E.L | 3

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- Ana, está me ouvindo?

Um pouco confusa, Ana ouviu a voz preocupada do outro lado da linha e suspirou.

- Oi – sorriu e passou a mão pelo rosto – algum problema?

Carlos riu.

- Não, não... Mas vou precisar de você no bar esta noite, pode ser?

- Hoje? Hmm... Pode. Pode sim – Andou até o banheiro e se olhou no espelho. Estava um caco. Talvez devesse dormir um pouco. – Quer que eu cante ou apenas atenda?

- Vou precisar de uma bartender.

- Bartender? O.k – girou o registro do chuveiro e observou a água cair por alguns segundos – estarei aí às nove.

- Te espero. Tchau.

- Até...

Debaixo do chuveiro, fechou os olhos e sentiu a água escorrer pelo corpo. Aquela lembrança nunca havia lhe passado pela cabeça. Podia jurar que aquele foi um dos únicos momentos em que sua mãe falou sobre sua avó ou qualquer outra pessoa de sua família. Ana sempre achou que não houvesse parentes relacionados à sua mãe. Na verdade... nunca havia parado para pensar sobre isso.

Passou a mão pelos cabelos curtos e levantou o rosto para que a água caísse diretamente sobre ele. Trancou a respiração e ficou ali, inerte, sem pensar.

Antes de sair naquela noite, sentou em frente à TV, e comeu ouvindo os noticiários.

“Dois corpos foram encontrados hoje, ao lado da rodovia...”

Mudou de canal.

“O preço do dólar baixou...”

Novamente trocou de canal. Sua boca estava cheia de batata frita e sua mão engordurada manchou o plástico do controle remoto.

“Não há nada a declarar quanto ao ocorrido... Talvez tenha sido falha na segurança, talvez não houve planejamento suficiente. Não posso responder por algo que não me concerne...” a voz fria e limpa da senhora no televisor chamou a atenção de Ana que largou o controle e enfiou uma batata na boca. Novamente falavam sobre o atentado ao presidente. Um atentado que quase o matou.

Ana não estava muito ciente do que havia ocorrido e não tinha interesse em saber, mas o fato de que o presidente havia sido salvo por sua assessora estava em todas as mídias e canais televisivos.

“O que posso dizer hoje, é que vou voltar a ocupar o cargo de assessora do presidente, mas no momento estou ocupada resolvendo problemas particulares. Minha viagem não foi de recuperação, muito menos férias. E tenho o prazer de dizer que o motivo também não condiz a vocês.”

“A senhora sabe que virou uma heroína nacional, não?” Uma voz aguda perguntou entre a multidão de repórteres e fotógrafos ali presentes.

- Porque tanta confusão? – se perguntou Ana com uma careta – que ridículo!

Após a pergunta, a senhora fez um movimento com as mãos que pareceu tão familiar à Ana que ela cerrou os olhos, surpresa. Não foi só o movimento, mas a expressão de desagrado e irritação. Sua mãe fazia a mesma cena quando algo não lhe agradava.

“Isso, meu caro, depende do ponto de vista que se é analisado. Até onde eu sei, não fiz mais que meu dever.” Suspirou e seus olhos olharam para o segurança atrás dela “Não responderei mais nenhuma pergunta e espero que o assunto esteja esclarecido e encerrado.”

Então a filmagem voltou ao estúdio, onde a jornalista fez algum comentário sobre a coletiva que havia acabado de passar. Ana desligou a TV e se levantou para ir à cozinha.

Entre LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora