No dia seguinte, Manu acordou bem disposta, e cedo. Tinha até esquecido do emprego, até passar pela mesa de jantar novamente. Foi então que tomou coragem, se arrumou, e pegou as chaves de seu carro. Era dez da manhã, quando ela o estacionou em frente à casa do homem que pôs o anúncio no jornal. Eram duas ruas depois da cafeteria, não foi tão difícil achar o local.
A casa era simples, tinha um portãozinho de madeira pintado de branco, uma grama bem cuidada na pequena frente. As paredes pareciam mal pintadas, uma cor amarelada, suja. As janelas eram baixas, de grades prateadas. Havia também uma horta mal terminada, no lado esquerdo, abaixo de uma das janelas.
Ela procurou uma campainha no portão, mas não tinha nenhuma, então resolveu bater palma e chamar:- Marcos? - chamou baixo.
- Marcos? - chamou em um tom mais alto.
- MARCOS? - gritou.
De repente a porta abriu. Um homem, magro, muito magro, de cabelo bem cortado, vestido com uma calça jeans rasgada, camisa branca, e bota marrom apareceu. Sua vestimenta estava toda suja de graxa. Ele parecia simpático. Abriu o portãozinho, esticou a mão, que estava limpa, e disse que ela podia entrar.
Por dentro, a casa era mais simples ainda, pelo menos era o que Manu achava. o cômodo presente parecia a sala. Tinha um pequeno sofá forrado com um lençol verde água, uma TV LCD 20 polegadas em cima de uma estante de madeira, de cor bege, e um tapete bordo no centro.
Ele apontou para o sofá, para que ela pudesse sentar. Depois Marcos puxou uma cadeira branca, de trás de uma parede, que deveria dividir a sala de uma cozinha.- Então... - disse ela, sem saber o que fazer em uma entrevista. Ele a encarava, o que a deixava mais nervosa. - Tudo bem? - sorriu sem graça. - Meu nome é Emanuele...
- Prazer Emanuele! Bom, como você deve ter percebido, sou o Marcos que pôs o anúncio no jornal. Pus lá porque preciso de uma acompanhante confiável para ficar com a minha filha. Ela fica muito sozinha, apenas trancada no quarto. Só tem a internet para distraí-la, e uns livros. Tento fazer o meu melhor, mas sinto que ela fica sem graça com a minha presença, às vezes. E trabalho como mecânico, nem sempre tenho muito tempo.
- Entendo... Bem, eu... adoro crianças! Sou ótima companhia! Tenho um carro, e se caso não tiver, posso usar o meu mesmo para passear. Posso leva-la ao zoológico, ao cinema ou a praia. Qual é a idade dela? 15, 16...?
- 19 anos! - deu uma pausa e continuou. - É bom saber que é muito prestativa, mas temos um probleminha... - parou por um instante novamente, olhou para o chão, e suspirou. - Você tem alguma experiência como cuidadora? - voltou o olhar para ela.
- Não. Mas já cuidei de uma priminha. Ela sempre passava as férias na minha casa - deu uma gargalhada. Percebeu que o senhor estava fazendo cara feia, uma má expressão para uma entrevista. Ela estava muito nervosa, não sabia o que fazer. Pensou em vários "bons" assuntos, mas nada parecia mais conveniente que ser ela mesma. - Estou cursando medicina, não sei se isso ajuda.
- Bom, isso não ajuda muito, mas acho que você pode ser uma boa pessoa...Talvez possa ser útil. - ele levantou e pegou uma foto no bolso de trás da calça. - Essa é a minha filha, o nome dela é Clarisse.
Na foto ela estava com um vestido vermelho de festa, cabelo trançado para o lado direito, sapatos pretos, e uma pulseira prateada no pulso esquerdo, com um pingente de guitarra. Sua maquiagem estava bem feita, era leve. Usava também um batom vermelho, que combinava com o seu tom de pele. Manu teve uma leve impressão de que já conhecia a menina, mas não tinha certeza.
- Posso conhecê-la? - perguntou ela.
- Ela está no quarto, no fim do corredor. Fique a vontade.
Ela então caminhou até o quarto de Clarisse. A cozinha era comprida. Do lado direito haviam três portas, a terceira era onde ela estava. Ao abrir um pouco a porta, pôs sua cabeça para dentro, viu a menina sentada em sua cadeira, lendo um livro de capa preta.
A parede do seu quarto era cheia de borboletas coloridas. Havia um guarda roupa com portas de correr, uma cama, um rádio e um abajur.Clarisse a olhou assustada, não acreditava que a menina que abriu a sua porta, era a mesma que havia encontrado há três meses na cafeteria. Não sabia o que dizer, nem o que estava acontecendo. Será que a moça também gostou dela e finalmente a achou?
Pôs o livro sobre o colo, e ajeitou os cabelos cacheados, jogando os para a frente. Lembrou que não estava com uma linda roupa, porém ajeitou também sua blusa beje de manga, que estava por dentro de sua saia violeta.- Oi - disse Manu entrando.
- Oi - respondeu Clarisse sorrindo.
Manu sentou na cama, de frente para Clarisse, e sorriu de volta para ela.
- Sou Emanuele - disse sorrindo de novo. Os olhos de Clarisse chamou sua atenção, eram tão meigos e pequenos. - Acho que vou ser sua cuidadora... - disse por fim, para quebrar o gelo.
Clarisse a olhava como se estivesse acabado de ganhar o melhor presente do mundo. Agora que estava mais perto, podia ver a cor de seus olhos, que eram de cor âmbar, também conhecido como cor-de-mel, uma cor rara. Sua boca, que agora se encontrava com um batom vermelho, era tão gostosa, não conseguia parar de olhar. Estava com uma linda blusa decotada preta. Seus seios davam muito volume. Ficou um tempo olhando a, ao todo, e sempre perdia mais tempo observando sua boca, até Manu a despertar.
- Está tudo bem?
- Aham... - disse de um jeito bobo. - Estou ótima. - abaixou o tom de voz. - Seus olhos tem uma cor linda, diferente...
Manu sorriu o que fez Clarisse sorrir também.
- Obrigada, os seus também são...
Mais uma vez o gelo pairou, e outra vez Manu o quebrou.
- Então, acho que vou indo. Só passei para conhecê-la. - disse se levantando. - Vou adorar ficar com você! - falou animada.
- Eu também. - respondeu Clarisse abrindo um largo sorriso.
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A Última Vez
RomanceEmanuele finalmente consegue sair de casa, e passar para uma faculdade de medicina. Em busca também de sua independência financeira, aceita um trabalho como cuidadora, que mudará sua vida, e seu jeito de amar. A última vez é um romance lésbico, com...