Capítulo 09

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ACABO DESCOBRINDO QUE SAM NÃO É UM ALIENÍGENA. John Smith por outro lado... é outra história. - Então... - eu digo, tentando entender tudo o que Sam me contou. - Ele de fato é um alienígena do bem. - Eu acabei de lhe contar tudo o que sei sobre ele - Sam diz. - Se você não está convencida agora de que ele não foi infectado pelo lado negro da força, acho que nunca vai estar. - Por que vocês não contaram isso a todos antes? Por que não gravaram uma nota explicativa, talvez? Fizessem tipo, um protesto ou coisa assim. Sam se vira para mim, semicerrando os olhos. - Você realmente acha que um protesto teria impedido eles? - Não, mas pelo menos estaríamos mais preparados para essa merda toda. Nós poderíamos ter atacado eles com bombas nucleares no espaço ou algo do tipo. Ele balança a cabeça. - Você estava ouvindo quando eu disse que o governo faz parte disso, certo? - Merda - eu sussurro. - Acho que você ganhou. Estamos a alguns vagões de distância de onde deixamos John Smith dormindo como uma pedra. Benny costumava desmaiar assim às vezes - embora fosse por conta da bebida - e ficava completamente imóvel até de manhã. Estou achando que John não vai levantar tão cedo também. Ele está tão cansado quanto eu. Eu não posso dizer que culpo ele. Eu carrego sob meu ombro uma imitação de uma bolsa Prada. Sam carrega uma que diz "Música É Minha Mochila" na lateral. Fazer a limpa foi ideia do Sam. Ele disse que era para o caso de termos que sair rapidamente do trem e não tivéssemos tempo para saquear depois, mas eu acho que ele só estava com fome - o que, depois de ter lutado o dia todo e passado a noite correndo, eu entendo totalmente. Para nossa sorte, o que quer que tenha acontecido nesse trem fez com que muitas pessoas deixassem seus pertences para trás. Eu já encontrei algumas barras de cereais, alguns pacotinhos de biscoitos e até algumas garrafas de água. Sem mencionar os celulares - o que é ótimo, porque minha bateria já acabou. Não tive a sorte de encontrar um carregador ainda. Não que eu teria sinal ou algo do tipo aqui embaixo, mesmo se a internet estivesse funcionando. - Você está indo para a Wall Street, certo? - Sam pergunta. Ele está de joelhos tentando pegar uma sacola de plástico que está embaixo de um dos assentos. - Sim - eu digo. - É onde minha mãe trabalha. Ela é garçonete. Algumas vezes trabalha no bar. O restaurante é bem legal. Cheio de bancários ricos. - Que legal. - Sim, eu acho. Ele se levante e olha para mim com uma expressão séria. - Você tem alguma ideia...?
Ele não termina, mas eu entendi o que ele queria dizer. - Ela me ligou quando tudo isso começou - eu digo. - Me disse para ir para casa. Então teve um tipo de... - eu luto com a palavra. - Barulho alto. Uma explosão, talvez. Não tenho certeza. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Não percebi o que era até eu chegar em casa e ver o seu garoto John no noticiário lutando contra um alienígena grandão. Citrus Ramen ou o que quer que seja. - Setrákus Ra. - Ou o que quer que seja - eu repito. - Enfim, eu não tenho notícias nem nada desde então. Tenho certeza de que ela está bem. Ela é forte. Bem, não totalmente. Ela é a pessoa mais legal e amável do mundo. Porém é uma sobrevivente. Parece que Sam quer dizer alguma coisa, mas eu estou tão cansada fisicamente e psicologicamente e emocionalmente que ele apenas levanta uma das mãos e continua andando. Se continuarmos falando sobre isso, eu vou desmoronar. - Daniela - ele começa. - Aqui, nerd - eu digo, segurando uma barra de granola que eu acabei de encontrar no chão, interrompendo-o. Ele olha para a barra por um momento. - Espere. Por que eu sou um nerd? Por que todo mundo presume isso? Eu dou de ombros. - Apenas um palpite. Você exala a vibe dos nerds. Parece que ele vai protestar, mas não. Em vez disso, ele pega um lanche. - Você não gosta desses? - Não - eu minto. Eu me espreguiço e bocejo. Sam também, como se isso fosse contagioso. Estou tão exausta que estou me perguntando se eu poderia usar meu novo poder recém descoberto para me flutuar de volta para o vagão onde John se encontra. - Deveríamos voltar - Sam diz. - Dormir um pouco. Não seremos bons se nossa energia estiver zerada. - Eu não posso acreditar que estou prestes a dormir num vagão do metrô - eu me pergunto o que minha mãe iria dizer. - Há uma outra metade inteira do trem que ainda não exploramos. Podemos dar uma olhada de manhã. Então podemos subir para as ruas e ver... Ele não termina. Eu não pergunto sobre o que ele estava pensando. Eu tenho muitas perguntas pairando na minha mente. Muitas imagens do que pode estar acontecendo na superfície. Eu mexo minha cabeça. Nós começamos a voltar por onde viemos. - Você está na NU mais cedo? - eu pergunto. - Sim. Foi doideira. - Por que eu não vi você lutando? - Ei, eu estava fazendo o meu melhor - ele diz. - Além disso, eu não tinha meu Legado ainda. E eu não tenho treinado muito com armas exatamente. - Legado? - eu pergunto. - John usou essa palavra quando estávamos na rua. É assim que chamam a telecinese e as mãos-lanternas dele? - Exato. Eu mordo meus lábios. - É uma palavra boba. Espere - ah, droga - alguém teve que morrer para eu ganhar isso? Eu herdei, tipo, poderes da alma de um alienígena? Isso ferraria tudo. - Hum, eu acho que não - Sam diz. - Quero dizer. Eu acho que eles são heranças dos Anciãos que eu mencionei mais cedo sobre o John e os Lorienos, mas pelo que sabemos... - ele dá de ombros.
