IV

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Estávamos a andar há uma hora e meia, o sol já posto, iluminados pelas poucas lanternas que alguns tinham trazido. Supostamente, o regresso à clareira onde o Transporte nos deixara seria mais rápido! Mais uma coisa a não fazer sentido nenhum.

O plano das duplas de Jo tinha acabado por resultar, tendo ela própria feito parte da estratégia. Ficou com a Mary, deram-se bem, mas não excessivamente bem. Jo parecia não ter à vontade com ela.

Gostei de ficar com o Lou, ele trepa rápido às árvores e vê muito bem no escuro. Das últimas vezes que trepámos, foi ele que reconheceu os reflexos ténues da madeira. Apenas com a luz da grande lua cheia que decorava o céu nublado.

Eventualmente, ficamos tão fartos, que nos separamos da nossa dupla e caminhamos simplesmente.

Eu estava com Mary e o cansaço já se apoderara de nós.

O grupo caminhava a um ritmo lento, mas tínhamos cuidado para nos ajudarmos uns aos outros, especialmente às divas, já que algumas se sentiam mal. O céu estava escuro, aquele tom arroxeado que vai gradualmente escurecendo, ainda sem estrelas.

Estávamos todos a precisar mesmo de uma pausa, de nos deitarmos, de comer, de beber água. Estávamos fatigados. Queríamos parar. Já nem prestávamos atenção às duplas, ao caminho, à direcção. Apenas continuávamos juntos. A andar. Estava prestes a desistir, a sentar-me, quando ouvi um grito.

Quem gritara fora um rapaz de Bratful, chamado Den, que ia à frente do grupo. Com o dedo a apontar para a frente, tremia. Segui a direcção do seu dedo e vi, ao longe, uma silhueta. Já estava escuro, pelo que a luz das lanternas se tornava arrepiante na cara do homem, alto, entroncado. Ele estava quieto, como se não nos visse, como se não estivéssemos ali. Esfreguei os olhos. Fiquei paralisada por algum tempo.

Fui para a linha da frente do grupo, para ver se o Den estava bem. O cabelo louro palha dele parecia o de um fantasma. Já baixara a mão, mas continuava a olhar fixamente para o tal homem. Tremia cada vez mais.

Eu não estava com medo porque estávamos em vantagem numérica, mas, honestamente, estava bastante arrepiada.

Do nada, a figura quebrou o silêncio.

Falou:

-Quem subiu à árvore. -o tom quase metálico da sua vez tornava impossível distinguir se tinha sido uma pergunta ou uma intervenção aleatória.

Ninguém respondeu, mas senti-me instintivamente nervosa. Aquele nervoso miudinho de quando sabemos (ou nos parece) que algo de mau nos vai acontecer. Fiquei calada, como todos os outros.

Seria este um plano maquiavélico para nos assustar? Estava a resultar. A sério que estava.

Ele repetiu pausadamente:

-Quem subiu à árvore?

Desta vez já parecera mais uma pergunta, mas mesmo assim era difícil dizer.

O meu subconsciente estava já bem decidido: "Vamos, Sam, avança. Vai e vê se acabas já com isto!" Mas esta era apenas a parte corajosa, a minha faceta cautelosa estava em pânico. Mas mesmo em pânico. O pânico à beira de um ataque de nervos.

Respirei fundo e gritei:

-Eu!

Ergui o queixo. Talvez se me achasse confiante e segura ele se fosse embora.

Ao longe, vimos um sorriso branco e perfeito a formar-se no homem. Como o de um palhaço com uma óptima pasta de dentes.

-Eu! -ouvi uma voz masculina a afirmar com convicção, era o Lou.

O País sem NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora