Patinação

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Estela

Os olhos dela ficam correndo por toda a sala, enquanto ela recita o poema atrás da mesa do professor.

- O amor, esse sufoco. Agora há pouco era muito, agora, apenas um sopro. - suspira Lana.

Todos nós mantemos os olhos na garota de cabelos castanhos e lisos, com a pele clara cheia de sardas, o os olhos castanhos esverdeados alternando de rosto em rosto.

- Ah, troço de louco, corações trocando rosas, e socos. - assim que ela acaba, todos batem palmas, menos eu.

- Por que escolheu esse poema, Lauriana? - o professor pergunta com sua voz de trovão.

Ok. Lauriana não é o nome mais bonito do mundo. Por isso chamamos a garota apenas de Lana. As bochechas da garota assumem a cor vermelha e ela dirige seu olhar para mim, por um mísero segundo, então olha novamente para o professor.

- Eu sempre achei esse bonito. - Responde com um fio de voz.

Essa menina nunca foi a nerd, nunca foi a certinha, apenas é muito tímida com os outros, o que faz suas bochechas ficarem vermelhas e seus olhos encararem o chão toda vez que alguém com quem ela não tenha muita intimidade, lhe dirige a palavra.

- Pode se sentar, obrigado, Lauriana. - o professor diz, indicando o lugar da menina no fundo da sala.

Me assusto quando Lana passa por mim tocando minha mesa. Desde quando ela é assim? Achei que havíamos esclarecido a questão de "nunca mais fale ou tente tocar em mim".

Quando Lana se senta em seu lugar o sinal toca, indicando o intervalo.

Me levanto, pego minha mochila e saio da sala, mais sem traçar rumo algum. Eu apenas me encosto na parede.

- Disse para a sua mãe que está namorando? - puxo o braço de Lana e digo ao seu ouvido.

- O que te interessa? - ela cospe.

Lana tenta escapar de minhas mãos mais eu apenas aperto seu braço.

- Me solta, Estela. - a menina grita.

- Por que não conta para sua mãe que está namorando? - provoco sorrindo.

Eu nunca faria isso com uma Lana de dois meses atrás.

- Me deixa quieta! - ela grita.

Solto seu braço.

- Por que não vai com o seu namorado? - digo, e por coincidência, James estava passando pelo corredor.

O garoto olha para nós, confuso, e logo vem para perto de Lana.

- Qual é o seu problema? - ela me pergunta, o rosto vermelho e uma lágrima brotando em seus olhos apertados de raiva.

- Vai embora! - grito e aponto para o corredor cheio de alunos.

James passa o braço pelos ombros de Lana e a leva para longe da minha vista.

Perco a força dos joelhos e caio no chão, enquanto as lágrimas saem sofridas de meus olhos.

Não, eu definitivamente não sou louca. Sim, eramos grandes amigas, daquele tipo que vive grudada e diz que são irmãs.

Foi só esse James aparecer, com o cabelinho liso e preto, um aparelho tosco parecido com o de Lana e de repente... Tudo se foi. Não saiamos mais, ela não tinha tempo para fazer nada comigo! Nem para ver as apresentações de patinação do gelo semanais na televisão. Lana e James sempre estavam juntos, e parecia que os pais não sabiam disso, ou não gostavam da ideia.

Coletando Contos #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora