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O anoitecer foi tranquilo. (Isso era novo para mim). Outra empregada levou o jantar ao meu quarto, achei um pouco estranho Margo não tê-los dispensado cedo, como sempre fazia. Mas, era óbvio que isso mudaria, ela não precisava mais fingir nada para mim. E da última vez que ficou sozinha comigo, não gosto nem de lembrar do que aconteceu. E além do mais, ela deveria estar aproveitando o luxo do casarão e os últimos serviços dos empregados, já que a mudança era concreta.
Eu não tentaria fugir naquela noite, por que, pensando sensatamente, o que ela dissera sobre ninguém acreditar em mim, era verdade e eu tinha plena consciência disso. Só que eu não me daria por vencido. Eu nunca me dava por vencido. Eu não ía sentar e assistir minha vida desmoronando, e ficar de braços cruzados. E mesmo que ela não demonstrasse, Margo, sabia que tinha que fazer mais do que só me jogar de uma escada para me parar. Eu não era só um pirralho, mimado, e ela sabia disso melhor do que ninguém.
Olhei para o relógio, marcava 23:00hs. De repente, lembrei que eu nunca fui de passar o dia inteiro dentro do quarto, longe disso, lembro que ía para a casa de Joaquim e que passávamos o dia jogando vídeo-game. Mas agora, eu simplesmente não posso nem sonhar em sair de casa.
Tinha meu próprio x-box, todavia não fazia diferença, eu poderia estar na Disneylândia, duvidava que algo me devolvesse a vontade de viver. Me esquecera até como era sorrir, acho que nunca mais faria isso de novo.Tomei um banho rápido, fui para cama. Fiquei olhando para o teto, sendo bombardeado por pensamentos malditos e o que me pareciam delírios. Depois do que pareceram anos, o sono me encontrou, meus olhos foram se estreitando...
Pisquei algumas vezes...
Então...
Apaguei.
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— Você precisa acabar com isso, criança. — uma voz aguda cantarolava. Meus olhos se abriram de súbito. Não conseguia ver quem estava cantarolando pois estava muito escuro, via-se uma silhueta, mas era como se fosse uma alma negra, à alguns passos da minha cama. Apenas a luz da lua invadia uma parte do cômodo, era a única iluminação.
— Quem está aí? — perguntei, com a voz cheia de medo, sentei-me na cama, estava tremendo, fiquei olhando para aquela figura na escuridão, sentindo o desespero crescendo dentro de mim, com dificuldade, inspecionei. Estava no meu quarto. Só que estava diferente, havia manchas de...sangue pelas paredes, como se dedos tivessem passado por lá. Esfreguei os olhos, agora, medo era pouco para descrever o que eu estava sentindo, tremia dos pés à cabeça. Foi então que percebi duas coisas. Uma, meu braço estava sem o gesso. Duas, não era o meu quarto, era o de Marcelo...
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Uma Voz Que Precisava Ser Ouvida
Mystery / ThrillerQuando um desconhecido passa inexplicavelmente a rondar a vida do astro adolescente Benjamin Bravanno, coisas estranhas começam a perturbá-lo. Uma obra eletrizante onde o protagonista vive um drama obscuro em busca de escapatória, mesmo que isso si...