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Relatório: A Árvore
Fonte: Carl

A casa dos Jettling era humilde. Bem, quando todas as casas são iguais, é difícil classificá-la como humilde, por não haver propriamente um padrão de comparação. Rodeada por um pequeno jardim, uma horta e uma única árvore com um baloiço pendente em perfeitas condições, era totalmente vulgar. Ou pelo menos aparentava ser.

A família Jettling era modesta. No entanto, mais uma vez, não havia propriamente uma família que não o fosse, pelo que talvez esta não seja a caracterização mais acertada. As profissões de Meg Jettling e Abigail Jettling eram diferentes das de muitos outros membros! Se bem que aos vizinhos Franklin foram atribuídas as mesmas funções...

Qual foi então o motivo que levou à escolha desta família se era apenas uma em tantas outras? A única resposta possível é: Samantha. Samantha não era normal. Pelo menos não para os padrões da sua idade, pelo que fora inscrita na classe das crianças duas primaveras mais velhas, na tentativa de a integrar.

Tinha um desempenho escolar medíocre, mas consegui aceder aos ficheiros detalhados e descobri que, nos testes teóricos, as questões erradas foram deixadas em branco. As certas foram realizadas com um método brilhante e, por vezes, mais simples que a própria resolução, o que me leva a crer que Samantha não se quer destacar. Simplesmente não quer que olhem para ela. Não quer ser reconhecida e, provavelmente, não quer ser elogiada.

Peculiar.

Não faz sentido.

Nenhum.

Numa unidade em que a ambição de qualquer juvenil é ser melhor que os outros, surge esta rapariga brilhante que aparenta ser um caso perdido.
Sim, porque os seus registos de comportamento são tudo menos exemplares. Não realiza actividade física, pois no princípio da Primavera criticou de tal forma a exigência requerida pelo professor que os coitados dos pais foram convocados a uma reunião com o concelho directivo.

Que não fique, contudo, implícito que a culpa é dos pais. Tal seria impossível, dado que o outro filho de Meg e Abigail, Andy, era um rapaz normal. Mais velho, bem visto por colegas e educadores, passava totalmente despercebido. Tinha resultados favoráveis, mas cometia erros nos exercícios das avaliações teóricas.
Era um aluno como qualquer outro que se esforçava por alcançar a excelência.

Samantha era uma aluna como ninguém que se esforçava por não ser excelente.

Se pudesse, ia falar com ela. Gostava mesmo de ir, mas não posso.
Vejo-a desde pequena e ela raramente repara em mim. O Andy chegou a vir ter comigo, mas, eventualmente, afastou-se.

Continuo a viver a minha vida normalmente.

Estes não foram os primeiros, nem serão os últimos miúdos que acompanhei, confesso, mas a Samantha fascinou-me.

Do súbdito sempre afável,

Carlinston

O País sem NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora