Capítulo sem título 7

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Julia:

De todos os lugares do mundo, esse seria o último lugar que eu esqueceria: Nossa casa na árvore.

Lembro como se fosse ontem do Ryan mostrando ela para a gente, nossos olhos brilharam como sendo aquelas visões que todas as crianças ficam fascinadas e com a maior vontade de usar. Nossos pais não aprovaram de começo, mas, depois de vários dias insistindo, eles (nossos pais) marcaram uma reunião para decidir se nós podíamos ou não ficar na casa, já que era perigoso para um grupo de crianças ficar subindo um um lugar velho, de madeira, e, ainda por cima, em cima da árvore.

Chegamos a dormir lá várias vezes. Contávamos histórias de todos os tipos e eu sempre me assustava com as histórias que Ryan falava, como se ele vivenciasse aquele tipo de coisa todos os dias e, a casa fosse seu lugar de refúgio.

Lembro-me de quando nós brincávamos de "Defensores da Justiça" ou algo assim, que era basicamente nós saindo pela rua praticando coisas "do bem", como por exemplo: ajudar os velhinhos á atravessarem as ruas, pegar papel, garrafas e coisas do gênero jogados no chão e jogar na rua, "lutar" contra nossos inimigos (que no caso, eram todos imaginários) etc...
Enfim, depois de todos esses anos, lá estava eu e a casa lá em cima. Sabia que era um sonho desde que a vi exatamente como antes: Intacta.

Depois do desastre, nunca mais deixaram ninguém entrar naquele terreno.

Eu não queria subir as escadas. Não queria ver aquele ambiente que eu cresci e que agora eu não posso mais ter. Não queria mais relembrar o passado.

Foi ai que eu ouvi a voz de alguém lá em cima.

-Ry-an?

Não aguentava mais a pressão de tudo aquilo. "É tudo ou nada" - Pensei.
Subi as escadas e levantei o nosso alçapão improvisado.

Luke, Chloe, Lissa, Ryan e até eu estavam lá dentro. Todos sentados em um formato de círculo. Eles estavam rindo e totalmente desligados do mundo lá fora, ambos ainda pequenos.

Eles não sentiam minha presença, como se eu fosse um fantasma curioso e também quisesse ouvir as histórias.

Como eu tinha problema para acordar dos meus sonhos, sentei do lado do meu "eu", cruzei as pernas e prestei atenção ao que Ryan estava prestes a dizer:

-Vou contar uma história agora. - Ele ria como se não aguentasse segurar mais. - Certo dia, eu cheguei aqui no nosso quartel (ele dizia que a casa na árvore era nossa "base" para nos proteger dos inimigos) um pouco mais cedo que o normal e, como de costume, fui ascender a fogueira. O fósforo tinha acabado, então, pedi para Luke e Mark descerem e arranjar alguma coisa que eu podia usar para queimar a lenha. Chloe e Lissa me ajudaram lavar os pratos sujos da noite anterior e Julia estava lendo seu livro como de costume.
No começo, achei que era apenas uma história aleatória que me cérebro estava desenvolvendo, mas, depois, percebi que se tratava não só de um dia que realmente aconteceu, mas sim DO dia. Aquele que Ryan morreu.

Ele parou de contar e começou a me encarar com um sorriso malicioso.
-E no fim. - Disse ele ainda me encarando. - Eu fiquei assim! - Seu rosto que antes era impecável, branco como a luz, se tornou uma aberração. Ele começou a tomar uma cor avermelhada, bolhas de queimadura começaram a brotar em todas as partes de seu corpo. Aquilo já não era mais uma criança, muito menos um humano.

-Ry...An? - Dei passos para trás até trombar em alguém.

-Onde você pensa que vai? - Luke estava do mesmo jeito que Ryan, como se tivesse acabado de sair de um forno.

Luke segurou meus braços e me levantou. Eu tentei reagir, mas, Luke estava mais forte do que nunca e eu nem sequer saí do lugar.

Ryan se aproximava de mim com o mesmo sorriso maligno de agora pouco.

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