Já estou cansada

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 Minha mãe entrou na sala com um olhar, que se seus olhos fossem metralhadoras poderiam me considerar fuzilada. Ela se sentou sem dirigir a palavra a mim, então dona Carmen começou com o sermão.

- Então senhora Stokes, chamei você aqui porque Marie estava exaltada no vestiário do colégio, e quando fui chamar a sua atenção ela me tratou com muita falta de respeito. A senhora por acaso sabe o que está acontecendo com sua filha que fez com que ela agisse de tal modo?
- Não, ela nunca sabe nada sobre mim. - interrompo.
- Marie por favor, me deixe falar com sua mãe a sós, nos espere no corredor. Em breve te chamo.

   Dona Carmen e minha mãe ficaram mais ou menos uns vinte minutos na sala conversando, então peguei meu celular e comecei a ouvir músicas, não há no mundo algo que me acalma mais do que música. Foi só entrar no universo de Green Day que sou interrompida por dona Carmen me cutucando e chamando para entrar em sua sala. Ao entrar me sentei ao lado de minha mãe, ela estava com uma cara fechada que se quer olhou pra mim.

- E então? - perguntei.
- Marie, você está passando por algum problema? - indagou dona Carmen.
- Não.
- Porque agiu daquela forma no vestiário?
- Estava de cabeça quente.
- Porque? O que aconteceu?
- Nada. Já pedi desculpas. - Dona Carmen fica me encarando por alguns segundos com uma cara como se eu estivesse na beira morte.
- Marie, sua mãe e eu conversamos e chegamos a conclusão de que você precisa de tratamento com psicólogo. Não decidimos isso por causa de hoje, mas sim dos outros anos, você apresenta um grau sentimental indefinido, e você não consegue controlar suas emoções.
- Aposto que você decidiu isso sozinha, porque tenho certeza que minha mãe não opinou sobre nada, porque ela nunca faz nada que seja bom pra mim. Por acaso você parou pra perguntar minha mãe se a causa de que eu seja assim não é culpa dela dona Carmen? Parou pra perguntar se ela realmente se importa comigo? Parou pra perguntar o porque que ela não fez a doação pra mim no hospital sendo que ela é compatível comigo? Por acaso a senhora parou pra perguntar se ela não me prefere morta? Não venha me dizer que eu tenho problemas, porque a única pessoa que vejo com problemas nessa sala é minha mãe... Porque...
- Fique quieta menina! Não diga coisas que você não sabe. Eu já disse que não sou compatível com você. -  Diz minha mãe me interrompendo.
- Para!! para com esse seu jogo, para de mentir. Eu já sei da verdade, eu já sei que você é compatível comigo e que não doou porque não quis. Não venha fazer teatro porque estamos na frente da coordenadora, que eu tô cansada disso, eu tô cansada de você....
- CALA A BOCA MARIE! - grita minha mãe comigo, em seguida me dá um tapa na cara. - Eu estou casada desse seu jeito rebelde! Eu estou cansada!
- Que bom, porque eu também estou.

   Saio da sala sem a autorização de ninguém, volto ao vestiário pego minhas coisas e pulo o muro da escola, eu não estava nem aí se fosse levar suspensão ou até mesmo ser expulsa. Estou de cabeça quente, não quero saber de nada nem ninguém por um longo tempo, desliguei meu celular e fui dar volta em um parque que fica na saída da cidade pois sei que ninguém vai  lá, então poderia ficar em paz.
   Demorei praticamente uma hora e meia pra chegar ao parque e como pensei não tinha ninguém, pra falar a verdade esse parque não funciona a muito tempo, os brinquedos estão enferrujados, perdendo as cores e muitos até quebrados. Fui até o fim do parque onde dava pra ver toda a cidade pois ele ficava no topo em uma montanha e tinha uma vista incrivelmente incrível. Me sento na beirada da montanha. Fecho os olhos e sinto o vento bater em meu rosto então abro os braços e começo a gritar, grito como se fosse a última coisa a fazer da vida, grito até sentir minhas cordas vocais doerem. Até que então começa a passar imagens de toda a minha vida, de todas as coisas que me ocorreram, todas as brigas com minha mãe, todas as vezes que ela não se importou, todas as vezes que meu pai foi um completo estranho, todos os momentos de brigas com Mika, todos os anos sendo apaixonada por Sam e ele gostar da minha melhor amiga, eu só conseguia me lembrar dos momentos ruins de minha vida, é claro que aconteceu coisas boas e tem pessoas boas em minha vida como o Luk, a Meg e meus amigos, mas nesse momento eles são apenas uma gota em meio ao oceano. Em meio a todos esses pensamentos me questiono o que estou fazendo de minha vida. Qual o real significado da minha existência? Por que tenho que passar por isso? (Sim, estou passando por uma crise existencial.)
   Eu não vejo significado para continuar com isso que chamo de vida, acho que é até desrespeito dizer que tenho uma. Pensamentos vão, pensamentos vem, até que então me vejo de pé na beirada do penhasco, o vento bate forte, fecho meus olhos e respiro fundo e finalmente crio coragem...

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