Moça na Varanda.

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Mary e Anthony.

Ela caminha devagar pelo quarto, arrumando a cama de casal, deixando um envelope de papel pardo no lado da cama do marido ausente.

- Bom dia, amor. - diz Mary.

É sua rotina, acordar todos os dias arrumar a cama, deixar um bilhete de "EU TE AMO, FIQUE BEM." no lado esquerdo da cama. Depois que faz tudo isso, se põe a arrumar a casa, e no final da tarde, enquanto observa o sol se pôr, ela se prostra de ante da varanda de sua casa, fitando o final da rua, onde, outrora seu marido fora levado por um caminhão do exército, a busca da guerra.

Mary deixa os quadros de seu marido em ordem. O silêncio sendo torturante a cada segundo, sem o sorriso de Anthony nos lábios, e ainda mais por que o casal não tinha filhos, sendo Mary infértil.

Anthony outrora havia dito que poderiam adotar uma criança. A mulher apoiara a ideia, porém, em 1941, com o ataque a Pearl Harbor, no Havaí, essa ideia ficou para depois. Anthony teve que ir para a a guerra, e Mary ficou sozinha.

Ela coloca as flores para fora de casa. Algo para colorir a vizinhança no meio de tanta guerra.

- Bom dia. - ela ouve a voz rouca, porém doce de Elyse.

Mary dirigiu seu olhar lentamente na direção da vizinha.

Ambas cresceram juntas, mais não eram próximas o suficiente para se tornarem amigas, apenas trocavam cortesia.

- Bom dia, Elyse.

A mulher meio alemã, meio americana sorri para Mary e volta para casa. Elyse não tinha um homem a quem chamar de marido, mais tinha dois filhos já grandes, que haviam ido a guerra, porém não tinha notícias dos mesmos.

O sol batia de leve no rosto da mulher, que se colocava diante da porta de casa.

Algo no peito dela doeu mais, não se sabia o que era, mas nem de longe seria agradável, nem aos olhos dos mais fortes, nem a vista dos mais fracos.

Por a fração de segundo essa dor passou. E então, Mary começou a chorar.

...

Era noite de natal, Anthony, Mary e a família de ambos estavam reunidos. Na década de 1935, o casal havia anunciado o casamento para os parentes naquela mesma noite. Jovens de 20 anos com um matrimônio legítimo era sempre uma alegria para todos.

Depois da ceia, Anthony encaixou um anel de diamante no dedo de sua amada, e depois da comemoração, o casal saiu para o frio da varanda, podendo ter privacidade mesmo que seus dedos congelassem.

- Promete que vai não me abandonar? - Mary perguntara, entrelaçando as mãos com o braço do noivo.

- Prometo. - riu Anthony - Mesmo que eu esteja longe, você poderá sentir meu amor.

Mary, realista que não aturava brincadeiras, ergueu uma sobrancelha.

- Ah, se tu dizes...

- É verdade! - o noivo defende-se - Se acontecer algo com você, irei sentir, assim como o contrário!

No momento, Mary riu.

Mal sabia a jovem, que o que ouvira era a mais pura verdade.

...

A mulher dobrou os joelhos, caindo em prantos, já não aguentava mais a saudade no peito, e uma dor estranha que mais parecia um pré sentimento.

De passo em passo, conseguiu chegar até a varanda, as mãos sobre o peito, o cabelo um pouco bagunçado. Apoiando o braço na grade de ferro, se punha a fitar a pequena avenida na frente de sua casa, algo que ela fazia sempre, a espera de seu marido. Mesmo tendo sua irmã, perdido o marido não a muito na guerra, Mary não deixava de lado a inútil esperança, vista pelos outros como loucura.

Coletando Contos #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora