Capítulo IX

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Houve segundos de silêncio. As raparigas olhavam-se como se alguma delas pudesse ter a resposta para aquela situação que tanto confundia a sua mente. Estavam assustadas, naquele momento mais do que nunca. Uma das amigas de Suzan começou a chorar levada pelos nervos.

Por fim o diretor deixou escapar um longo suspiro, percebendo que o seu dia de trabalho ainda estava longe de terminar. Retornou a abrir a porta do seu gabinete, dando licença para as raparigas passarem. Todas hesitaram... Mas nenhuma tinha escolha. Estavam obrigadas a entrar e voltar a explicar toda aquela situação ilógica de novo.

Novamente na mesma semana lá estavam as duas amigas de volta aquele gabinete de mobília antiga e estantes cobertas de livros e ficheiros, sabe-se lá do que, embora supuseram que a maioria fosse sobre os alunos da escola. Ao contrário da última vez o ambiente estava mais escuro e sombrio, apenas com a luz da secretária ligada enquanto o diretor volta a a sentar-se na confortável poltrona que naquele momento, para ele, parecia uma coberta de pregos. Como desejava um pouco de descanso junto da sua família.

Numa competição inexistente, as três amigas apressam-se a sentar-se em cada uma das duas cadeiras disponíveis, sendo que uma delas teve de acabar por se sentir no colo de outra enquanto Audrey e Zheine ficaram de pé atrás delas, fitando o diretor cansadas, ainda com os corpos a tentarem voltar a um estado calmo de equilíbrio. Os seus olhos estavam cobertos com olheiras e quem as visse não poderia deixar de notar o seu ar cansado, exausto, desengonçado. De momento era esse aspeto o que mais chamava a atenção do diretor.

-Muito bem. Contem-me lá o que aconteceu. Tudo desde o início. - O olhar do diretor elevou-se para as duas companheiras de quarto, dando o óbvio sinal de que esperava que fossem elas a explicar a situação. Só que mal tinha acabado de falar, já estavam todas a tentar explicar-se, umas sobre as outras, misturando momentos, situações e palavras. Falavam do vigia, dos livros a cair, da Suzan desaparecida, da escola estar assombrada, da biblioteca, de que iam morrer, tudo sobreposto, sem algum seguimento ou orientação. Foram precisos uns dois minutos para o diretor as conseguir calar a todas de uma vez, confuso com tanta informação que lhe estavam a atirar do nada para cima de forma tão desesperada e alarmada.

-ACALMEM-SE!! - exclamou num tom frustrado. - O que é que a biblioteca tem a ver com isto?

-Nos ficamos presas na biblioteca!! - Uma delas disse rapidamente num tom aflito como se quisesse sublinhar a importância daquele facto.

-As portas não abriam!

-Luzes...

-...Caiam...

-Os sons...

-A Suzan...morrer!!

Voltavam a exclamar ao mesmo tempo, fazendo os sons misturarem-se e o diretor voltar a confundir-se com a situação que cada vez o incomodava mais. Bateu com o punho em cima da mesa com força suficiente para o barulho do impacto as fizessem calarem-se no mesmo segundo.

-Como assim estiveram na biblioteca? Sabem quanto tempo já passa da hora de recolher?!? A biblioteca é proibida depois do toque de recolher!! Não conhecem as regras?!? Como se atreveram... - Calou-se, respirando profundamente. Precisava de se acalmar. Precisava de se acalmar rapidamente. Estava sobre observação e sabia que nenhuma das raparigas era burra para não perceber o seu estado. Sentiu-se inquieto. Não estava a gostar nada da situação. Nada mesmo.

-Nós sabemos, diretor!

-Mas a Suzan tinha desaparecido! Nos fomos procura-la!!

-Como assim? - O seu olhar ergueu-se para as raparigas e desta vez todas, mas calmas, conseguiram explicar a situação, ajudando-se umas às outras. Falaram de Suzan ter desaparecido antes da hora de recolher e de a terem ido procurar à biblioteca, o último lugar aonde sabiam que ela tinha estado. Exatamente a mesma conversa que tinham tido com o vigia que havia desaparecido. Metade do cérebro de Zheine ainda tentava perceber e interiorizar tudo isso.

Arua: The Last SacrificeOnde histórias criam vida. Descubra agora