11-Cúmplices

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A















Morte


















É














Difícil.













Profundamente, eu desejei estar morto. Todavia, o destino nunca faz nossa vontade. Ele sempre fará exatamente o que é deplorável, o que vai nos fazer chorar, o que vai nos maxucar, o que vai nos fazer preferir a morte, só que ele não vai nos dar esse prazer, pelo menos, não tão rápido.



***




Estava vivo.

Infelizmente, eu estava vivo.

Ainda não conseguia abrir os olhos. Tudo doía.

—Ele está acordando. - uma voz feminina anunciou.



Reconheci a voz.



Margo.



Tentei dizer algo, mas minha voz saiu fraca e incompressível.
Depois comecei à sentir pontadas pelo corpo. Ignorei. Queria apenas abrir os olhos.

Todo esforço parecia inútil.

Tinha um colar cervical em meu pescoço.

Havia um gosto metálico na minha boca.

Sangue.

Com a queda devia ter mordido a língua, a sensação era mais que desconfortável.

De repente, senti mãos tocarem meu braço direito.

—Vou aplicar morfina. - a voz era de Marcelo. Parecia distante.

Gradativamente meus olhos foram se abrindo. A paisagem não estava nítida, eram apenas borrões. Tinha uma movimentação mútua no cômodo. Imaginei que fosse o hospital. Senti uma agulha penetrando a pele do meu braço.

Morfina.

Permaneci imóvel.

—Ele está com inúmeras fraturas. Não houve lesões. Quebrou um braço.- disse Marcelo.

— Deveríamos levá-lo para o hospital. - sugeriu Margo.

—Está de brincadeira? Eu não posso me expor dessa forma. A imprensa não deixaria um "acidente" como esse passar batido. Levantariam hipóteses, suspeitas... - sua voz estava disvirtuada.

—Ok! Entendi. - a voz dela estava calma e distante. Depois, não consegui mais ouvir o que discutiam.

Ouvi uma forte batida na porta.

***

Apertei os olhos e fiz mais esforço para abri-los.

Estava no meu quarto, estirado na cama.

Não via ninguém.

Sutilmente, tentei olhar para meu corpo, sem sucesso. O colar cervical não me permitiu.

Com um gesto quase imperceptível, movi minhas pernas e uma corrente de dor percorreu meu corpo.

Era um bom sinal.

Sentia minhas pernas. Doloridas. Mas sentia minhas pernas.

Também sentia meu braço esquerdo, rígido. Tinha quebrado. Nem tentei movê-lo. Não sabia ao certo se estava engessado.

Devo ter passado bastante tempo inconsciente. Pelas brechas das janelas não se via mais a luz, porém, o frio da noite estava presente.

A porta se abriu.

Uma Voz Que Precisava Ser OuvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora