21 Transformados

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Sede. A pobre garota transbordando de fúria misturada a medo, sentia sede, uma fome incontrolável enquanto despertava, Lembrava-se de está na floresta, lutando depois que matará suas vítimas na inútil tentativa de satisfazer sua fome, estava lutando na tentativa de defender seu território, mas fora derrotada.

O invasor a derrotara com um único golpe, depois apagou e quando acordou estava ali, faminta e cansada, as roupas esfarrapadas e sujas tinham sido substituídas por uma calcinha de algodão e uma regata que se ajustara perfeitamente a seu corpo magro, pálido e frio, por um momento sentiu-se constrangida, e envergonhada, como se estivesse tão vulnerável a olhares predatórios,  mas ao tocar os caninos afiados saltando da boca, ela arfou,  não deveria se surpreender, mas ainda assim era difícil se adaptar a isso, os olhos vermelhos como sangue, estava imóvel e desgastada, não conseguia abrir os olhos, não respirava, só ouvia tudo a sua volta.

Podia sentir os vários tipos de aromas a sua volta, perfumes caros e baratos, cheiro de cerveja e bebidas, suor corporal, e aquele ao que se viciara desde a floresta, sangue, também podia ouvir o som dos corações batendo, o sangue correndo nas veias, e uma música clássica tocando, ao que parecia no andar de baixo, então deduziu mesmo de olhos fechados que estava no andar de cima de um bar, a quilômetros da cidade, conhecia perfeitamente aquele lugar.

Tinha estado ali, com Barney na última vez em que o viu, os dois estavam saindo desde que ela o conhecera em um bar enquanto conversava com Miranda, e em seu primeiro encontro havia faturado uma jaqueta e uma moto, ao qual deixara com Barney naquele mesmo local antes de pegar seu Dodge, estava bêbada, por isso tinha parado no acostamento ao se perder na rodovia, e foi cruelmente traída pelo destino, passara por um tipo de horror que nunca passara antes enquanto seus assassinos rasgavam sua carne e bebiam seu sangue, mas por algum motivo, aquele mostro não a matou, o monstro miserável a jogara no rio.

Queria tanto esquecer tudo o que tinha acontecido mas não conseguia esquecer, cada momento de sua morte estava ali, plantada como um pesadelo ruim em sua mente, enquanto ela tentava fugir. Se libertar.

Se perguntou se seus pais estariam preocupados, se já teriam notado seu desaparecimento, mas aí lembrou que eles nunca se importavam com ela, que estavam sempre ocupados com a empresa, mas talvez seus amigos estivessem preocupados, pensou em Tatyana, em nina, Gracie, e novamente em seus pais, já havia dito a si mesma que não se importava com eles, que não os amava mais.

No entanto, mesmo assim, sentia que precisava pensar neles, eram sua família, e sim talvez estivessem preocupados com seu desaparecimento, a suposição a fez sorrir, poderia ter chorado, de felicidade, carência, o que fosse, se quer sabia que podia sentir algum sentimento depois de morrer e descobrir por si mesma que não era mais humana, não tinha lágrimas, embora seus olhos ardessem, sentia apenas uma dor dilacerando seu coração, uma mágoa profunda, o desejo de se vingar crescendo, junto com a maldita sede, e a raiva, a garganta seca, enquanto se erguia, o corpo dolorido e sujo, inspirou o ar a sua volta e sorriu, deixando escapar um grunhido assustador, igualmente a uma fera     selvagem e faminta, a procura de uma presa, se levantou de seu leito, e ficou surpresa ao notar onde estivera deitada, um caixão, mas havia se sentido confortável ali, enquanto tentava descansar, não  sentiu o chão frio, muito menos sabia qual era a temperatura lá fora, se era dia ou noite, não sabia. Se sentia apenas_ confusamente_ segura e confortável.

Se perguntou como tinha ido para ali, no BlackBirds? Quem a deitara no caixão? Não sabia, e talvez isso não importasse agora, queria voltar para casa, abraçar seus pais, e dormir um pouco, visitar seus amigos, e ser normal como antes.

Mas agora, que seu queixo tremia, que era tomada cada vez mais pela sede, ela percebeu que jamais seria normal outra vez, com certeza seus pais notariam sua pele pálida, e fria, sem vida, seus olhos vermelhos, e vidrados, seus caninos saltando pela boca como as presas  de um lobo, não era nenhuma garota ingênua, tinha percebido agora o que era, tinha visto aquilo nos cinemas, lido em livros, e sabia o que estava acontecendo com seu corpo, sabia que não poderia tomar sol porque seu corpo entraria em chamas, não poderia mais comer ou dormir, jamais seria normal. Nunca mais seria a garota que pousara seminua para a capa de uma revista para irritar os pais, também não seria mas a garota rica e Mimada, invejada e paparicada, por todos os seus amigos, também não seria mais a garota que fora trocada por uma empresa pelos próprios pais, que se sentia sozinha e depressiva.

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