Era manhã de sábado, Clarisse e Manu estavam no parque, passeando com Ed. O vento estava forte, um pouco frio, as folhas das árvores estavam caídas no chão, algumas flores caídas para frente. Finalmente havia chegado o outono. Uma estação considerada como um período de transição entre o verão e o inverno. O outono é tratado como uma estação que inspira a beleza, mas também a melancolia. Porém, talvez para Manu e Clarisse, não significasse o mesmo.
Manu caminhava por uma estradinha até o lago. Empurrando Clarisse, enquanto o Ed se enrolava na coleira, tropeçando algumas vezes. O lago dava a linda imagem da natureza. Poucos iam lá, e no frio, quase ninguém saía de casa para passear.
Manu acomodou Clarisse ao lado do banco onde se sentou. E Ed no colo de Clarisse. Manu não conseguia parar de olha-la. Ela sentia algo diferente, mas não queria admitir, nem para si mesma. Talvez estivesse com medo. Ficava, às vezes, horas imaginando como seria namorar ela, mas vinha, de repente, uma culpa. Clarisse a olhava o tempo todo. Algumas vezes os olhares se cruzavam, e Manu ficava sem graça, até que por acaso, naquela tarde, algo saiu.
- Eu gosto de você. - falou baixo.
Ao lado de Clarisse, parecia que não era ela, tudo estava diferente em sua volta. Será que é assim a paixão? - pensou. Mas tomou coragem, mais uma vez, e voltou a dizer:
- Eu gosto de você!
Clarisse a olhou assustada, não acreditava no que ouvira. Abriu um sorriso, como resposta. Seu coração acelerou. Parecia que as borboletas de sua parede agora estavam em seu estômago.
- Eu também gosto de você - respondeu.
Manu se pegou sorrindo. E para sua surpresa, tomou a iniciativa de beijar Clarisse. Um beijo apaixonado.
Manu nunca levara um relacionamento a sério, mas dessa vez queria que fosse diferente. A noite ficava sonhando com Clarisse, e pensava até em morar junto. Ela estava se apaixonando de verdade. Se deu conta disso quando começou a Cuidar de Clarisse com mais carinho e amor, como se tivesse muito medo de perde-la.
Comprava presentes, iam sempre ao cinema e ao teatro. Manu sempre a levava para um restaurante diferente. Em algumas tardes, faziam piquenique no parque. Em dias mais quentes, iam à praia. Clarisse adorava ver o pôr do sol. Também reservaram uns fins de semana para ver shows de rock nacional. Ela adorava o som da guitarra, ficava sempre bem próximo do palco. Gritava junto com o público e cantava todas as músicas perfeitamente.
Manu adorava ouvi-la cantar, sua voz era linda e doce.No fim daquela noite ficaram olhando as estrelas, em um campo verde, de mãos dadas.
- Sabe qual é a estrela mais brilhante? – perguntou Clarisse, olhando fixamente para elas.
- Não...
- O nome dela é Antares. Ela é vermelha. Pode ser localizada na constelação de escorpião.
Clarisse adorava ler, aprender era sua paixão. Gostava de descobrir coisas novas, e depois passar para frente. Manu aprendeu muito com ela, mas uma das coisas que mais aprendera, foi sobre deficientes físicos, coisas que nunca parou para pensar o porque, como por exemplo:
* Banheiros para deficientes devem ser respeitados. É horrível encontrar banheiros sujos e ocupados. E normalmente nos lugares, a quantidade é bem pouca de cabines adaptadas. Mesmo que quisessem muito, nunca conseguiriam entrar em um pequeno;
* Vagas reservadas, são reservadas, mas para deficientes. Elas precisam ser largas, para as pessoas conseguirem sair dos seus veículos com a cadeira, e geralmente estão mais próximas da entrada do estabelecimento, pra que a pessoa não tenha que andar muito;
* Pessoas deficientes são muito independentes. Conseguem cozinhar, lavar louça e até mesmo limpar algumas partes da casa, o que dá muito mais trabalho. Foi então que Manu descobriu porque na cozinha alguns armários e a pia são mais baixos; não é difícil se locomover para outros móveis, como sofá, cama, poltronas... É sempre bom mudar de posições; vestir roupas sozinhos. Clarisse sempre gostou de vestidos e saias, pois é mais fácil que calças; tomar banho. Manu também descobriu porque a pia e o armarinho eram baixos no banheiro.
* Um ou dois degraus podem ser um grande desafio. Locais acessíveis são ótimos, mas é difícil de encontrar, aliás, é bastante chato, constrangedor e até mesmo perigoso ficar subindo e descendo escada no colo dos outros. E é um direito das pessoas com deficiência terem acesso aos lugares.
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A Última Vez
RomansaEmanuele finalmente consegue sair de casa, e passar para uma faculdade de medicina. Em busca também de sua independência financeira, aceita um trabalho como cuidadora, que mudará sua vida, e seu jeito de amar. A última vez é um romance lésbico, com...