Decisão

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Apenas amem ler, tanto quanto eu amei escrever.

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"Amor"? Meu Deus. Como... Como assim? O Harry é gay? É ÓBVIO QUE ELE É, O CARA LÁ CHAMOU ELE DE AMOR. Mas... Espera. Agora tudo faz sentido. Nossa como não percebi antes? O Harry vivia correndo da minha irmã. Que por sinal, eu esqueci de comentar, ela também se mudou. Quando meu pai fica bêbado, ele se vira contra ela, então aconselhei a ir morar com a vovó. Continuando... COMO EU SOU LERDO. Deve ter sido por isso que ele foi expulso de casa. Os pais, tão religiosos quanto um dia os meus já foram, não aceitavam o fato dele ser gay. Mas... E agora? Eu queria tanto agradecer, e quando o NAMORADO dele disse aquilo, eu saio correndo... Isso vai tudo contra o que minha mãe me ensinou. O que eu faço?

Claro que depois daquilo eu vou correndo pro carro de volta, falo pras minhas amigas irem embora. Durante a viagem de volta elas não param de perguntar o que aconteceu, mas eu não respondo, porque lá no fundo eu sabia que o tinha feito era ridículo. Porém o amor e respeito pelo que minha mãe tinha me ensinado era maior, e não iria quebrar ele assim tão fácil. Chegando na casa de Raile eu não consegui resistir aos tapas e gritos das meninas, e contei o que havia acontecido.

- Por isso, Louis? Por causa dessa besteira você não agradeceu a ele? - reclama Raile - Não importa isso, cara. Ele pode ter um namorado com "o" no lugar onde poderia ou não ter um "a", mas mesmo assim ele salvou a sua vida. Ele não concertou seu carrinho de brinquedo ou tirou o vírus do seu computador. Foi a sua vida, ta entendendo?

- SIM, EU TÔ. Não me faz sentir ruim por isso, porra. - grito - Mas eu me sentiria ainda pior se desobedecesse a minha mãe. Tudo aquilo que ela me ensinou sobre certo e errado eu não vou simplesmente jogar no vaso e dar descarga.

- Eu vou jogar você no vaso e dar descarga. - se manifesta Maiana, o que até eu fiquei bastante espantado. - Louis, pode não ser verdade, mas se não fosse aquele cara, você nem estaria aqui agora. Então para de ser idiota, e agradece ele.

- Desculpem meninas, mas... - sou interrompido pelo toque do meu celular, o que naquele momento eu percebo o quanto ele é irritante. - Alô?

- Alô, vadio, é você?

- Alice? - pergunto.

- Em voz, charme e poder. Um passarinho me contou que você tem uma decisão difícil pra tomar, o que na minha opinião é bem óbvia a opção certa... - Ela fala, eu olho pra meninas com um olhar de raiva, e a única que abaixa a cabeça é Ingrid. A única que não falou comigo desde que a gente chegou aqui, ou seja, já estava falando com Alice.

- Ingrid... - eu com voz tenebrosa.

- Desculpinha, mas ela também é sua amiga e tem todo direito de te aconselhar. - ela fala de cabeça abaixa. Eu respiro fundo, e volto a falar com Alice.

- Opção óbvia? Sabe o que é você quebrar os ensinamentos que a sua mãe te ensinou a vida toda por-

- Por um cara que salvou a sua vida? - ela responde rápido.

- É... Tanto faz...

- Tanto faz? Louis, cara, não tem nenhum "tanto faz" nessa história, tá? É claro que você tem que agradecer ele, velho. Além de ter salvo tua vida, vocês eram amigos.

- Alice, eu tenho que ir. Beijo. - desligo o celular, deixando claro que eu não tenho que ir a lugar nenhum, só não quero falar mais nada. Aproveito isso e me despeço das meninas também, e vou pra casa. Quando chego lá, vou direto pra cama, pego o celular e vou ler o primeiro livro salvo que eu ainda não terminei. Harry Potter? Perfeito. Passo toda a madrugada lendo pra ver se esqueço os meus problemas. Harry, coragem. Rony, fome. Hermione, cérebro. E Dumbledore, sabedoria. Como eu queria ter um professor igual a ele. Ou pelo menos um pai, que por sinal não está em casa. Aquela maluquice imensa na minha cabeça me faz pesquisar sobre Harry Potter parecendo um louco só para ter algo pra pensar por um tempo. Não foi uma boa ideia.