- Então você não tem ideia do motivo por termos sido escolhidos? - eu pergunto enquanto passamos pela abertura entre dois vagões. - O que temos de tão especial? Ele balança a cabeça, e eu posso dizer que ele faz a mesma pergunta em seus pensamentos. - Cara - ele diz. - Eu me perguntei isso o dia todo. Honestamente, até encontramos você, eu pensei que era o único - seu tom de voz diminui um pouco. - Eu pensei que talvez eu estivesse sendo recompensado por estar ajudando os Lorienos. - Bem, eu tenho certeza absoluta que eu não fui recompensada por nada, a menos que isso seja algum tipo de recompensa esquisita por finalmente ter tirado notas altas na escola - eu penso nisso por alguns segundos. - Acho que isso não importa mais. Harlem, a lanchonete e meu apartamento parecem tão distantes. Eu estava mesmo surtando por causa de fones de ouvido hoje cedo? - Qualquer que seja o motivo, eu vou usá-los - Sam assente enquanto fala, como se ele estivesse me dizendo a coisa mais importante do mundo. - Agora eu posso finalmente ajudar os outros. Eu não ficarei preso no banco de reservas. Eu posso proteger meus amigos. Eu posso proteger o planeta. - Certo - eu digo. O discurso que John fez mais cedo volta à minha mente. Sobre como eu deveria usar esses poderes para ajudá-lo a vencer uma guerra. Sam obviamente já se juntou à causa. - Talvez você seja o próximo a estar lutando contra alienígenas na TV. Ele sorri um pouco. - Talvez. Eu nunca vou me parecer com John enquanto estiver lutando. Ele é um herói - ele parece tão genuíno quando diz isso. Há um certo respeito em seu tom de voz. Me faz perguntar. - Vocês dois... tem tipo... alguma coisa?
Sam parece confuso por alguns segundos. De repente ele entende o que estou perguntando. - Nós... - ele hesita. - Melhores amigos eu acho? Nós dois temos... - ele pausa novamente. - .... garotas - ele finalmente diz, um pouco envergonhado. Eu o encaro por alguns segundos. Então dou de ombros. - Porque é completamente normal se tiverem. - Não temos coisa alguma. - Eu sei. Vocês dois têm... - eu pauso dramaticamente. - Garotas? Sam rola os olhos e pula para o vagão onde deixamos John dormindo. Ele ainda está desmaiado, roncando um pouco. - É uma situação complicada. A namorada dele está com o ex-namorado dela agora tentando expor os Mogs. Foram eles que fizeram o vídeo que você viu. Eles encontraram algum hacker misterioso que está ajudando eles a descriptografar informações governamentais que são confidenciais. E minha... a garota que eu estive... ah cara, eu não tenho certeza do que Seis está fazendo agora. Ela está no México procurando por algum Santuário Lórico. - O nome da sua namorada é Seis? - eu pergunto. - Estranho. Sam olha para mim. - É isso que você acha estranho em tudo o que está acontecendo? Eu dou de ombros, e então bocejo novamente. - Eu sei - Sam diz com um sorriso. - Guerras espaciais intergalácticas e o destino do mundo é tão entediante. - Calado - eu digo, tentando não bocejar mais uma vez. - Com tantos túneis, eu duvido que alguém vai descer aqui para nos procurar, mas nós provavelmente deveríamos dormir em turnos, apenas para prevenção - ele diz. - Eu fico com o primeiro turno e acordo você quando eu estiver caindo de sono.
- Tudo bem. Você tem certeza que não vai desmaiar imediatamente após eu dormir? - Você está brincando? Eu tenho barras de granola e... - ele tira outra coisa da sacola. - Alguém deixou basicamente toda a loja de gibis aqui em baixo. - Claro. Nerd. Ele quase que sorri, então sua expressão fica triste. - Ei - ele diz. - Eu espero que sua mãe esteja bem. Meu pai... ele ficou desaparecido por muito tempo. Houve dias que eu pensei que nunca o veria novamente. Logicamente eu continuei a vida, mas nunca perdi a esperança. Eventualmente nos encontramos novamente. Eu não estou dizendo que é a mesma coisa, óbvio. Mas você tem que continuar lutando e acreditando. Você tem que honrar a pessoa que não está presente através de suas ações - ele balança a cabeça. - Desculpe, estou muito cansado. Acho que não estou falando coisas com nexo agora. - Obrigado - eu murmuro. - De verdade. Eu pego a falsa bolsa Prada e faço como travesseiro em um dos bancos, virando de costas para Sam e John, meu rosto quase tocando a parte de trás do banco do vagão de metrô. Estou tão cansada que nem me importo do quão nojento é dormir aqui. Em vez disso, agora que tudo está finalmente em silêncio e eu não estou correndo ou caçando lanches e eletrônicos deixados para trás, tudo o que eu consigo fazer é pensar nela. A incerteza. As palavras de Sam se repetem na minha cabeça. As lágrimas começam a escorrer, silenciosas e caindo no banco à minha frente. Elas levam consigo minha última gota de energia, e antes que eu perceba, estou dormindo.

Os Arquivos Perdidos #13 (Legados Renacidos)Onde histórias criam vida. Descubra agora