E.L | 1

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 Já amanhecia, e o sol que nascia prometia um dia glorioso de sono.

Ana sorriu para o garçom que arrumava o salão do bar. Tinha o dia inteiro para dormir. Arrumou seu violão nas costas e massageou o pescoço com as mãos, suspirando. Estava cansada.

De olhos fechados, se espreguiçou.

- Já está indo?

Abriu os olhos e viu Howard parado em sua frente. Eram seis horas da manhã e ele já estava com uma cerveja nas mãos.

Ana sorriu e bateu em seu ombro.

Howard era o dono do bar. Não era bonito, nem mesmo sensual, mas era simpático e tinha um bom coração. Devia ter mais de cinquenta anos e se vestia como se tivesse vinte. Seu humor também não correspondia a sua idade.

- Como assim já?! – Ana riu baixo com sarcasmo – Estou com sono, já amanheceu. E adivinhe? Preciso dormir.

- Vocês, jovens de hoje, não possuem metade da minha energia – Howard riu e bebeu o ultimo gole de sua cerveja, então, como se fosse basquete, tentou acertar a lata na cesta de lixo. Errou. Xingou baixo e fez uma careta, pedindo para Tim, o bartender que limpava o balcão de vidro, outra cerveja.

- Os jovens de hoje são muito mais idosos que você, Howard. Disso eu tenho certeza.

Ana estalou a língua e passou a mão pelos cabelos escuros, que lhe caiam até as orelhas.

- Bem, preciso ir.

- Volta quando, querida?

Ela resmungou, pensando. Revirou os olhos e depois respirou fundo.

- Daqui duas semanas. Vou tocar no Gamer semana que vem.

- Está me traindo? – perguntou o senhor com um ar brincalhão – Vou te contar... Não da para confiar em mais ninguém hoje em dia.

- Principalmente em cantoras sexys como eu – completou Ana, rindo.

- Principalmente em cantoras como você – ele repetiu.

Ana sorriu e beijou a testa do homem baixo a sua frente.

Gostava de Howard. Ele era um dos únicos que ainda se davam ao trabalho de se preocupar com ela.

- A gente se vê velhote... – ela se despediu, piscando um olho.

- Velhote? – ele perguntou indignado – Ter cinquenta anos hoje não significa ser velho! Eu posso dançar a conga milhares de vezes para te provar! Está ouvindo, mocinha? Eu posso...

Ana deixou a porta se fechar atrás de si, antes que pudesse ouvir o resto da fala do velho. Sabia o que ele devia estar resmungando naquele instante:

- Esses jovens de hoje...  – imitou sorrindo.

Colocou os óculos escuros para não se irritar com a claridade e seguiu a pé até o metrô, cantarolando baixo.

Precisava comprar um carro. Um carro velho, mas um carro. Depender de metrô era uma das coisas que mais a desmotivava a sair de casa. Falando nisso, precisava de outro apartamento.

Estava morando nos Estados Unidos há um ano e Deus sabe o que aconteceria com ela se não fosse Howard lhe deixar cantar em seu bar três noites por semana, durante seis meses.

Ser estrangeira, pobre e não ter família não era um padrão de perfeição naquele país.

Desde que saiu do Brasil, sua vida mudou.

Na verdade, sua vida começou a mudar lá mesmo, com a morte de seus pais. Sua mãe, uma americana até a ponta das unhas, sempre sonhou em voltar para os Estados Unidos. Ela sempre dizia que...

Entre LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora