrona, murmurando algo que não ouço. Alguns alarmes são disparados no quarteirão. Embora ele esteja convencido de que os alienígenas não vão vir para Harlem, eu me levanto e vou na ponta do pé até a porta da frente, abrindo-a um pouco para que eu possa espiar o pequeno hall de entrada. Mas não há nada lá - apenas duas portas dos outros apartamentos e a luz com mal contato que deveria ter sido trocada há meses. Atrás de mim uma repórter fala. - Os... os... os Mogadorianos - ela diz, e eu repito a palavra na minha mente. - Eles tomaram as ruas em massa e parecem estar, ah, fazendo prisioneiros, embora temos visto algumas coisas mais violentas à... à... menor provocação... Prisioneiros? - Jesus Cristo - Benny diz. Eu continuo olhando para fora, tentando captar algo fora do comum. Há um barulho muito alto lá em baixo e o som do metal se torcendo, como se o portão fosse partido ao meio ou coisa assim. Eu me afasto para trás na porta, gritando um pouquinho, e comecei a entrar em pânico.
- São eles! - eu digo, mais alto do que pretendia. Meu coração de repente está a mil por hora enquanto eu olho em volta procurando por uma arma. - Cale a boca! - Benny diz, pulando de sua poltrona e colocando a TV no mudo. Estou tão assustada que nem me irrito com as ordens dele. Quando ele vê meu rosto, sua expressão fica mais branda e ele abaixa o tom de voz para um sussurro. - Quis dizer para não fazer barulho. Droga. Há gritos em algum lugar lá em baixo. Alto e aterrorizante. Prendo a respiração enquanto dou cinco passos para longe da porta e vou para perto de Benny. Há outro grito, e esse foi interrompido de repente. Eu começo a tremer. Minha respiração volta em suspiros. Benny segura meus ombros e me puxa para trás. Por um segundo eu penso que ele está apenas me puxando para longe da porta. Então eu percebo que ele está tentando me por atrás dele. - Vá se esconder - ele diz, me soltando. Eu me viro para ele. Há algo em seus olhos que eu nunca havia visto antes. Medo. - Vá logo - ele diz. Eu começo a pensar em alguns lugares que eu poderia me esconder no nosso apartamento - de baixo da minha cama, no closet - e de repente eu me sinto como se tivesse cinco anos de idade brincando de esconde-esconde. Mas essas aberrações alienígenas definitivamente não estão. Nosso apartamento é tão pequeno. Se eles quiserem me encontrar, eles irão. Os gritos estão ficando mais alto, mais perto. Eles estão subindo. Eu posso ouvi-los arrombando as portas agora, junto com sons eletrônicos como os que eu ouvi na TV - o som de suas armas. Que diabos está acontecendo?
Há gritos do lado de fora do nosso apartamento agora. Berros e ordens para abrir as portas. Eu congelo em nossa sala de estar. Benny segura o taco de baseball e anda devagar em direção da porta, quase na ponta dos pés. Ele se encosta na parede ao lado vão de entrada e segura o taco como se fosse um martelo. Ele olha para mim, e seu rosto se conforta numa expressão que estou mais familiarizada: raiva. - Acorde, idiota - ele diz. - Vai! Ele gesticula para a janela do outro lado da sala de estar, onde as cortinas brancas transparentes que mamãe ama estão ondulando para fora com a leve brisa. A escada de incêndio. Ele quer que eu fuja por ela. Eu ouço e corro, e então estou na metade do andar de baixo quando eu percebo que Benny ficou para trás para afastar os alienígenas e me dar uma chance para escapar. Ele deveria estar vindo comigo. O que minha mãe diria se ela descobrisse que eu simplesmente o deixei para trás? Oh Deus, espero que ela esteja segura. Então eu subo e estico minha cabeça até a janela da nossa sala de estar a tempo de ver nossa porta da frente voar para dentro. Qualquer esperança desses caras serem atores com uma maquiagem realmente muito boa desaparece quando quatro dos monstros pisoteiam através da porta, todos com pele pálida, dentes afiados e narizes grandes. Não há dúvidas de que essas coisas são de outro planeta. E eles não parecem nada felizes. Um deles me vê através da janela, seus olhos negros se estreitando. Eu me abaixo, esperando que nenhum deles tenha me visto. - Se renda ou morrerá - um deles diz com uma voz ríspida e grossa. Benny sai de onde estava e gira o taco como um profissional, acertando a cabeça do alienígena. O bastardo cai com força no chão, e então se desintegra. Simplesmente se transformou em cinzas como se ele fosse um vampiro fodão que foi empalado ou coisa do tipo.
