O telefonema

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Sem mais delongas, porque já me alonguei demais. Um pedido de desculpas e um capitulo novo. Podemos fazer as pazes?

Finalmente a queixa foi feita. Mas antes disso espalhamos cartazes com a foto dela por todos os lugares onde íamos. Os dias passavam de forma cansativa. Mas eu sabia que a encontraria. Ou pelo menos me esforçava para acreditar nisso.

O trabalho dos policiais parecia ser tão descuidado. Acho que eles não acreditavam em mim, ou talvez achassem que não encontraríamos minha filha nunca mais. No primeiro dia de busca apenas dois policiais foram na minha casa. Estava eu e o André sentados no sofá de frente para eles, e o Sergio mais afastado. Eles fizeram inúmeras perguntas. E algumas tiravam-nos do sério.

- A Gabrielle tinha algum motivo para fugir?

Ouvi a risada de Sérgio, que até aquele momento estava encostado na parede atras de mim.

- Fugir? O que uma menina de 2 anos e meio tem na cabeça para querer fugir? Olhe bem... olhe para essa casa, olhe para nós. Temos cara de quem está brincando? Parece que estamos fingindo?

Sérgio foi se aproximando, o que fez os policiais se levantarem. Um deles, o mais novo aparentemente, tentou responder.

- Crianças sentem medo. Talvez seja o maior sentimento delas. Só questionamos porque não seria estranho uma criança sair de casa por medo de algo, e acabar se perdendo no meio do caminho.

Me levantei e peguei o álbum com nossas fotos, que nos últimos dias tinha ficado na sala. André começou a se alterar também. Porém, de nós três ele ainda era o mais centrado. Levantei o álbum na direção dos policiais tentando segurar a vontade de avançar no pescoço deles.

- Realmente, isso parece registros de uma família ruim? Parece de verdade que ela sentia medo da gente? Pegue esse álbum. Olhe os olhos da minha filha. Olhe o seu sorriso. Ela era feliz...

Ele pegou o álbum da minha mão com um suspiro pesado e repassou ao colega.

- Me desculpe senhorita, mas até que se prove o contrario todos são suspeitos.

O que aconteceu em seguida foi muito rápido. O Sérgio foi na direção do policial com um soco certeiro do lado esquerdo do rosto. André foi na direção dele para tira-lo enquanto o outro policial ja estava com uma arma apontada para eles, gritando e mandando se afastar. Se minha mãe estivesse em casa ela teria ouvido meus gritos de desespero. Me joguei na frente dos dois no intuito de evitar uma desgraça maior. O policial machucado estava retrucando enquanto passava a mão no rosto.

- O que aconteceu com voce? Está ficando louco? Marcelo, prenda esse homem.

O André estava tentando conversar com o Sergio em outro vão da casa, por ele ja ter entrada seria muito fácil ser preso. E de verdade, eu não queria isso.

- Senhor, por favor. Perdoe ele. Estamos alterados, ele é o pai da criança. É que isso é sem fundamento. Voce não está vendo? Pra gente tem sido difícil tudo isso. Eu lhe juro que nunca maltratamos a Gabrielle. E outra coisa... nós achamos o vestido dela num lixão. Ela foi sequestrada. Não fugiu. Por favor, não o prenda. Ele vai se comportar.

O Marcelo estava com as algemas em mãos, esperando uma posição do policial mais velho.

- Guarde as algemas, Marcelo.

- Muito obrigada, de verdade. Eu não vou mais deixa-lo perder a cabeça.

- É bom mesmo senhorita, ou então serei obrigado a prende-lo. Por hoje é só, nós já vamos.

Nesse momento o André entrou. E foi na direção do policial machucado.

- Desculpe-nos por ele. Mas só tente entender que enquanto a Gabrielle está desaparecida vocês estão aqui perdendo tempo. Fazendo perguntas inúteis. É mais uma hora sem noticias. Sem saber se ela está bem. Se está com fome, frio.

Me acolhi no abraço dele e tentei extrair mais informações.

- Voces vão mandar uma equipe de busca?

- Vamos entrar em contato com estações, aeroportos, fronteiras. Vamos deixar fotos espalhadas e esperar...

- Esperar? - olhei fixamente pra ele - O senhor quer saber? Ja fizemos mais do que voces pretendem fazer, divulgamos as fotos dela por todos os lugares. Não só estações, mas hospitais, escolas, tudo. Faça alguma coisa que nós não possamos fazer. Olhem as câmeras de mercados, lojas, não sei. Só façam algo.

- Faremos nosso melhor. Vamos acha-la. - Marcelo parecia se importar mais.

Eles foram embora nos deixando com pouca esperança.

***

Apesar de tudo, Sergio era meu apoio junto a policia como o André era meu apoio nas ruas. Mas não havia nenhuma pista nova. Nada que nos desse uma orientação. Contratamos um detetive particular, achei que isso era mais uma coisa de tvs. Porém os inúmeros casos de traição pela cidade precisavam de alguém capacitado para descobrir, com direito a provas e tudo o mais.

- Sim, senhor... Douglas. Acho que ja deve ter visto alguma dessas fotos por aí. - André me ajudava com tudo aquilo. Sobre manter a calma para tudo ficar mais fácil de resolver.

Douglas era maduro. Parecia ter alma de jovem, mas postura de um homem casado e que tem respostas para tudo. Barba feita, cabelo impecável. Uma ótima apresentação. Ele havia saído do departamento policial para trabalhar sozinho.

- Sim, ja vi. Eu lamento muito, é uma linda garota. Mas vamos encontra-la. Para isso vou precisar saber de cada detalhe. E peço mais uma coisa, para não atrapalhar as investigações não divulgue para absolutamente mais ninguém sobre meus serviços. Estarei por perto como um novo amigo do André, um professor da faculdade.

Achei aquilo estranho.

- Mas, como você vai ter os depoimentos e tudo mais? No casamento ou naquilo que seria o casamento haviam muitas pessoas. Familiares, amigos íntimos, colegas de trabalho.

- Em um determinado momento eu vou precisar fazer isso pessoalmente. Mas por enquanto vamos por outros meios, está bem? Telefones, gravações discretas. Sei que parece estranho, mas o motivo é o seguinte: vamos obter as informações de forma anônima ao máximo, depois quando eu aparentemente for chamado, ou descobrirem quem sou, saberemos quem vai ter duplicidade de informações. Logo acharemos suspeitos.

Naquele momento entendi a estrategia do Douglas. Uma vez que a policia foi acionada eu poderia usar ela como ponte entre mim e o investigador. Aquilo não parecia estar acontecendo. Comecei a relatar todos os detalhes a ele, quem estava, a ultima vez que ela foi vista. Onde haviam câmeras próximas de onde ela desapareceu. Enfim, tudo. Cada detalhe relembrado, cada momento, cada memoria. Tudo aquilo parecia não ter mais fim.

Em um desses dias difíceis que parece não haver mais lugar para procurar, colocamos cartazes com recompensa para quem a encontrasse. Era uma ideia. Recebemos trotes idiotas, e ligações inúteis. Assim que coloquei o telefone no gancho ele tocou. Eu ja estava cansada, mas atendi. E para minha surpresa era a voz da Gabrielle, ela estava cantarolando uma musica do seu desenho preferido. Com as trocas de letras que eu já estava bem acostumada a ouvir.

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