O Delegado

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O Delegado estava ansioso e imerso em seu drama familiar cotidiano, talvez isto explique a indiferença com o ocorrido naquele dia fatídico em Paracuru. Não havia acontecimentos que estressassem mais o Doutor Roberto que um drama familiar, com direito a acusações mútuas e lembranças de sonhos não realizados por causa do matrimônio. Nem mesmo aquele corpo a sua frente frente podia tira-lo disso.

-ora homicídios não são incomuns em lugares turísticos cheios de tarados, loucos e pervertidos, mas porque seria logo um homicídio, aqui nunca acontece este tipo de crime, e quando acontece, são dois noias disputando um resto qualquer de droga. Pensou o Delegado cheio de preconceito ao se deparar com o corpo do garoto franzino com um crucifixo ao lado do corpo. O garoto tinha uma expressão de pavor no rosto sem vida, mas nada que um delegado experiente não tenha visto antes.

Porém seria de fato um assassinato? ou um mero caso de morte natural?

-Fernanda tira uma fotografia ali e mais uma aqui. Ordenou o Delegado observando umas pegadas estranhas ao lado do corpo.

-o que você acha que aconteceu aqui Fernanda? Perguntou para sua assistente enquanto tirava os óculos escuros para da uma olhada melhor na situação.

-Dr. Acho que foi um usuário de drogas que exagerou na dose e acabou se dando muito mal. Olha ali um cachimbo de crack! Respondeu apontando com o dedo indicador na direção de uns pequenos arbustos logo a frente.

O doutor Jorge Monteiro já havia trabalhado na divisão de homicídios da capital, cadáveres eram uma constante em sua rotina, para o experiente delegado aquele era somente mais um caso em sua carreira, sem grande importância, mas os fatos dos próximos meses se mostrariam tenebrosos até mesmo para um policial experiente como Jorge.

Na noite anterior ao ocorrido na praia, o Delegado havia tido uma briga familiar horrível, e como consequência exagerou um pouco no whisky. Sua ressaca fazia com que sua cabeça doesse e seu estômago revirar como um liquidificador quebrado. Seu enjôo não era por causa da cena grotesca que presenciava, como Fernanda chegou a imaginar.

Alguns PMs que chegaram primeiro ao local, faziam algumas colocações para o Delegado, que fingia educadamente dá atenção aos que falavam. Neste dia o trato social do policial não estava dos melhores com os companheiros de trabalho. Sua dor de cabeça lhe causava uma dor de cabeça extremamente irritante, ela se localizava bem a cima dos seus olhos, ele tinha a sensação que algum demônio estava enfiando um alfinete em brasa bem na sua testa e quando falava ele tinha a impressão que o seu mal estar era intensificado. Ele tentava esconder a vermelhidão dos seus olhos com óculos escuros, o que lhe dava um certo alívio. O sol castigava e não estava para brincadeira aquele dia.

-deve ter sido um desses drogados da praia, eu odeio essa gente! Falou o Delegado para o sargento comandante da patrulha. Que respondeu com um comentário sem muito entusiasmo.

-pode ser doutor. Respondeu o policial coçando duas barriga avantajada!

-Delegado, e aquele crucifixo ali do outro lado. Observou a linda assistente que acompanhava o Delegado na diligência. No entanto, a linda assistente não havia se dado conta que o Delegado já havia se dado conta do fato inusitado.

-certamente é do provável assassino ou da provável vítima. Responde o Delegado, não acreditando em suas próprias palavras. Talvez estivesse apenas sendo enfático com sua assistente para mostra autoridade. Ele estava mais inclinado a acreditar que foi apenas mais uma oreia de drogas que não deu certo, como tantas outras que já tinha presenciado em sua carreira na capital.

-depois que você terminar com as fotografias e empacotar as provas, pode mandar recolher o corpo. Foram as últimas palavras do Delegado antes de se dirigir para a viatura.

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