Mas essa foi a única tacada que Benny realizou. Um dos alienígenas - Mogadorianos - atira com uma arma a laser contra ele, e Benny voa para trás por alguns metros antes de se chocar contra a mesinha de centro. Ele começa a convulsar no chão. Eu coloco minha mão sobre minha boca. Quando Benny começa a retomar o controle de seu corpo, ele olha para a janela. Nós trocamos olhares por alguns momentos. Os meus olhos estão arregalados, assustados. Os deles estão implorando. - Corra! - ele grita e me parece que fazer isso causa um bocado de dor nele. Sangue escorre de seus ouvidos e nariz. - Corra, droga! E então eu corro. Enquanto eu desço correndo pelos degraus de metal, eu ouço mais daquele som elétrico vindo do meu apartamento. Benny grita algumas vezes. E então tudo fica em silêncio. Eu paro na extremidade do fim da escada de incêndio. Eu só quero ouvir Benny xingando os alienígenas ou o som de seu taco acertando a cabeça de mais alguém. Em vez disso, eu olho para cima e vejo um dos bastardos alienígenas pálidos saindo da janela de estar do meu apartamento. Ele está com sua arma apontada para mim. - Merd-! - eu exclamo, mas não consigo terminar a frase. Ele atira e eu apenas tenho tempo para sair da escada de incêndio. Eu preferir cair no chão do que ser atingida pelo tiro da arma de um alienígena. O tiro elétrico deve ter passado raspando em mim, pois enquanto eu caio eu consigo sentir algum tipo de estática através do meu corpo. Mas então não há nada além do vento enquanto ainda estou no ar, caindo em direção ao chão abaixo. Eu caio dentro de uma lixeira aberta - salva pelo lixo. Eu saio de dentro da lixeira e sigo tropeçando pelo beco que há entre nosso prédio e o do lado, tentando captar algum sentido do caos que há ao meu redor. Eu pauso na esquina e espio em direção à rua do meu bairro. Alguns carros foram virados ao contrário. Alarmes estão sendo
disparados em todos os lugares. Uma das naves extraterrestres que eu vi na TV está estacionada no meio de um cruzamento no final do quarteirão. Do outro lado da rua, meia dúzia de alienígenas estão liderando uma fila de pessoas que saem dos prédios. Pessoas que eu reconheço do meu bairro. Homens, mulheres e crianças. Eles são forçados a ficarem de joelhos com suas mãos para cima na calçada. Os Mogadorianos seguem atingindo-os com os cabos de suas armas. Eu quero ajuda-los, quero fazer alguma coisa para salvá-los, mas eu não consigo nem me mover. Mal estou conseguindo respirar. Estou tão assustada, e tenho que engolir com força a vontade de vomitar. Eu sinto como se meu coração estivesse tentando sair através do meu peito. É assim que Lágrimas enchem os cantos dos meus olhos, mas não tenho certeza se elas são por mim, pela minha mãe ou até mesmo por Benny. É só então que eu me dou conta de que ele é única razão por eu ter conseguido escapar. Ele distraiu os alienígenas, tentou impedi-los para que não chegassem até mim. Ele não precisava ter feito o que fez. Droga, ele poderia ter fugido comigo. Mas ele não fugiu. Ele me disse para correr enquanto ficava para trás. Meu padrasto estúpido me protegeu e acabou morto por isso. Por um segundo, há uma gota de culpa em minha garganta por cada coisa ruim que eu já disse sobre Benny. Mas então eu ouço um rangido vindo do beco: um daqueles bastardos está começando a descer a escada de incêndio, talvez vindo atrás de mim. Então eu sussurro um pedido de desculpas para Benny e para meus vizinhos que estão na calçada, e sigo para tentar me salvar. Minhas pernas começam a se mover, a correr. Eu sigo para longe da nave e das pessoas que estão em linha nas ruas e vou em direção ao parque.
Se eu conseguir atravessá-lo, talvez eu consiga alcançar o metrô. Talvez os trens ainda estão funcionando e eu posso chegar a centro para encontrar minha mãe. Eu sigo devagar e uso os carros que estão nas laterais da rua como cobertura. Eu passo por vários outros prédios residenciais e pelo hidrante de incêndio que eu costumava a usar para brincar nos verões quando eu era criança. Água jorra do hidrante, agora quebrado, sobre um corpo que está caído na calçada. Um corpo que não está se movendo. Eu tento não olhar para ele enquanto eu passo pela rua e viro a esquina, onde dou de cara com três alienígenas que estão de costas para mim. Eu fico tão surpresa que acabo tropeçando no meu próprio pé, caindo com força no chão. Forte o bastante para eu não conseguir evitar um grito. Eles se viram. O que está mais perto de mim tem tatuagens negras por toda a sua cabeça. Ele solta um som que se parece com o som de uma lixa. Demora algum tempo para eu perceber que ele está rindo de mim. Estou ferrada. Eu tento levantar e correr, mas os três são mais rápidos. Eles apontam suas armas para mim, e eu sei que não importa o quão rápido eu consiga me mover, eu não vou conseguir escapar. Eles irão atirar em mim se eu correr. - Se renda ou morrerá - o Mogadoriano diz. Eu olho ao redor, mas não há ninguém para me ajudar. Eu mal posso ver as pessoas que estavam no meu quarteirão de onde estou agora. Eu acho que todos fomos cercados, ou estão todos escondidos, ou... Meus olhos recaem sobre o corpo imóvel perto do hidrante. Esses alienígenas vão me matar na droga do meu próprio bairro. O que está mais perto de mim range seus dentes pontiagudos e cinzentos no que eu talvez possa considerar como sendo um sorriso em Marte ou qualquer que seja o inferno do qual eles vieram. Seus dedos estão no gatilho.
Há um zunido em meu peito. Eu mal posso suportar. Eu sinto como se alguém tivesse explodido uma bexiga dentro de mim, a dor é tanta que eu tenho certeza que estou prestes a explodir. Meu coração acelera. Esse é o fim. Mãe, me desculpe. Eu jogo minhas mãos para frente para me proteger. Como se isso fosse fazer alguma coisa para me proteger. E então o impossível acontece.
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Os Arquivos Perdidos #13 (Legados Renacidos)
Teen FictionA invasão mogadoriana a Terra já começou e a vida de uma adolescente mudará para sempre. No inicio, Daniela Morales pensou que a nave espacial que atacou Nova York na televisão era apenas parte de algum filme de ficção científica. Então a terrível v...