Capítulo 8 - Seu Cheiro

1.4K 167 15
                                    

-Temos que correr, a espada não vai ficar dormindo por muito tempo. - Ele me colocou no chão e me puxou pela mão.

-Como assim dormindo? - Quando terminei de falar nós entramos em uma sala pequena, havia mesas de metal, algumas correntes penduradas no teto e ao fundo uma bolha de água flutuando. Cheguei mais perto e vi a espada dentro da bolha, meu nome estava brilhando como se ela quisesse me chamar para tira-la dali, mas eu não ouvia nada. Olhei para ele, e vi mexendo em uma estante de livros que eu não havia notado quando entrei, mas a estante era realmente grande, percorria toda a extensão da parede atrás da porta de metal pesado.

-Achei! - Ele gritou tirando um livro verde de capa dura, aquele livro eu reconheceria em qualquer lugar. -Era o que eu precisava. - A sua felicidade me fez sorrir, nunca que eu poderia ver um animal daquele tamanho com tanta felicidade, a diferença entre meu mundo e esse a qual estou é completamente insano.

-Porquê você precisa desse livro? Se você tivesse falado eu contava o que precisasse, eu sei ele decor e salteado. - Falei apontando para o livro, ele olhou para mim com fúria e então me calei. Me posicionei ao seu lado e fiquei olhando o que tanto ele lia.

-Aqui - Ele apontou para a frase que eu tanto gostava, eu sorri nessa hora. O livro "A flor fatal - Dama negra" era meu segundo conto favorito.

-"Sua morte, minha morte, no outro mundo te terei sem sede, nossos corpos serão um. E ela não nos perseguirá." O que você quer com isso? - Perguntei depois de ler a frase em voz alta.

-Vamos para o seu mundo. - Ele sorriu para mim.

-Mas isso é possível? - Me virei para ele e olhei em seus olhos. Ele se aproximou e retirou o cordão ao qual o pingente era a rosa negra.

-Sim. Mas não posso te contar como. - Ele amarrou o cordão em seu punho grande e me abraçou novamente. -Pronta?

-Pra quê? - Ele pega a ponta de uma das correntes ao seu lado e empurra, a corrente balança até acertar a bolha e ela explode liberando o que tinha dentro. Minha mão gelou, procurei por ele mas ele já havia sumido, eu não acreditei que ele me deixou à própria sorte.

Meus olhos embaçaram, minha boca se encheu d'água e seu cheiro estava por perto, me abaixei pegando a espada que parou em meus pés devido o empurro que a água da bolha lhe proporcionou. Comecei a andar com calma e seguia o cheiro dele, seu cheiro era doce e ao mesmo tempo sombrio, parei na escada principal e vi ele parado no meio do salão, comecei a descer com calma olhando seu olhar frio e distante, ouvi um barulho de passos, em menos de segundos vários homens apareceram querendo mata-lo e chamando-o de monstro, ele e os homema correram para fora do castelo, ele estava tentando ganhar tempo para fugir de mim, não suportei aquela cena e comecei a ficar irritada, a fera era minha, sua morte pertencia à mim somente.

Caminhei alguns passos e a espada fez o resto, quando me dei conta eu estava no meio da floresta, ainda era noite, meu coração agora estava mais calmo. Olhei para toda a cena e vi um livro conhecido em meio aquela cena de guerra, capa branca de couro e em dourado "A Bela e a Fera", peguei e abri em uma página qualquer, havia a imagem de uma garota em frente a uma rosa coberta por um vidro.

