13-Monstros

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Com a água a bater no meu rosto, fechei os olhos, abri os braços, sentindo o coração apertar-se ao imaginar no que minha vida se transformara. Eu era uma mistura de ódio, tristeza e dor. Tudo junto. Abri os olhos e encarei o céu escuro e inebriante. Desejei criar asas e voar para longe daquele lugar, desejei que, quando o sol nascesse, eu já não existisse mais.

****

Porém, quando eu acordei no dia seguinte, infelizmente, ainda existia. A cama estava coberta por uma leve camada de água.
Logo lembrei da chuva que eu pegara. Levantei rápido. Olhei para o relógio e já eram 10:00 da manhã.
Que estranho! Margo não viera me atazanar. Muito estranho.
Fui para o banheiro. Tomei um bom banho. Escovei os dentes. Escolhi uma roupa qualquer. Claro! Uma camisa de mangas compridas para esconder as roxuras distribuídas pelos braços e por todos os lugares. Mas não dava para esconder o braço quebrado. Não sabia por quanto tempo ia ter que ficar com aquele gesso no braço.

Segui para o corredor. Admito que me deu um longo arrepio ter que enfrentar as escadas.
Dei um demasiado suspiro e, então desci. Afinal, tem dores que são maiores que outras.
Quando adentrei a sala de estar, algo me fez parar.

- Ben, que bom que acordou, querido. - Margo, estava sentada no sofá com quem eu lembrava ser o diretor da minha escola. Leonard Franco.
Um homem que lembrava um policial militar com um ar rígido, não sabia como havia se transformado em um diretor. Leonard se levantou quando me viu. Me aproximei e seus olhos se arregalaram ligeiramente.

- Sr. Bravanno, estou aqui para acertarmos sobre seu retorno ao colégio, SternFord. - ele me deu um aperto de mão e um sorriso caloroso, mas notei a sua inquietação repentina. Continuei inexpressivo. Sentia seus olhos me analisarem. O meu braço quebrado pareceu o incomodar.

- Ah... Hum... OK... - olhei para os pés, nervoso. Franco ficou ainda mais inquiridor de um momento para o outro, o que não julgava possível. Seus olhos me fitavam por cima dos óculos surrados.

- O que houve com o braço? - perguntou ele. Abri a boca, mas não saiu som. Seus olhos ainda estavam arregalados e sua boca se abriu involuntariamente.
Um riso escandaloso cortou o ar. Nos viramos para Margo.

- Ele caiu da escada, acredita? - sua voz estava aguda e irritante. Ou sempre foi assim? - Ainda bem que não foi nada sério!

- Ah... Nossa! Deve ter sido um susto e tanto para vocês, não? - Leonard, transpareceu alívio. Margo me fitou.

- Oh! Mas é claro! Eu fiquei desesperada! - de repente a expressão dela se modificou. Agora estava lamentando o ocorrido. - Mas, graças aos céus que não aconteceu nada de grave! - completou ela. Revirei os olhos. - Mas, vamos ao que interessa.

Sentei o mais longe possível de Margo.

- Bom... - iniciou o Sr. Franco, sentando-se. - Sua tia estava me dizendo o quanto quer voltar a estudar... - seu olhar estava cravado em mim. Engoli em seco.

- Bom, eu q-quero...quer dizer...eu estava p-pensando... - gaguejei. - Tenho saudade d-da escola. - não sabia o que dizer. A escola era o único refúgio disponível, mesmo que momentaneamente. - Eu. Quero. Muito. Voltar. - disse, confiante. O Sr. Franco pareceu satisfeito.

- Que ótimo! - fez algumas anotações em uma folha de papel, depois olhou para Margo. - Bom, acho que já tenho tudo que é preciso, Senhora. - disse o Sr. Franco, se pondo de pé.

- Que maravilha! - Margo estava com aquele sorriso débil, que me dava nojo. - Então, quando ele começa? - perguntou Margo, também se levantando.

- Quando Benjamin achar melhor... - respondeu ele, me lançando um olhar amigável.

O quanto antes!

Uma Voz Que Precisava Ser OuvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora