VII

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Nunca fui uma grande adepta de entradas espalhafatosas. Sempre achei desnecessário o desvio das atenções para a minha pessoa. No entanto, quando, já devidamente equipada para enfrentar o dia, com a típica camisola larguíssima do meu irmão, me preparava para sair da tenda, decidi teatralizar.

Sabe bem de vez em quando.

Daí que, já com o fecho aberto, tenha saltado para fora de repente, ficando logo de pé, abrindo imediatamente os braços, espreguiçando-me, e bocejando alto.

Depois fechei a tenda, ri sozinha e corri para junto dos outros.

Não fui a ultima a chegar, havia mais pessoas ainda a caminhar, essencialmente divas que tiravam rolos do cabelo, ou que retocavam maquilhagem enquanto se dirigiam para a multidão. Patético.

Fui para trás de um rapaz muito alto, que não reconhecera de costas. O seu cabelo castanho, quase preto, fora cortado de forma a que tivesse aquele tique de puxar a franja para o lado esquerdo, agitando a cabeça.

Só queria ficar atrás dele durante um pouco, para tentar que não se percebesse que eu chegara atrasada.

Mas claro que, com a minha péssima coordenação motora, acabei por, sem querer, lhe tocar levemente no calcanhar com o meu pé.

Instintivamente, virou-se para trás. O seu cabelo castanho muito escuro cobria praticamente a testa toda. Os olhos cinzentos eram ligeiramente baços, mas ao contrário do que seria expectável, o seu olhar não era vago, mas profundo. Era provavelmente dos juvenis mais altos do campo. Um típico exemplo de uma pessoa de Bosh, a Unidade das avalanches e afins.

-Hum.. Ahhhh.. Olá? - a sua voz confirmava o constrangimento da situação.

-Olá...! - disse rapidamente, apoiando uma mão no outro braço e balançando levemente os pés, como sempre faço quando fico nervosa. - Desculpa, vim a correr, mas não queria que percebessem que estava atrasada, então escondi-me atrás de ti, porque tu és alto e... Mas como sou mesmo azarada, toquei-te sem querer, peço desc...

Riu-se do meu evidente embaraço.

Uma gargalhada grave, sonora, de certa forma doce, mas com um toque de descontrole inerente, praticamente despercebido. Era um riso vulgar, mas que quase soou bem aos meus ouvidos.

As pessoas imediatamente ao lado olharam para ele, mas logo desviaram a atenção.

Sorri-lhe levemente e decidi mudar de assunto.

-O que é que está a acontecer aqui?

Parou de rir, limpando uma lágrima imaginária e sorrindo.

-Ah, estão a dividir-nos por equipas. - Não deu muita importância ao assunto. - Sam, certo?

-Sim, é o meu nome. Tu és..? Desculpa não decorei os nomes.

-Troy!

-Bosh? - perguntei como quem não quer a coisa.

-Nota-se assim tanto?

Assenti com a cabeça, olhei em volta e avistei Mary, apontei para ela, olhando para o Troy. Ele fez sinal com a mão, como que a dizer "Vai, estás à vontade!". Assenti de novo e fui rapidamente ter com ela.

O País sem NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora