Capítulo 3 - O Primeiro Contato

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Eu não acredito que ele fez isso. Corri até a porta e virei a maçaneta e nada, ele me trancou e meu braço não parava de doer, o arranhão era fundo e estava doendo muito, a camisola branca já estava vermelha por causa do sangue, caminhei de volta até a cama e me sentei, me vi no espelho e percebi que eu estava com o cabelo ainda molhado do banho, a dor foi aumentando e eu via tudo embaçado, senti uma dor na parte de trás da cabeça, ficou tudo escuro e apaguei novamente.

* * * *

Acordei meio tonta e estava deitada na cama, senti meu braço fisgar, o que fez minha mão tocar involuntariamente o lugar da ferida, quando toquei senti um tecido amarrado por cima preto, olhei ao redor para ver se tinha alguém, mas o quarto estava vazio. Me levantei e sentei encostada na cabeceira da cama, olhei para o lado esquerdo da cama vazio e vi que havia um bilhete, na verdade quase uma carta.

"O relógio contou de onde veio, mesmo que no fundo eu não acredite. Entrei no quarto para me desculpar mas você havia desmaiado devido ao ferimento que te causei, me senti ruim e cuidei de você, que você possa me perdoar, depois que acordar venha até o salão da grande mesa, vou estar te esperando para podermos comermos juntos, você ainda está fraca e precisa colocar algo na boca. Te espero.

Fera (não gostei do nome, mas infelizmente é a única maneira que você me vê)"

Me senti horrível por tê-lo chamado daquela maneira, mas isso era ele, uma fera. Olhei novamente o ferimento tapado pelo pedaço de tecido e vi que ele havia trocado minha roupa, agora eu estava com um vestido vermelho fino, mas confortável, coloquei minhas pernas para fora da cama e encostei meus pés no tapete ao lado da cama, meus dedos gostaram da sensação do tapete, ele era fofo e macio, olho para a porta e vejo relógio entrando.

-A senho... você está bem? - Ele fala com um olhar preocupado, e se aproxima do guarda-roupa, puxa uma gaveta e tira um par de rasteirinhas brancas quase bege e traz para mim. -Coloque isso, o mestre não vai querer que fique doente.

-Seu mestre cuidou de mim? - Pergunto quando calço o sapato e sinto que estava gelado.

-Sim. É a primeira vez que vejo ele cuidando de alguém em tantos anos. - Ele fala quase sussurrando.

-Como assim em tantos anos? - Ele olhou para mim e ficou em silêncio. A porta faz um barulho e vejo o pedestal entrando.

-A senhora já acordou? Que bom, o mestre te espera. - Ele falou apontando para a porta.

Me levantei e andei, saímos do quarto e os dois estavam à minha frente, saímos do corredor e caminhamos até a escada principal, avistei a mesa e ela era muito grande, tinha tanta comida que minha boca se encheu de água. Ele estava sentado em uma das pontas, ele se levantou e andou em pé nas patas traseiras até mim, ele ficava muito alto dessa maneira, meu pescoço doeu quando tive que olhar para cima para vê-lo direito, ele estava vestido com calças brancas e um Blaiser azul com um lenço amarelo no pescoço e havia um laço azul amarrando sua juba para trás, inconscientemente acabei sorrindo vendo aquela cena, não achava que um animal daquele tamanho poderia acabar se vestindo assim.

-Porquê está rindo. - Eu fiquei séria na hora.

-Por nada. - Falei e ele me olhou de cima a baixo.

-Eu perguntei o motivo do seu sorriso. - Ele ficou de quatro e se aproximou de mim.

-Agora você vai me impedir de sorrir também? - Falei cara a cara com ele.

-Não - Ele olhou para o chão. -Não foi isso que eu quis dizer. - Ele olhou de volta para mim com um olhar de desculpa. -Você precisa comer, venha. - Ele se virou e começou a caminhar, não me aguentei e comecei a gargalhar e ele olhou para mim com fúria.

-Desculpa... - E tentei tapar a boca pela razão da risada, então bule, pedestal e o relógio viram o que eu vi e também caíram na risada.

-Do que vocês estão rindo? - Ele gritou entre rosnadas no salão. Todos ficaram em silêncio absoluto até que ouvi o tic-tac do relógio bater indicando que iria começar a rir novamente. -Do que é que está rindo? - A Fera pegou o relógio e começou a arranha-lo. Me aproximei e encostei em seu braço, percebi que meu toque fez ele ficar rígido e olhar para mim de uma maneira diferente.

