Angely
-Claro, eu começo semana que vem, Doutor. - Angely diz, no final da consulta.
O Beto, o marido dela, pega sua mão, enquanto a mulher segura as lágrimas nos olhos. Angely se levanta, consegue sorrir para o médico, desejando-lhe um bom dia, e sai com o companheiro.
O que ela menos esperava, um câncer no cérebro.
Beto, querendo parecer mais forte do que é, envolveu a esposa nos braços, de modo que ela não pode enxergar as lágrimas que lhe escorriam pelos olhos.
Sua família estava toda do lado de fora, inclusive o irmão mais novo, Vincent, que, com apenas 13 anos descobriu que a irmã tinha câncer, caindo em lágrimas ao ver a expressão do cunhado. A sua prima, Carla, ficara com o filho de Angely, de apenas dois anos, para que o resto da família pudesse ir a consulta.
Emma, nunca foi muito forte, ao contrário da filha e do marido. Sempre apoiou Angely,esmo na sua escolha de professora à médica. A mulher, com seus 35 anos, sempre preferiu crianças à agulhas.
Enquanto era confortada com palavras doces, Angely segurava as lágrimas o máximo que podia, e pensava nos alunos do 9º ano, que amava tanto. A professora conhecia quase todos des da 4ª série, e adorava cada um deles, como a maioria dos alunos também. Como iria contar-lhes? E ao resto das pessoas? Seus amigos, e colegas de trabalho?
A professora sempre foi uma mulher muito realista, e como todos, sabia da sua possível morte. Sabia que, perderia coisas importantes com a quimioterapia, como seus lindos cabelos negros que se penduravam até o meio de suas costas.
Só que o que Angely mais queria naquele momento, era pegar seu filho, Mike no colo, e fingir que nada aconteceu, até o dia seguinte, onde teria que contar as pessoas sobre a coisa toda.
Naquela noite, Beto dormiu no sofá da casa, enquanto a mulher dormia com o bebê, chorando silenciosamente. O filhinho, com a mão pequenina agarrando o dedo da mãe, como se quisesse conforta-la enquanto dormia.
...
O sol raiava belo, naquela terça feira. Podia se ouvir os pássaros cantando lindamente, sem ser incomodados por qualquer pessoa.
Aos poucos, os alunos iam se aproximando da escola, a maioria cansados, por que não dormiram direito, provavelmente na internet.
A doce Sara, uma das únicas que dormiu a noite toda, caminhava sorridente para dentro de sala. Era hoje que a professora iria falar as notas, e como a boa aluna, esperava ansiosa pelo 10.
E os professores, que já estavam acordados a muito, não queriam de forma alguma entrar em sua sala, como sempre. A maioria iria se aposentar, e estava de saco cheio das crianças. Sorte daqueles que tinham como alunos o 9º ano, porque estes, mudariam de escola no final do semestre, se vendo no colegial.
Os professores de sorte incluíam o senhor McSilver, a dona Reitaf, e a amável, senhora Fernandez.A sala do 9º ano C já estava toda completa, com seus alunos conversando em alto tom, enquanto a servente "dava uma olhada neles" por que a professora, pela primeira vez, se atrasara.
- Vacilo, - Geison diz, batendo com a mão em sua mesa - a primeira vez que faço um trabalho dela, e a mulher se atrasa!
Geovana, com seus cabelos loiros grandes e trançados até o final das costas, pega as folhas com o trabalho da mão de Geison. Ela era aquele tipo de aluna perfeccionista, que exigia as melhores notas de sí mesma, mais não deixava de ser aquela garota briguenta e fofa que muitos meninos adorariam ter nós braços.
- Realmente é uma raridade, Gei. - disse, enquanto amassava uma das pontas das folhas.
Geison, em um único movimento, arranca os papéis da mãos de Geovana, e a empurra, a garota ri, e antes que possa cair no chão, se segura na cadeira de Sabrina, derrubando os cadernos e livros da menina, que, empurrando o óculos no nariz, olha feio para a líder de turma.
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Coletando Contos #Wattys2016
Short StoryAs vezes, você pensa que as coisas estão difíceis, a ponto de você querer parar e chorar, ou suplicar com os olhos por um abraço. E, por incrível que pareça, aqueles que você não espera, se mostram solidários. Ou, você julga alguém por coisas que a...