Junho - Julho

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As férias chegaram, pequenas, mas daria para tirar a cabeça dos estudos, por alguns dias.

Tentaria resolver minha situação com Kamila. Dedicaria mais tempo a Nanda, e pronto. Seria beatificada. Brincadeirinha.

Mas uma coisa me pegou desprevenida. Sergio pareceu voltar um homem redimido depois de alguns dias longe dos flashs. Em um desses dias ele me pediu pra passear com a Gabrielle. Não podia negar, mas não queria deixar. Acabei indo com ele. Fomos a um parque, e pra melhorar a situação eu não tive como avisar ao André. Era um sabado a tarde, e ele estava ocupado com algo. O celular só dava caixa, e pronto, o circo estava armado. 

Assumo que havia algo de diferente no Sérgio. Ele já não tinha aquela expressão de ressaca em tempo integral, e muito menos estava sendo um patife como nos ultimos meses. O que aconteceu com ele? Não faço a minima ideia. Mas meu anti-virus estava bem ativo. Deixei ele levar Gaby em alguns brinquedos e fiquei sentada em um banquinho observando. Quem passasse por ali diria que erámos uma familia feliz. Só que nunca, só pra ressaltar. Ele voltou segurando a mão da filha atpe onde eu estava. 

- Acho bom ela beber agua. 

Como tinha levado um pouco na sacola, retirei e dei a ela. A temperatura ainda estava boa. 

- Voces são tão parecidas, ela tem os seus olhos. E os mesmos cachos de quando eu te conheci.

- Voce lembra? - indaguei cética. 

- Mary,é claro. Sei que fui um idiota, mas todo esse tempo era a sua imagem de menininha que vinha a minha cabeça. Quando coloco a cabeça no travesseiro é em voce que penso, não agora, como uma linda mulher, e sim antes, como uma doce menina. 

Fiquei sem jeito, o que ele estava tentando fazer? 

- O que aconteceu com voce, Sérgio? Porque esta me dizendo todas essas coisas?

- Marina, eu mudei - ele olhou pra longe, como se tentasse se concentrar em algo.- E não foi só por voces, foi por mim. Mary... eu quero uma chance de recomeçar. 

Fui pega desprevenida. 

- O que voce quer dizer, Sérgio? 

Ele colocou Gaby em seu colo enquanto segurava minha mão.

- Eu sei que voce nao vai acreditar em mim. Eu no seu lugar faria o mesmo. Mas só te peço uma coisa, não me ignore. Eu tentei todo esse tempo achar paz nas bebidas, nos vicios. Só consegui humilhação e prejuizos. A unica pessoa que eu tinha simplesmente me deixou. - ele havia sido criado apenas pelo pai. - Então, por favor, não negue a mim uma oportunidade de mudar. Não quero ser um pessimo exemplo para nossa filha - Essa frase me golpeou no estomago. 

Puxei minha mão debaixo da dele, e peguei minha filha do seu colo. 

- Sérgio, não me peça algo impossivel. Não me peça para voltar a acreditar em voce. Eu sei que voce sofreu uma perda grave, não minimizo sua dor. Mas voce como sempre mostrou quem era. 

- Mas eu não quero ser mais essa pessoa. Marina, não é possivel que esse tempo na igreja e tudo mais, voce nao entenda que alguem pode sim, mudar.

- Tudo bem, Sérgio. Acho melhor irmos para casa... Tenho compromisso a noite. 

Ele concordou e nos levou. Aquela conversa definitivamente havia sido estranha. Muito estranha.

*** ***

Só para não perder o costume, fui para meu ritual. Tomar banho, dar banho na filhona, e escolher uma roupa (a melhor parte). Ela foi com um vestidinho jeans com detalhes rosa. Ficou uma princesa, linda. Coloquei uma tiara, que ela agora já deixava com maior facilidade e pronto. Estavamos prontas. Peguei o carro de minha mãe e passei na casa da Nanda antes. Antes, conferi a cadeirinha da minha filha, apropriada a idade dela.  Como tinhamos tempo, aproveitei para ter uma conversa seria com a Nanda. Foi complicado de inicio. Fernanda era uma garota dificil. Estava decidida a matar o proprio filho. Tirar o bebê, até aquele momento indesejado. Contei tudo que aconteceu comigo. Desde o nojo até o amor e o perdão. Descobri que o pai da criança, diferente do Sérgio, queria assumir o filho. Sei que é uma situação bem dificil, mas ela estava bem melhor do que eu. Ela disse que estava cansada demais para ir para o culto. Cansaço psicologico. Preferi não insistir, e fui ao culto. No domingo seguinte, pra minha surpresa Nanda estava la. 

As férias foram nesse nivel... Continuei no trabalho, ia aos cultos e conversava com Nanda. A cada dia que passava parecia mais dificil convence-la. Ela era inconstante e teimosa. Os preparativos do casamento ja estava quase tudo pronto. O casamento foi antecipado, e provavelmente no final de setembro seria a esposa do André. Sim, estava nervosa. Muita coisa iria mudar. Ter o homem que eu amo do meu lado no culto era uma coisa, na minha cama pela manhã era outra bem diferente. Chamei a Kamila para ser testemunha. Apesar dos abalos dos ultimos meses, ela aceitou. Já tinhamos conferido juntas a decoração, programação da cerimonia. As vezes parecia um sonho. por outro lado, Sérgio se aproximava cada vez mais. Ele parecia realmente ter mudado.  Principalmente no dia que André perdeu o bom senso e começou uma discussão com ele. Para minha surpresa vi os papéis invertem, Sergio saiu sem falar nada, e André se alterou. Minha cabeça havia dado um nó, mas eu de alguma forma comecei a confiar na veracidade da mudança do Sérgio.

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