- DUMBLEDORE É GAY? - grito no meu quarto. - Puta que pariu. Será que isso é um aviso, sei lá? Oxe, que nada haver. Aff, eu devo tá ficando maluco, vou dormir.

No dia seguinte acordo umas 13:00 da tarde, porque quanto mais tarde eu acordar menos tempo vou ter pra pensar sobre aquilo. Escovo os dentes, tomo banho, tudo ainda dormindo, claro. Depois de tomar café com meu pai, que não fiz questão de perguntar onde estava, só um "bom dia" já estava de bom tamanho, vou passear um pouco no parque. Andando, e vendo as crianças brincando e cachorros correndo pra lá e pra cá me fazem pensar "por que eu nunca tive um cachorro?". Afinal, seria tão bom, né? Ter um companheiro e tals. Mas um pouco mais pra frente vejo uma garota muito bonita sentada no banco. Sento ao lado dela. Cabelos negros, olhos verdes. Depois de uns cinco minutos ali, chega outra garota também bonita e as duas garotas se beijam e ficam sentadas ao meu lado. Aquilo me dá uma vontade irresistível de falar:

- Er, desculpa incomodar, mas... Como vocês fizeram pra vencer, tipo, o preconceito? - pergunto morrendo de vergonhaaaa.

- Olha amor, um curioso. Bem garoto curioso, não foi nada fácil. Mas nós percebemos que o nosso amor é bem mais forte do que a falta de cérebro de muita gente por aí. - depois daquilo eu fico em silêncio por uns 5 segundos e pergunto:

- Mas... E os seus pais? - ainda com vergonha.

- Aí foi ainda mais difícil, não pela minha mãe, mas pelo meu pai que era muito mais homofóbico. No caso dela foi a mãe.

- É verdade. Era muito complicado, depois de me assumir, ter que aguentar tudo aquilo...

- Mas, com o tempo eles perceberam que por mais que falassem não iriam mudar o nosso amor, e a nossa opção, então simplesmente aceitaram...

- Nossa... - digo surpreso.

- Mas porque faz tantas perguntas, garoto? Por acaso tem medo dos seus pais por ser gay? - pergunta uma delas com uma cara irônica.

- NÃO! - grito eu. Nossa eu tô gritando demais. - Eu só tô passando por um problema, porque um amigo meu é gay, mas minha mãe era bem religiosa e eu não quero ter que contrariar ela, principalmente porque ela não está mais comigo.

- Sinto muito. Mas digo que mesmo falecida e religiosa ao extremo, em algum lugar ela ainda te ama e sabe que esse seu amigo é importante pra você. - depois disso eu levanto, olho pra elas agradeço e saio. Tá achando que vou correr? Não mesmo. Ainda são 14:30 da tarde, não preciso disso. Percebo que esqueci uma coisa com elas duas e volto:

- Ei, esqueci de perguntar o nome de vocês...

- Ah, meu nome é Lauren e o dessa coisa linda é Camilla - nós rimos.

- O meu é Louis, prazer e obrigado.

- O prazer é todo nosso em ajudar. - me despeço delas e vou até a casa de Maiana. Bato na porta, ela abre:

- Oi. - ela.

- Oi Mai. - Tudo bem? Me empresta o carro da sua mãe? Tenho que ir agradecer a uma pessoa. - ela sorri e entra. Logo depois ela volta com as chaves do carro. Ainda acho a mãe dela doidinha.

- Vamos. - pergunta ela.

- Não. Dessa vez Mai, eu vou só. Preciso ir só. - digo todo confiante.

- Huuuum, okay. Toma. - ela me entrega as chaves, eu pego o carro na garagem e vou. Vou um pouco mais nervoso dessa vez, mas mesmo assim feliz por ter tomado a decisão certa. Obviamente com essa ansiedade toda eu estava distraído e não vi o sinal fechado. Passo direto por ele, ouço uma buzina, olho para os lados e vejo os faróis, os mesmo que quase me mataram um dia. Mas dessa vez, não tinha o Harry pra me salvar...






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