Capítulo XI

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O som que vinha do corredor, era de várias pessoas falando ao mesmo tempo, assutadas, incrédulas, uma profunda tristeza a ressoar pelos corredores daquele andar. Todas rapidamente se levantam, sem hesitar em seguir aquele temível som, e correm para fora do quarto. Havia várias pessoas, seguindo os choros, quase como gritos de desespero que aparentemente pertenciam à garotas. Zhei, Audrey, Lou, Iza e Rose seguiram a multidão, até chegarem a enfermaria, onde as três amigas de Susan encontravam-se desoladas, sendo acalmadas por alguns professores e funcionários. Não demorou muito para o local ficar cercado de estudantes, que assim como elas, estavam perdidos em tal situação.- O que houve aqui? - questionou Audrey, esperando que alguém naquela multidão pudesse dizer algo. Mas todos pareciam estar tão confusos quanto o resto. Quando deram por si, avistaram uma figura conhecida a fotografar do lado de fora da enfermaria, como se quisesse registrar o que havia lá dentro. Os cabelos azuis eram inconfundíveis, assim como a mesma e tradicional câmera que ele sempre usava, em qualquer lugar.- Por que o Gui esta tirando fotos da enfermaria? - perguntou em bom e auto som, para que o restante do grupo também escutasse. Audrey redirecionou o olhar para Gui, assim como Lou, Iza e Rose. Estranho, pensaram.- Que diabos ele esta fazendo? - indagou Rose. Haviam pessoas chorando ali, era realmente uma boa hora para fotografar? Ou melhor, fotografar o que? Devido ao desespero de algumas alunas, era óbvio que algo muito ruim havia acontecido, era uma péssima hora pra fotografar qualquer coisa que fosse.- Vamos descobrir. - disse Zhe por fim, tentando se esquivar da multidão e indo diretamente até o rapaz. Realmente queria saber o por que daquela ação, e tirar à limpo essa história de uma vez por todas. Mas antes que pudesse chegar até ele, Patrick rapidamente se aproxima com passos bem pesados e toma a câmera das mãos de Gui, que fica surpreso com a situação, assim como as garotas que estavam por perto. Mas deveriam admitir, o ruivo não parecia nem um pouco contente.- Tenha um pouco mais de respeito! - exclamou irritado - Não vê que à pessoas sofrendo aqui? Logo Patrick lhe devolve a câmera de um jeito brusco e sem qualquer tipo de cuidado, não dando outra opção para Gui se não deixar o local antes que o deixasse mais furioso. Ele saiu bufando, irritado por ter sido interrompido, as garotas acharam melhor não se intrometerem, mas Audrey queria saber o que realmente estava acontecendo. A morena se aproximou de Patrick, mesmo que suas pernas estivessem a vacilar pela aproximação, o mesmo tentava afastar a multidão, mas os curiosos eram muitos. Joe ajudava o amigo, mas até mesmo com ajuda era difícil controlar a situação, tendo em vista que todos ali eram incontroláveis. Alguns funcionários tentavam conter, mas o pavor era tão grande quanto a curiosidade de ver o que estava acontecendo, ou melhor, o que havia acontecido.- Patrick! - chama Audrey, tentando se aproximar. O rapaz logo percebe a presença dela, e apesar de ainda estar tentando afastar o restante, ele para para dar atenção a morena.- Não é bom vocês verem isso. - avisou ao se aproximar.- O que houve?- Sua companheira de quarto... - começou, mas não sabia como terminar aquela frase. Não sabia nem ao menos a melhor forma de informar aquilo.- Susan? - perguntou Zhei surpresa, se aproximando, junto com as demais.- Sim, ela mesma... A enfermeira não deu muitas informações, mas ela já estava agindo estranho desde noite passada, e à pouco começou a ter convulsões...- Convulsões?- Sim... - suspirou o rapaz - Ela teve um ataque epilético, e... - E...? - perguntou Audrey apreensiva, esperando o pior daquelas palavras.- Sinto muito. - lamentou Patrick, e todas sabiam o que aquilo significava. Um tumulto daquela dimensão, só seria possível caso algo trágico houvesse ocorrido, e pelo visto, Susan já não estava mais entre eles. Elas estavam sem qualquer tipo de reação, por mais que Susan fosse alguém completamente detestável, ela não merecia aquele destino. Tantas vezes ela foi uma verdadeira cretina, mas mesmo assim faria falta à alguns, principalmente para a família.- Obrigada. - agradeceu Audrey ainda incrédula, sem tirar os olhos do chão, tentando desviar o máximo possível a sua visão da porta da enfermaria. Que mais parecia a entrada de um pesadelo horrível.