Incerteza e Raiva

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Ryan:

Abri os olhos e me vi num ambiente totalmente diferente, mais uma vez. O quarto era mais escuro que os demais e, não sabia ao certo como e porque de eu estar vivo. Lembro-me muito bem de como eu "supostamente" morri. Por algum motivo eles colocaram algo na árvore e, da janela eu via todos rindo de mim, inclusive ela... 

Mas porque? Porque minhas memórias estavam tão vagas? Tão... bagunçadas.

Consegui tirar meus braços das algemas que me prendiam (eu emagreci muito para poder fazer isso) e usei algumas ferramentas que estavam ao meu alcance para tentar desarmar as que prendiam minhas pernas.

Querendo ou não, essa seria a única coisa que eu fazia nos últimos meses: abrir algemas e portas.
Depois de alguns minutos apanhando para as algemas da perna, finalmente eu me livrei delas.

-Bem melhor assim! - Me espreguicei. 

Tentei abrir a porta, mas, como já era de se esperar, estava trancada.

-Lá vamos nós mais uma vez. - Resmunguei.

Não sabia ao certo... talvez amanhã. É, acho que é. Amanhã eu teria mais uma consulta como todas as outras que eu tenho de 7 em 7 dias e, para variar, minha cabeça estaria a mil, uma dor inexplicável e inacabável.

Eu sempre quis ir na sala dos pacientes do Dr. Millow mas eu nunca tive coragem. Meu rosto... meus braços... Eu tenho vergonha do meu próprio corpo. Mas hoje vai ser diferente, eu tinha uma máscara. Ela era toda preta com buracos apenas nos olhos. Vesti uma camisa com manga comprida e fui a tão e imaginada sala.
Chegando lá, havia umas 15... não, 20 pessoas (fora as que estavam eu seus quartos) presentes. Todas sorriam e faziam suas atividades cotidianas como se fossem pessoas novas, nem um pouco doentes.
-Oh!! - Uma garotinha de aparentemente ter uns 8 anos começou a puxar de leve minha calça. - Você é algum tipo de Herói?

-Ã? Eu... - Não sabia o que dizer, aqueles olhos azuis me deixavam fascinado. 
-Tudo bem! - Ela sorria. - Um herói nunca revela sua identidade, né? 
Ela saiu correndo atrás de mais duas crianças que passaram por ela, provavelmente brincando de pega-pega.

-Minha identidade, é...? - Cochichei.

Afinal, quem sou eu? Enquanto eu ficava preso nos pensamentos no meio daquela sala cheia de energia, alguém, não sei quem, retirou minha máscara.

"Acabou" - Pensei. "Todos vão começar á gritar e eu serei o motivo de risada, mais uma vez" 

A pessoa que tinha tirado minha máscara era um homem de meia idade. Ele estava pálido e encarando meu rosto sem nenhuma reação.

As pessoas á minha volta começaram a parar de fazer suas atividades apenas para me encarar. Eu não aguentava mais toda aquela pressão. Tudo que eu queria fazer era fugir. Fugir para um lugar isolado, apenas eu e minhas cicatrizes do passado misterioso.

-Deve ter sido difícil para você. - O senhor começou a se aproximar de mim e me abraçou quando eu menos esperava. - Está tudo bem. - Ele dizia. - Nós todos sofremos por algo ou alguém.

Todos começaram a nos abraçar, formando um bolo de pessoas carentes. A pergunta é: Porque? Porque eu não tive reação? Porque deixei que eles fizesse o que quisessem? Porque ninguém se assustou?

O povo formou uma espécie de "rodinha" em minha volta e a mesma garotinha veio chorando até mim, me abraçando nas pernas. Suas lágrimas molhavam minha calça como se estivesse me curando de todos os pecados que eu havia feito nos sonhos e talvez na vida.
-Me desculpa! - Ela chorava como um bebê. - Você realmente é um Herói! 
Eu não sabia o que responder. Não sabia como a reagir á tudo isso. Não sabia como sentir.

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