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Amanheceu. Um novo dia começou, acordei com o toque de uma mensagem em meu celular, é da operadora perguntando se quero assinar o pacote sobre notícias dos famosos, como se não existisse vários sites por aí que me informasse de tudo e mais um pouco. Já são 10:32 da manhã, penso em voltar a dormir, mas pensei comigo mesma "Marie Stokes é o último dia pra você aproveitar a liberdade antes que se comecem as aulas e é obrigada a voltar para o "Laboratório" mais conhecido como colégio". Então me levanto e vou me trocar, pego minha calça jeans rasgada, meu All Star preto favorito, coloco minha camisa xadrez vermelha que ganhei de natal da minha avó e um boné, porque meu cabelo não amanhece como uma das sete maravilhas do mundo, e também não sou o tipo de garota que se importa com os padrões sociais.
Em seguida desço as escadas animada para tomar meu café da manhã, e ir encontrar meus amigos no parque que fica em frente à minha casa. Quando chego na cozinha encontro com minha mãe.

- Que roupa é essa? - Ela questiona com cara de desprezo.
- A mesma de sempre. - Respondo enquanto abro a geladeira e pego um copo de leite.
- Não tem uma roupa mais feminina para vestir não?
- Mãe, por favor não começa com isso de novo.
- Não estou começando nada. Eu só acho que você poderia comprar roupas melhores, as pessoas falam...
- Tchau mãe... Até mais tarde! - Grito a interrompendo no meio da frase antes que comece mais um dos seus sermões de como garotas como eu devem ser vistas pela sociedade e blá blá blá.

Já na porta de casa consegui ver Krist, Dj e Jaden sentados no banco mexendo em seu celulares. Eles são meus melhores amigos desde que me mudei pra cá há 5 anos atrás. Dj me avista de longe.

- A emo gótica da meia noite deu as caras meus amigos! - Esticando os braços pra cima como se fosse em agradecimento.
- Cala a boca DêJota! Hoje eu levantei mais rápido que os dias normais.
- Bom dia Maah! - diz Krist com um enorme sorriso no rosto. - O que nos conta nesse último dia de liberdade?
- Estou até animada, em pensar que é o último ano que vou precisar olhar pra cara daqueles ratos. - Pra mim a escola é um enorme laboratório onde nós alunos somos todos ratos controlados para que façam experimentos com nossas mentes. - Finalmente vamos ficar livres de tudo.
- Você vai sentir falta de tudo isso quando ver que tudo acabou. - disse Jaden, focado em um jogo no seu celular.
- Claro, vou sentir muita falta de um lugar onde nos impedem de ser criativos, que tem uma comida horrível e principalmente por esse ano nos obrigar a ficar o dia inteiro presos naquele lugar.
- Achei uma p*** falta de sacanagem isso. Diz Krist.

Estávamos todos sentados conversando sobre o que iríamos fazer de diferente esse ano. Pois a cada ano a gente mudava algo naquele lugar ou em qualquer outro, mas o foco mesmo era o laboratório. Quando surge na esquina do parque Sam, na verdade "O" Sam, o garoto lindo que é meu crush desde a sexta série quando mudei pra cá. Sam tem os olhos verdes, cabelos castanhos curtos e um belo corpo, na verdade que corpo. Ele é o tipo de garoto que jamais olharia para uma menina como eu, com olhos de "quero beijar aquela boca". Enfim, ele estava vindo para o parque correr como fazia em todos os domingos, não que eu saiba que ele faz isso sempre porque fico da minha janela olhando, não tem nada a ver.
Ficamos somente eu e Dj no parque pois Krist foi embora porque foi chamada pela mãe pra ajudar com o almoço, pois alguns de seus familiares iriam almoçar em sua casa, e pouco tempo depois Jaden se foi também com a desculpa que já estava com fome, isso era 11:40, quem fica com fome neste horário?! Dj e eu desconfiamos que ele gosta de Krist, mas ele é o típico garoto nerd que tem "medo" de levar um não das garotas, ou até um tapa, não se sabe o que se passa na cabeça dele. E Krist é o tipo de garota que espera pelo boy magya, aquele que é cobiçado por todas as garotas do colégio. Tipo o Sam.
De longe avistei minha irmã Meggie vindo em nossa direção.

- Mamãe mandou te chamar pra almoçar, e disse que se demorar ela vai guardar tudo e você vai ficar sem comer. Mas se quiser guardo seu prato no microondas.
- Diz a ela que não vou comer em casa okay?!
- E vai almoçar onde?
- Isso não é da sua conta.
- Posso ir com você?
- Vou pra um lugar onde só vai ter adultos chatos conversando sobre coisas chatas, você não vai gostar.
- Tudo bem.