- Você esta bem? - questionou o ruivo, vendo o quanto Audrey ficou abalada com a notícia.- Estou sim... - a voz da morena saiu falha - Preocupe-se com a multidão.- Esta impossível! - reclamou Joe se aproximando - Todos querem ver o que aconteceu. Nem os funcionários estão conseguindo conter.Aquilo era inegável, eram muitos alunos para tão poucos funcionários, a situação estava um caos, e os choros só pioravam ainda mais a situação.- Posso perguntar algo? - Rose pronunciou-se. Patrick assentiu, dando a liberdade de questionar - Posso fazer todos sairem correndo, mas tem que me prometer que eu não vou sofrer as consequências com isso.- E o que pretende? - indagou Joe.- Apenas faça! - uma voz ao fundo soou, e quando se deram conta, o Srº Bittelburn estava logo atrás do grupo, com a face nada satisfeita ao ver tantos curiosos tentando entrar na enfermaria - Não quero ver ninguém neste corredor que não seja meus funcionários.Alguns estranharam a permissão do diretor para Rose afastar a multidão, mas devido ao estado crítico, uma ajuda viria muito bem a calhar. Rose fez um sorriso malicioso nos lábios, se aproximando da entrada da enfermaria, ela parecia ter uma certa felicidade ao fazer aquilo. Ao lado da porta, havia caixa de hidrante presa à parede, lá estava uma mangueira de incêndio de alta pressão. Rose rapidamente encaixou a mangueira ao registro, apontando-a direto para a multidão. Não demorou muito até muitos alunos saírem correndo ao serem atingidos pelas fortes rajadas de água. O método foi bem radical e molhado, mas funcionou melhor do que o esperado. Apesar dos gritos e do corredor ter ficado completamente ensopado, nenhum aluno permaneceu ali. Alguns funcionários também se molharam, mas com certeza era melhor do que ter que segurar alunos inquietos. Logo Rose deixa a mangueira cair ao chão, afinal o trabalho estava cumprido e sua expressão demonstrava isso muito bem. O diretor caminhou calmamente por entre o piso molhado, e colocou uma das mãos sobre os ombros de Rose.- Obrigado. - agradeceu ele, ainda sério com a situação. O mesmo ordenou para que os faxineiros limpassem a água, e o restante da equipe o acompanhassem até dentro da enfermaria, onde esperariam as autoridades. Aquele seria um dia longo e estranho, talvez até mais dos que os últimos dias.- Não podemos ajudar? - indagou Iza tentando se aproximar, mas a mesma foi impedida por Patrick.- Se querem ajudar, por favor, voltem aos seus quartos. Meu pai disse que ficaremos alguns dias de luto, portanto não vai haver aulas o resto da semana.- Não podemos vê-la uma última vez? - questionou a ruiva.- Infelizmente não Zheine. - disse Patrick por fim. Ele podia ver a melancolia nos olhos de Audrey e Zhei, apesar de não se darem bem com Susan, elas se conheciam o suficiente para se importarem.- Joe. - chamou Patrick - Faça companhia para elas, acho que nem você pode entrar. Vou falar com meu pai.Ele estava agitado, ao contrário do próprio pai que parecia apenas irritado, mas mantinha a calma de uma forma assustadora. Não havia realmente nada que pudessem fazer à aquela altura se não esperar. O dia correu extremamente lento, era estranho a escola estar tão calma, era como se o clima estivesse extremamente triste e melancólico. O momento mais consternado do dia, foi quando os pais de Susan chegaram. Ninguém conseguia olhá-los nos olhos, ou sabiam como agir. Nunca presenciaram uma cena de desespero tão grande, e ainda sim, sentiram seus corações completamente pesados, uma profunda infelicidade ao verem dois pais perdendo a única filha.Quando a noite chegou, Zhei, Audrey, Lou, Iza e Rosa, permaneceram um bom tempo no jardim do internato, pois queriam um pouco de tranquilidade, visto que o internato estava um caos com as autoridades e outros pais de alunos que com o acontecimento, estavam realmente duvidando da segurança da escola. Estava um clima completamente frio, as luzes dos carros da polícia davam ao local tonalidades vermelhas e azuis, o que não era nada agradável se pensasse bem. Zhei e Audrey estavam sentadas em um banco de concreto, enquanto Lou estava deitada no gramado observando a Lua. Iza e Rose estavam sentadas, encostadas em uma árvore de carvalho. Normalmente o jardim era um lugar extremamente agradável, principalmente à noite, mas naquele dia, parecia que nem a exuberância da natureza, poderia tornar a situação menos ruim. Durante um bom tempo, o silêncio predominou o local, o que já estava ficando bem irritante.