III

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A mais baixa das três rebeldes foi a primeira. Levantou-se de um salto e veio ter comigo. As outras duas entreolharam-se e seguiram-na. O rapaz alto com quem a Annia estava a falar veio também. A Ev e a Aby ficaram (deviam querer saber como é que a discussão tia acabar). A Aria foi para junto de Jo. Pouco a pouco, a multidão foi tomando o seu partido. Criou-se um espaço entre os dois grupos, o de Jo ainda maior que o meu. Sim, porque ela parecia não se querer precipitar. Visivelmente, a sua confiança em mim era tanta como a de um astronauta a um saco de plástico para conservar o oxigénio.

Olhei para ela, que estava claramente desconfortável e parecia estar em luta consigo própria.

Eventualmente, encolheu os ombros, disse qualquer coisa a Aria, que pareceu surpresa, saltou da pedra e veio ter comigo.

-Foi a primeira e última vez que me fizeste engolir o orgulho.

Fiquei feliz.

Não por ela se ter juntado ao nosso grupo, não por ela se ter "submetido", mas por ter contrariado o orgulho a favor da decisão mais lógica a tomar. Falo por experiência própria, não é fácil.

Pronto, honestamente, talvez tenha ficado ligeiramente satisfeita por se ter submetido.

Por favor não pensem que estou a assumir o comando, nada disso. Só quero que isto acabe o mais rápido possível.

O grupo de Jo dissipou-se gradualmente e acabamos por começar todos a andar na direcção inicial.

Comecei a ouvir certos "Eu disse que era melhor termos lá ficado", o que, para ser sincera, me irritou bastante. Quero dizer, se soubéssemos que era inútil andar, naturalmente que não teríamos estado duas horas a caminho.

A primeira rapariga a integrar o grupo, veio ter comigo, interrompendo os meus pensamentos.

O seu cabelo era parecido com o meu. Bastante parecido mesmo, era apenas mais loiro. Os olhos eram castanhos, um tom vulgar. Era bastante mais baixa que eu, menos magra. Mas nada rechonchuda, eu é que sou anormalmente esguia.

Achei engraçado o facto de não ser fácil identificar a Unidade da rapariga (ainda nem sabia o seu nome). É raro ser-se baixo e não ter nascido em Calvin, a cidade gigante das pessoas pequenas.

Não sei se é selecção natural ou assim, mas no País, o habitante comum é bastante alto, comparado com o de Calvin.

Presumi que a rapariga viesse de Proscut, o deserto, pelas ligeiras sardas espalhadas pelo seu rosto. Não conseguia, no entanto, ter a certeza, porque o tom dos seus olhos podia acusar ter nascido em Slaven, a Unidade do mar.

-Como te chamas? -perguntei.

-Mary.

Estava intrigada com esta pequena rapariga. A sério que estava. Ela não me irritava e eu tinha curiosidade em conhecê-la. Não me era indiferente.

-Como te chamas? -olhou para mim ao perguntar.

-Sam.

-És parecida comigo, Sam. -desviou o olhar, focando-se no caminho, verde, à nossa frente.

-Desculpa?

-Acho que tu és parecida comigo. -articulou de uma forma exagerada cada palavra, num tom sarcástico. Depois riu-se, olhou para mim e sorriu. A leve irritação que se apoderara de mim desvaneceu. Ela estava só a brincar.

-Talvez me dê bem contigo, Mary. -Gostei de pensar que tinha encontrado uma provável candidata a minha amiga.

-Possivelmente. -retorquiu, indo logo ter com as duas outras "rebeldes".

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