Meg abaixa a cabeça e sai andando. Então dei um grito.

- Ei pirralha, quando chegar em casa a gente vai ver aquele filme que você me chamou pra ver, tudo bem?
- Tudo bem! - disse ela com um sorriso no rosto.

Começei a pensar... Meg é a única na minha casa com quem eu realmente me importo, a única que me trata bem naquele lugar. Ela uma vez disse que eu a inspiro, então procuro ser uma boa irmã pra ela, pois ela só tem 7 anos. Meu pai nunca demonstrou sentimentos por mim, sempre foi um ausente em minha vida, nossa relação é estável a maioria das vezes, porque não temos o que conversar um com o outro. Minha mãe me trata como uma estranha, só sabe brigar comigo, questionar minhas roupas, meu jeito e me dar sermão quando é chamada na escola por algo que fiz. E minha outra irmã Mika (não sei porque meus pais tiveram a compulsão de colocar os nomes com a mesma letra... Mas enfim), Mika é insuportavelmente insuportável, totalmente egoísta, egocêntrica, e cheia de manias ridículas pois acha que já é "jovem", e a insuportavelzinha só tem 12 anos.
No meio dos meus pensamentos sou interrompida por Dj.

- Hey Alice, tá no país das maravilhas?
Dj tem uma mania de colocar uns apelidos ridículos para alguns momentos.
- Não. - respondi pegando meu celular.
- Então, qual o lugar que tem adultos chatos que você vai almoçar?
- Sua casa. - Respondi olhando pra ele com um sorriso debochado.
- Eu não me recordo de fazer tal convite.
- Quem aqui liga pra convite? Hahaha, desde quando preciso disso?
- E meus pais não são chatos.
- Claro que não! São ótimas pessoas que só falam sobre "A vida e seus preceitos". - Então caí na risada.
- Cala a boca! - Disse, com cara de bravo mas doido pra soltar um sorriso. - Então vamos, o almoço já deve estar pronto.

Dj morava duas casas depois da minha, Jaden na esquina do quarteirão e Krist a três quarteirões depois. Chegamos na casa e logo veio a mãe de Dj.

- Oi senhorita Stokes, como está?
A mãe de Dj é outra que tem uma péssima mania. Mas a dela é chamar as pessoas pelos seus sobrenomes.
- Estou bem tia Lia, e a senhora? - educada sempre, porque a mãe de meus amigos acham que sou uma ótima companhia pra eles.
- Bem também. Você chegou em uma boa hora, acabei de fazer almoço, que almoçar com a gente?
- Ela já veio pra isso mamãe. Ela tipo que se convidou. - disse Dj.
- Não fala assim menino, e vai pegar as coisas pra ela comer!

Fomos pra cozinha e almoçamos, a comida estava simplesmente ótima, me senti na obrigação de comer mais uma vez. Logo após subimos para o quarto de Dj e fomos jogar Resident Evil, sempre colocamos em modo duplo pra concluir missões, confesso que sou melhor que ele. As horas passaram rápido, olhei para o celular e já eram 19:26, tinha uma mensagem da minha mãe perguntando se eu não tinha casa. Ficamos horas jogando e não percebemos, então disse a Dj que iria embora, ele me levou até a porta. Chegando em casa fui tomar meu banho e chamei Meg pra ver o filme, ela veio toda animada, fiz pipoca pra nós e coloquei pra rodar.
No meio do filme Meg me pergunta.

- Maah, porque você é diferente?
- Não sou diferente Meg, só gosto de vestir roupas mais confortáveis, mas isso não me faz diferente.
- Não estou falando de suas roupas. É que mamãe e papai tem os cabelos loiros, eu e Mika também, porque você nasceu com cabelos mais escuros?
- Meus cabelos são castanhos claros, eles escureceram mais que os seus, por isso ficou assim.
- Entendi.

Confesso que a pergunta de Meg me deixou pensativa, Todos de minha casa eram completamente brancos e loiros, minha pele é mais morena e meus cabelos mais escuros que os deles. Meus avós também são loiros, não tinha nenhum parente próximo que tinha algo parecido comigo.
Fiquei pensando tanto nisso que não prestei atenção no resto do filme até perceber que ele já tinha acabado e Meg tinha caído no sono. Então, desliguei a TV a levei para seu quarto, fui para o meu quarto e me deitei. Dei uma olhada rápida nas minhas redes sociais, respondi Krist pois ela tinha deixando uma mensagem e deixei o celular, pois já estava tarde e tinha que me preparar para levantar cedo e ir para o laboratório.
Demorou para que eu pegasse no sono pois continuei pensando no fato de ser diferente, disso me surgiu muitas dúvidas, até que então caí no sono.

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