-"Uma rosa coberta por um vidro, uma janela grande e um rugido, bela se esconde debaixo de uma mesa e a porta se abre, suas unhas arranhavam o chão e seu cheiro anunciava que acabara de caçar, havia sangue em suas patas e Bela ainda estava no quarto, seu pelo dourado agora estava escuro pois havia entrado na água para pegar seu alimento, o cheiro de pelo molhado tomou o quarto fazendo Bela tapar o nariz pois estava forte e seus olhos já lacrimejavam, o vento anunciava que estava olhando a floresta que havia em frente ao castelo, por várias vezes em seu quarto ela gostava daquela vista pois o verde sempre a gradara, mas naquela noite por estar com insônia como de costume desde quando a Fera havia aprisionado-a ela não conseguia dormir, suas mãos estavam suando quando uma aranha aparece fazendo ela assustar e bater a cabeça na mesa e um abajur cair. O silêncio tomou conta do local e o coração de Bela batia mais rápido que antes, quando ela colocou a cabeça para fora para ver se ele ainda estava lá a mesa voa fazendo ela se abaixar, ela olha entre os dedos para cima e vê ele em pé nas patas traseiras olhando-a com fúria, ela sabia que suas desculpas não adiantariam pois ele havia avisado que aquela torre não deveria ser adentrado ao contrário do resto do castelo que ela já havia se aventurado com seus serviçais, sua respiração estava ofegante e de seu corpo ainda pingava água pois estava encharcado, o vento gelado batia fazendo tudo ficar ainda mais assustador, somente havia a luz da rosa encantada que iluminava o quarto. Ela se levantou e ficou de pé na sua frente, ele olhou-a por inteira e rugiu alto fazendo-a se encolher e tapar os ouvidos, ele se aproximou agora com as quatro patas ao chão.

-Eu disse para nunca vir nesta torre. Eu havia deixado que andasse por todo o castelo com uma advertência apenas. Que esta torre ficasse fora de seus planos. - Ele disse em seu ouvido e rugiu novamente. Bela somente permanecia em silêncio, pois sabia que estava errada. Ela permaneceu imóvel."

-Quem dera isso tivesse acontecido de verdade. - O livro em minha mão estava se manchando com o sangue que ainda estava em minhas mãos. A espada reluzia a luz da lua e ainda pingava sangue, meu vestido estava sujo na barra de terra e meu cabelo estava solto ao vento, havia corpos por todos os lados e ele estava me olhando friamente. Sorri e ele correu, eu não podia impedi-lo, eu sou um perigo para sua vida.

Devido a tantas mortes minha sede de sangue deu trégua, dei mais uma olhada para o que eu tinha feito e não acreditei o tanto de sangue que eu havia derramado, a espada agora já estava limpa e eu comecei a sentir seu cheiro novamente. Sentindo seu cheiro comecei a caminhar em direção ao que vi ele correr, mesmo no escuro eu sabia por onde ir, me deparei com um rio, sua correnteza era forte e refletia a luz da lua, eu ainda sentia seu cheiro, de repente sinto minha cabeça doer, algo havia me acertado, passei  mão na nuca e eu estava sangrando, me virei e vi ele parado, corri o mais rápido possível, quando estava pronta para ataca-lo ele levanta o colar. Parei e fiquei olhando para a rosa balançando, coloquei a mão no pescoço e o desespero tomou conta, algo em mim se desesperou como se fosse preciso aquele colar para terminar o serviço.

-Quem ler nunca existirá, a profecia se cumprirá e a fera se transformará. - Ele falou balançando o colar.

Levantei a espada, virei a lâmina correspondente a frase e passei minha mão por cima das palavras, as letras começaram a correr formando uma outra frase "O leitor existe, a profecia se cumpriu e a fera se transformou", um vento forte bateu fazendo várias folhas me acertarem, quando parou a fera não mais existia. Seus olhos humanos me observavam, sua altura era considerável a mim, seus cabelos compridos até os ombros me fizeram me perder nele, seu peitoral me chamou atenção, seus braços me seguram em um abraço, a espada começou a virar pó.

-Nos veremos. - Seus lábios encostam nos meus, suas mãos quentes percorrem meu rosto até o pescoço. Sinto um vento gelado, sua imagem começa a sumir e a escuridão me invade.

*  *  *

Acordo de manhã na minha cama, abro as pálpebras devagar, o sol batia no meu rosto, me levantei num pulo, estava em casa sozinha.

Fim...

***********
Último capítulo, amanhã será o epílogo.

Votem e comentem, não sejam leitores fantasmas.

Bjs

Me Apaixonei Pela Fera - Para Degustação em 01/12Onde histórias criam vida. Descubra agora