Capítulo 14

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Chegar em meu novo apartamento foi bom. O prédio era antigo, mas charmoso. Um tom de rosa desbotado nas paredes. Sem elevador, mas eu morava no terceiro andar e o exercício me faria bem.
A síndica, Dona Rosa, uma senhora de sessenta anos e rosto severo me ditou um monte de regras enquanto me acompanhava até minha porta.
Eram proibidos animais, festas, jogos de qualquer espécie. O aluguel era cobrado dois dias antes, sem pagamento, rua. Ela foi bem enfática nesta parte. Apertou a chave em minha mão. Sorriu e se foi.

Entrei e joguei minha pouca bagagem no chão. A sala era grande com uma sacada e uma janela de cada lado. Achei lindo e arejado. Me lembraria de comprar cortinas para as manhãs de domingo.

Os domingos depois da morte da minha mãe foram tristes e solitários, mas agora eu pretendia mudar isso. Usaria meus domingos para conhecer a cidade.

Mamãe me fazia tanta falta. Meus domingos eram dela, independente de quem eu namorava ou onde trabalhava. Passávamos o dia conversando enquanto ela fazia os pratos que eu mais gostava. Provavelmente comia mais nos domingos do que na semana toda.

A decisão de partir para outro lugar, tentar encontrar outro emprego, um que me satisfizesse de verdade, foi em parte para me libertar de todas aquelas lembranças que se chocavam comigo a cada esquina. Aqui poderei criar lembranças novas. Claro que eu me lembraria da minha mãe, mas talvez não vá doer tanto agora.

Seco minhas lagrimas. Vou até minha mala maior e tiro dela um colchão inflável.

Depois de alguns minutos de esforço meu colchão esta pronto para uso. Resolvo tomar um banho. Arrasto minhas malas para o quarto, a vista da janela dava para uma cidade cheia de prédios e casas. O quarto era amplo e de uma cor rosa antigo, já estava até imaginando os moveis que compraria. Talvez decorasse combinando com o prédio e a cor do quarto, moveis antigos e bem delicados.

Me dirijo ao banheiro do outro lado do corredor. O banheiro era simples, um box separando do resto, um grande espelho sobre a pia.

Tiro minha roupa e entro no box, quando ligo o chuveiro ouço um estalo e vejo uma faísca saindo do alto do chuveiro, a água cai gelada em meu corpo.

- Droga! – Grito assustada. – Não acredito que queimou!

Tomo banho rapidamente tremendo de frio. Uma das coisa que mais odiava era água fria.

Saio do banheiro e vou para meu quarto, minha camisola fina não esta me esquentando, me enrolo no lençol e na colcha que trouxe comigo.

Ainda enrolada dou uma volta para ver os outros cômodos. A cozinha era grande o suficiente para caber uma mesa de seis cadeiras, mas claro que eu não compraria uma. Gostava de espaço para me mover. Eu era um pouco desajeitada.

Volto para meu quarto e me deito. Olho para o céu com poucas estrelas. Desejo a elas boa noite. Passo os dedos pela medalha de nossa senhora Aparecida que trouxe dos poucos pertences que restaram da minha mãe. Fecho os olhos e me deixo embalar pelos sons dos carros e das pessoas. Esperando que o que me espera lá fora, seja bom.


Tudo ficará bem.Onde histórias criam vida. Descubra agora