E.L | 6

1.6K 76 20
                                    

Tudo parecia tão distante e tão normal, que Ana se perguntava se havia mesmo acontecido. Via as pessoas rindo na rua. Via os taxis, os ônibus lotados... Tinha saído de casa naquela noite para ir trabalhar. Essa era a única preocupação que possuía quando acordou há poucas horas, e agora... Agora estava na garupa da moto de um estranho que havia matado duas pessoas e dirigia velozmente para longe do centro da cidade.

- Quero um carro na ponte do Brooklyn.

Ouviu o estranho dizer.

Continuaram quietos.

A ponte do Brooklyn estava iluminada e movimentada. Um pouco a frente, dois carros pretos e uma moto estavam parados, atrapalhando o transito. Quatro homens estavam parados, em pé, impassíveis, fingindo não notarem o pequeno caos que formavam no transito da cidade.

A moto parou lentamente. Ana observou os quatro homens e desceu da moto. Os dois carros eram do governo federal dos Estados Unidos, assim como as motos.

O mestiço tirou o capacete e, pela primeira vez, desde que o ouviu aquela noite, Ana pode ver seu rosto. Estava sério e frio. Ele andou até outro homem, entregou o capacete e as chaves da moto e então abriu a porta traseira de um dos carros.

Ana continuava parada, observando. O problema era maior do que havia imaginado. Governo? Ele era do governo?

- Entre no carro.

- Não – negou veemente – Não vou a lugar algum com você... com vocês.

Tirou o capacete e o deixou sobre a moto. Os dois se encararam por instantes.

- Ethan, precisamos sair daqui – notificou um dos seguranças olhando para o mestiço.

Ethan? Ana cerrou os olhos.

- Para onde quer me levar?

Ethan suspirou, mas não demonstrou estar irritado ou impaciente. Seu rosto continuava inexpressivo.

- Entre no carro, Ana. Eu te explico no caminho.

- No caminho para onde?

- Você saberá quando chegar.

- Você está sendo um pouco vago – comentou Ana com sarcasmo, mas sem se mexer.

- Só quero concluir meu trabalho o quanto antes – ele rebateu – Entre... Não me faça te obrigar.

Era notável o quanto ele era diferente dos outros homens parados ali, observando a situação. Ninguém o questionava e estavam prontos para aceitar qualquer ordem vinda dele.

Mesmo se teimasse em não entrar, Ana tinha certeza de que ele a obrigaria e ela acabaria fazendo o que ele queria, como no telefone ou na moto. Podia confiar nele? Ethan tinha salvado sua vida, mas podia confiar nele? Engoliu a saliva e ouviu algumas buzinas soarem. Esperava não se arrepender.

Ao entrar no carro, ouviu Ethan dizer:

- Sem escoltas.

- Entendido – um dos seguranças respondeu.

Ethan entrou no carro e fechou a porta. No mesmo instante, tirou o celular do bolso e digitou alguns números. Enquanto esperava alguém o atender, pediu para o motorista seguir em frente.

- Ela está comigo – o ouviu dizer com a voz um pouco mais suave – Estamos indo ao seu encontro... Sim, foi como havíamos imaginado... Preciso que identifiquem a placa GHI 1845. Conversamos quando eu chegar.

Ethan agia como se absolutamente nada tivesse acontecido. Olhando para seu rosto, era difícil dizer o que ele realmente pensava. Seus olhos castanhos e rasgados olhavam para frente, seus lábios formavam uma linha tranquila em seu rosto e seus cabelos continuavam impecavelmente penteados.

Entre LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora