Capítulo 03

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AS ARMAS DOS ALIENÍGENAS VOAM DE SUAS MÃOS ATRAVÉS do ar, caindo no chão da rua no fim do quarteirão. Que diabos...? Alguma coisa está diferente. Alguma coisa dentro de mim mudou. O zunido mudou. Agora eu posso senti-lo em minhas veias. Eu me sinto poderosa. Eu me sinto elétrica, e por um segundo eu me pergunto se eu realmente fui atingida pelo tiro de uma daquelas armas. Mas isso não pode ser verdade. Eu me sinto bem viva. Que diabos está acontecendo? Eu mal sei como começar a responder essa pergunta. Os alienígenas idiotas parecem tão confusos quanto eu - e estão muito irritados. O que tem tatuagens rosna e vem em minha direção. Eu empurro minha mão na minha frente, esperando pará-lo. Seu corpo voa pelo ar, se chocando contra o para-brisa de um táxi abandonado que está em chamas a alguns prédios de distância de nós.
Eu olho para minhas mãos, e em seguida para os dois Mogadorianos remanescentes. Eles dão alguns passos para trás. Eles estão com medo de mim. Apesar de tudo que aconteceu, eu não consigo evitar um sorriso. - Quem está rindo agora - eu pergunto enquanto me levanto. - Garde - um dos alienígenas diz. Eu não sei o que isso significa, e eu não me importo. Eu me sinto como uma marionetista, como se tudo tivesse cordas invisíveis e eu pudesse puxá-las e empurrá-las. Eu levanto minhas mãos para cima e o alienígena à esquerda é levado para o alto. Ele deixa escapar um pequeno rosnado. Eu não tenho ideia do que está acontecendo comigo. Tudo o que eu sei é que esses monstros atacaram minha cidade. Meu bairro. Minha família. Eu estreito meus olhos e trago minha mão para baixo. O Mogadoriano que está flutuando se choca contra seu amigo que está no chão. E então eu o levanto para o alto de novo e trago para baixo mais uma vez, martelando-o, de novo e de novo, até ambos se tornarem dois montinhos de cinzas. Minhas mãos tremem. Eu os encaro em descrença, mas eu não tenho tempo para tentar entender isso. Mais Mogadorianos aparecem na rua a alguns quarteirões de distância, atirando em um grupo de pessoas que correm atrás deles. Os humanos têm suas próprias armas. Eles estão indo para cima dos invasores com armas, facas, tacos de hóquei e baseball - e são liderados por alguns caras da polícia. Alguém joga alguma coisa que está esfumaçando; há o som de vidro quebrando, e então um dos alienígenas pega fogo. As pessoas estão revidando. Eu me pergunto se eu deveria ficar e tentar proteger a minha vizinhança, mas a única coisa no mundo que eu consigo me preocupar
em pensar agora é chegar até minha mãe. E então eu começo a correr, dessa vez com menos medo, cheia dessa energia que está fluindo dentro de mim. Parece que meu cérebro está soltando faíscas, e tudo o que eu consigo pensar é se isso é real - se eu realmente ganhei superpoderes - e então eu ainda posso ter esperanças de que ela está bem. Que iremos estar reunidas em breve. Que não é impossível. Nada é impossível. O parque Morningside está escuro. Normalmente não é o lugar que eu escolheria para andar à noite, mas eu não hesito em adentrar. Tudo o que eu tenho que fazer é subir alguns lances de escada e atravessar algumas ruas e então eu estarei na mesma estação que eu me despedi de minha mãe há algumas horas atrás. Assim que eu entro de fato no parque, entretanto, eu começo a repensar minha rota. Parece que todos os arbustos estão se mexendo, e eu posso ouvir sussurros no ar ao meu redor. Eu cerro minhas mãos e continuo andando. Estou quase nas escadas quando de repente há uma luz em meu rosto e alguém puxando a parte de trás da minha camisa. Minhas mãos se levantam e eu estou pronta para transformar em cinzas mais alguns desses bastardos pálidos, quando eu ouço alguém dizer: - Vai com calma, é só uma criança. - Quem está aí? - eu pergunto, não abaixando minha guarda. A luz diminui, e depois de piscar por algumas vezes eu percebo que ela veio de um pequeno grupo de pessoas. Talvez quinze. E então a luz apaga. - Desculpe - a pessoa com a lanterna diz. - Pensamos que você poderia ser um deles. - Eu pareço como um deles? - eu pergunto. Enquanto meus olhos se ajustam, eu começo a enxergar o garoto segurando a lanterna. Ele é apenas alguns anos mais velho que eu, se for, e ele não consegue ficar parado, seus olhos e sua cabeça virando para todos os lados do parque.
- Eu preciso ir - eu digo, começando a subir as escadas novamente. O garoto segura meu braço. - A coisa está feia lá pra cima - ele diz. - Eles estão por toda parte. - A coisa está feia aqui embaixo - alguém do grupo diz. - Não estou com medo - eu digo, me libertando dele. - Eles invadiram nosso prédio - o garoto diz. - Meus pais e alguns outros moradores tentaram impedi-los na frente enquanto todos nós saíamos pelos fundos. Eu não sei... Ele não consegue terminar. Eu olho para o resto do grupo. É só então que eu percebo que a maioria deles ou é tão jovem ou tão velho. São pessoas que não teriam chance nenhuma contra os Mogadorianos. - Estaremos seguros aqui - uma garotinha diz. - Até a ajuda chegar. Eu me pergunto se isso me inclui. Se eu sou a ajuda. Antes que eu possa responder essa pergunta, alguém acende outra luz em mim. Em todos nós. Dessa vez vem do céu, vinda de uma daquelas drogas de naves espaciais. Silhuetas pretas pulam de dentro - mais alienígenas. - Corram! - alguém grita. E então corremos. Nós tropeçamos nas escadas. Atrás de mim eu posso ouvir os ruídos elétricos das armas deles. Um homem mais velho é atingido e cai. O garoto da lanterna o segura, e começa a arrastá-lo. Nós continuamos. Corremos tão rápido quando começamos a subir as escadas que quando vejo estamos quase no topo dos degraus sem fim enquanto eles nos alcançam. - Vão! Vão! - eu grito, mas não há como nos movermos mais rápido. Não esse grupo. Então eu tento comprar um pouco de tempo para eles escaparem. Eu mudo minha atenção para os Mogadorianos.
Eles estão a alguns metros atrás de mim, suas botas fazendo barulho enquanto eles pisam no chão de pedra. - O que você está fazendo? - o garoto da lanterna grita para mim. - Salvando vocês! - eu grito de volta. Ou me matando. - Oi, otários! - eu cerro o punho. - Vocês nunca deveriam ter mexido com Harlem! Eles levantam suas armas, porém eu sou mais rápida. Eu empurro minhas mãos para frente. Os alienígenas voam para trás. Um deles cai perto da lagoa. Uma dupla deles cai pela escada. Eles devem ter ossos, porque posso ouvi-los quebrando. Um deles se desintegra no meio das escadas, o outro some apenas no fim dela, quando ele cai, batendo a cabeça com força. Mas eu não acabei com todos eles. Um grandão deles de alguma forma conseguiu escapar da minha mágica Jedi e está vindo na minha direção, seu canhão apontado e pronto para disparar. Eu levanto minhas mãos e cerro meus punhos. O alienígena para, levitado do chão por uma mão invisível gigante. - Toma aí bonitão! - eu digo. - Que vai fazê agora?! Ele se contorce com minha pegada, dizendo coisas num idioma que eu nunca ouvi antes - embora seja bem óbvio que ele está me xingando. Por alguma razão eu penso nas orações silenciosas de Benny enquanto assistíamos o noticiário. E então penso em minha mãe, que deve estar bem e me esperando no restaurante. Ela tem que estar bem. - Esse planeta já foi conquistado - ele diz em português. Eu não sei se ele tem um sotaque estranho, ou se sua voz normalmente soa como se alguém estivesse tentando fazer alguma coisa num liquidificador. - Vocês não podem vencer. Seu povo irá se curvar diante de nós quando- Eu lanço minha mão para minha esquerda. O alienígena voa, se chocando contra a parede lateral da escadaria. Ele se desintegra em cinzas antes mesmo do seu corpo atingir o chão. É só então que eu percebo que o silencio caiu atrás de mim. Eu viro para trás, e encontro uma dúzia de olhos me encarando. Alguns deles estão acima de bocas abertas, outros estão cheios de medo. - Uh... - eu não tenho ideia do que dizer. - Você - o garoto da lanterna diz. - Você é como o cara dos vídeos. John Smith. - Oh, não - eu digo. - Não estou com ele. - Você é tipo, uma alienígena do bem? - alguém pergunta. - O quê? Eu moro na rua 120. Todo mundo começa a sussurrar. Os murmúrios rapidamente se tornam mais altos, até todo mundo estar tentando falar comigo, me agradecendo ou perguntando o que mais eu consigo fazer, ou me dizendo para voltar para meu próprio planeta. - E agora? - a garotinha pergunta. Seus olhos estão cheios de lágrimas. Há uma explosão em algum lugar próximo, vinda da direção de onde meu apartamento fica. Ou talvez, ficava. Os passos fazem barulho sob nossos pés. Eu não sei o que dizer para essas pessoas fazerem, mas minha missão é clara. Eu tenho que ir para o centro. E se mais algum desses estúpidos caras-de-tubarão entrarem no meu caminho, eu vou destruí-los, deixando montanhas de cinzas por onde eu passar.

Os Arquivos Perdidos #13 (Legados Renacidos)Onde histórias criam vida. Descubra agora