-A sua calça esta rasgada na parte de trás. - Falei baixo para que somente ele ouvisse, mas o bule havia ouvido e não se aguentou fazendo puxar uma gargalhada de todos os móveis do salão.

Ele olhou para todos que estavam rindo e ficou com vergonha, jogou o relógio ao longe e saiu correndo, aquilo fez o rasgo abrir mais e todos aumentarem a risada. Peguei o relógio que estava longe e com um arranhão em suas costas e o coloquei de pé.

-Porquê ele colocou aquela roupa? Ele não poderia ter vindo sem? - Perguntei quando o relógio já estava melhor em pé e os móveis estavam se recuperando das risadas que haviam dado a pouco.

-Ele fez questão, por causa da senhora. - Um cabide grande se aproximou.

-Mas não precisava. Vou falar com ele. - Me levantei e me virei para o local para onde ele havia fugido. Todos os móveis estavam olhando para mim enquanto eu percorria o castelo atrás dele.

Andei por vários corredores até que encontrei um quarto aberto e ouvi um rosnado baixo, abri um pouco a porta com cuidado e vi no chão a roupa rasgada, o quarto era parecido com o que eu estava a uns instantes atrás, tirando a rosa esculpida na madeira da cama.

-Com licença. - Falei quando avistei ele na varanda do quarto em pé apoiado no parapeito olhando a floresta.

-Você veio rir de mim novamente? - Sua voz saiu meio rouca parecendo que havia chorado. Ele olhou para trás me observou e voltou a olhar para fora.

-Vim pedir desculpas. - Falei quando me posicionei ao seu lado e fitei a floresta. Ele me olhou pelo canto dos olhou e ficou quieto. -Aquilo pode acontecer com qualquer um, você não precisava ter saído daquele jeito. - Me virei para ele e toquei a pata dele que estava no parapeito da varando, ele olhou para a minha mão.

-Eu não devia ter colocado aquela roupa. - Ele ficou de quatro e voltou para o quarto.

-Ou ter colocado uma calça um pouquinho maior. - Falei sem perceber e ele me olhou com raiva.

-Está me chamando de gordo? - Ele corre até mim e me aperta contra o parapeito.

-Não. Só que você é grande, aquele tamanho nunca que iria caber. - Falei firme mas estava tremendo de medo. Ele bufou na minha cara me fazendo fechar os olhos.

-Saia do meu quarto. - Ele se afastou e apontou para a porta.

-Mas..

-Saia. - Ele fala novamente um tom mais alto. Eu fico parada sem me mover somente olhando ele. -Eu disse para sair. - Ele me empurra e eu caio no chão.

-Eu somente queria pedir desculpas e falar com você, mas eu tinha me esquecido que não dá para falar com uma Fera. - Falei me levantando e ajeitando a manga do vestido. Ele rugiu quando falei aquilo e me empurrou para fora do quarto e fechou a porta na minha cara. -Você é um monstro. - Gritei, ele abriu a porta, gritou na minha cara e bateu a porta novamente, eu ouvi ele passando a chave.

Quando olhei para o lado vi bule e pedestal me olhando, eles se aproximaram, olharam a porta e voltaram o olhar para mim.

-Vocês brigaram novamente?

-O que acha? - Acabei gritando pela adrenalina do momento. Os dois se assustaram e se encolheram. -Desculpa. - Me ajoelhei perto deles. -Não tive a intenção, é que ele me tira do sério, a gente não consegue falar nenhum minuto sem brigar. - Falei olhando a grande porta de seu quarto.

-Ele é bom senhora, eu sei que é, só que você deixa ele nervoso. - Falou o bule se aproximando de mim.

-Agora a culpa é minha? - Me levantei e coloquei as mãos na cintura.

-Não. Não foi isso que eu quis dizer.

-Deixa pra lá, ele que se exploda, não vou mais tentar me entender com ele. Parece que tudo o que faço irrita ele. - Falei cruzando os braços e olhei para a porta andei até uma das janelas do corredor, mas me senti tonta e novamente apaguei.

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Bjs

Me Apaixonei Pela Fera - Para Degustação em 01/12Onde histórias criam vida. Descubra agora