- Ainda não caiu a ficha de que a Susan morreu. - comentou Audrey, apoiando a cabeça sobre os braços em cima do colo.- Primeiro a Hiley, e agora isso. Estou quase achando que esse lugar é amaldiçoado. - comentou Lou, sem desviar o olhar do céu - E ainda sim não vamos poder investigar hoje, o internato esta cheio das autoridades. E souberam? As amigas de Susan insistem em dizer à todos que ela não morreu por uma convulsão, mas sim por algo...- Algo?- questionou Iza.- Talvez seja a mesma coisa que a atacou na biblioteca. - comentou Rose.- Zhei... - chamou Audrey, percebendo que a melhor amiga não estava prestando atenção - Zhei! - gritou.A mesma quase pulou do banco, pois seus pensamentos estavam bem longes dali.- Ta tudo bem? - perguntou Lou, se levantando do gramado, e se sentando a encarar a prima.- Sei lá... - disse a ruiva por fim - Até pouco tempo tudo estava bem, e nesses ultimos dias... - Nem me fale. - Audrey tomou a fala - Estou estranhando até agora o diretor ter autorizado um quase afogamento nos alunos. E para ele ter feito isso, com certeza estava querendo evitar um foco maior ainda na morte de Susan.- Ele precisava de medidas drásticas, estava difícil controlar a situação.- É... E com razão, eu sei que estavam curiosos mas deveriam respeitar o fato de que alguém tinha morrido.- Me decepcionei com o Gui. - comentou Zhei. Afinal, não imaginava que ele fosse do tipo que iria fotografar uma cena tão triste quanto aquela. Ela entendia sua paixão por fotos, realmente entendia, mas havia certo ponto entre bom e mau senso, e o que ele fez pendeu para o lado mau.- E não é por menos... - completou Audrey com um ar irritado - Ele foi extremamente insensível.- Audrey! - contestou Lou, afinal estavam falando de um amigo.- Estou mentindo? - questionou ela, o que fez Lou se calar, pois sabia que ela estava certa - Uma aluna morreu, o mínimo que se espera é que tenha respeito, e não uma sessão de fotos de alguém que acabou de morrer.- Convenhamos... - interferiu Iza - Foi uma coisa estúpida, mas também deveriam perguntar por que ele fez isso. Não ajuda muito, mas não acredito que ele tenha sido completamente insensível.- Verdade. - reforçou Rose - Não o conheço tão bem, mas pelo menos ele deve ter tido algum motivo. Ninguém seria tão intratável á esse ponto.- Pode ser... - pronunciou-se Zhei - Tenho achado ele muito estranho, e não de um jeito agradável... Não sei, parece até que esconde algo.- E ele não é o único. - disse Audrey - Tenho certeza que o diretor esconde algo, dá pra ver... Ninguém fica tão calmo quando alguém morre, exceto que não fosse uma surpresa que aquilo fosse acontecer.- Estamos em um ponto em que já não me surpreendo com mais nada. - comentou Rose - Acho que podemos esperar bastantes coisas bizarras nesses próximos dias, mas pelo menos não teremos aulas para nos fazer passar raiva.- Isso é um bom ponto. - Iza falou - Assim teremos um tempo precioso para saber o que realmente esta acontecendo.- Apesar de que... - começou Lou - Apesar de que foi uma fatalidade o que aconteceu com Susan, não podemos negar que temos de tomar muito cuidado. Porque, o que ocorreu hoje, foi um aviso de que, estamos correndo risco de vida aqui... - aquelas palavras soaram bem pesadas. Mesmo após tudo o que viram, ninguém esperava a possibilidade de poder perder a vida, e aquilo era assustador.Todas se silenciaram, cada uma ao seu modo, permaneceram quietas, evitando contato visual uma com as outras. Aquilo realmente estava ficando perigoso demais, e isso era um ótimo motivo para temerem tudo o que estava por vir. Mas não podiam negar que era essencial descobrir a verdade, por mais que ela estivesse longe de ser encontrada, ainda mais naquele lugar esquecido pelo mundo.Uma coisa era certa, aquele pesadelo estava cada vez mais estranho, o que parecia um presságio para algo bem pior que estava por vir. E mesmo nenhuma querendo arriscar a própria pele, estavam de certa forma confiantes por estarem juntas. Afinal, a união faz a força, mas não tinham certeza se apenas a força seria o suficiente, talvez, também precisariam de uma grande dose de loucura.

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2016 ⏰

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