Três

814 101 104
                                    

A quarta feira amanheceu fria como a segunda e a terça, Eleanor acordou com a mesma preguiça que teve dois dias atrás, quando viu uma carta na rua.
-A carta... -Ela disse assim que levantou.

Foi até o banheiro e viu atrás de si, no espelho, a sombra da sua preguiça, como um fantasma.
Entrou no chuveiro cantando Good Morning Good Morning e saiu cantando Not a Second Time.
Vestiu a roupa cantando Act Naturally e desceu as escadas cantando Baby It's You.

Foi até a cozinha e viu sua mãe lendo uma revista e seu pai lendo um jornal.
-Essa manhã tá parecendo manhã de desenho animado. -Ela disse enquanto comia seu cereal, seus pais se entreolharam e confirmaram.
-Realmente, querida. -Disse sua mãe.
Ethan apareceu nos pés da escada completamente acabado.
-Bom dia, Tim Burton. -Disse Eleanor, seu pai abaixou o jornal para ver o rosto do filho.
-Como assim "Tim Burton", filha? -Perguntou seu pai.
-Olhe o cabelo dele! Se não for o Tim Burton é o Sweeney Todd.
-Aham, eu vou passar a navalha no seu pescoço se você não calar a boca. -Ethan sentou ao lado do pai e mastigou um sanduíche.

Eleanor levantou e subiu as escadas, pegou seu livro e seu casaco, desceu as escadas e saiu.

Lá fora, próximo a esquina, um vento sinistramente frio passou por Eleanor, fazendo-a colocar as mãos nos bolsos do casaco.
Uma das mãos tocou uma moeda fria e a outra tocou uma carta.
Ela tirou a mão do bolso segurando a carta, a carta de baralho, a mesma carta que ela viu na rua, na segunda feira, a mesma carta que vagou pelos seu sonhos e a mesma carta que Maxwell a mostrou antes de desaparecer.

Ela não teve tempo de virar para ver o outro lado da carta, uma porta vermelha surgiu na sua frente, como mágica.
Eleanor quase caiu para trás, mas se segurou na maçaneta da porta, que se abriu para um lugar completamente diferente.

Do outro lado da porta estava um ambiente antigo, com pessoas antigas passando para lá e para cá.
Eleanor observava a tudo sem mover um músculo.
Nos pés da porta, havia uma carta, dinheiro e uma chave negra, Eleanor pegou tudo e pôs-se a ler a carta.

"Well, shake it up, baby, now! Shake it up, baby!
Twist and shout!

Querida Eleanor, lembra de mim? Sou eu, Maxwell!
Eu abri esta porta no tempo para você, senti seu amor pelos Beatles e resolvi fazer isso.
Você pode fazer o que quiser assim que cruzar esta porta, mas não faça nada que mude o futuro absurdamente, isso trará consequências terríveis para a humanidade, pois não substituirá as memórias, mas será colocado por cima, deixando duas versões de memória.
Um exemplo:
Se você impedir que John Lennon morra, no futuro haverá a memória de quem viu ele sendo morto e dos que viram o sucesso dele através dos anos.
É como aqueles que acham que Paul McCartney realmente morreu e os que acham que é mentira.
A chave negra é para você voltar para seu tempo original, basta colocar ela em qualquer porta, abrir e Tcharam! Você volta pro seu quarto. Mas apenas use-a para voltar para o futuro, não tente usá-la para voltar para o passado.
Aproveite seus garotos de Liverpool.
Beijos no seu pé, para você não ir por caminhos errados S2."

Eleanor riu das brincadeiras de Maxwell, mas ainda estava assustada com tudo aquilo, não sabia se entrava no passado ou se permanecia no futuro.
Ela deu mais um passo, pensava na sua sorte de ter essa chance.
Deu mais outro, pensou nos garotos que amou mesmo sem ter nascido na época.
Parou, pensou nos seus amigos da escola.
Recuou, pensou em seus pais e em seu irmão.
Pensou em voltar, mas viu passar na frente da porta um rosto bastante familiar. O rosto de John Lennon.

Parou de pensar e cruzou a porta. Entrou no passado que tanto quis viver, com disco de vinil, vitrolas e principalmente: Os Beatles.

Eleanor não percebeu, mas no fim da rua, um grupo de jovens assistia a tudo e a viram desaparecer no tempo.

A Door To The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora