1 | Contra a própria vontade

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Chego xingando em casa. Maldito colégio, maldito Arthur, maldita vida!

— O que aconteceu? — questiona minha mãe enquanto prepara o jantar.

— Nada, estou bem. — Subo as escadas para meu quarto antes que ela possa me perguntar quaisquer outras coisas nas quais eu não estava a fim de responder. A sorte foi eu não ter encontrado meu pai durante minha subida para não participar do interrogatório com minha mãe.

Entro no meu quarto bufando e jogo minha mochila contra a parede, lançando meu corpo com tudo sobre a cama sem me importar com nada, a não ser pelas aulas futuras que eu teria que dar para o Danificado. Por que diabos eu fui fazer aquilo? Droga!

Penso na besteira hoje quase arrancando meus cabelos, o rosto inexorável em puro ódio. Frustrado, pego meu livro de Biologia do segundo ano e revejo o tão difícil conteúdo que eu teria que aprender à força e repassar para Arthur. Leio o quanto consigo, empurrando os assuntos no pensamento para consumir um mínimo de conhecimento.

Minha mãe bate à porta do meu quarto após um tempo e avisa que a comida está pronta, mas digo que não estou com fome. Pulo algumas páginas e revejo as probabilidades, gene recessivo e dominante, entre outras coisas. Com calma, busco uma forma de começar a explicar os capítulos de forma clara e coesa, ficando nesse vaivém de perguntas e respostas para mim mesmo por um período que se perdeu ao redor.

Respiro pesadamente, já sentindo dor de cabeça; noto, pelo relógio digital acima da cômoda, que já passaram duas horas desde o instante em que entrei em casa.

Fill me liga em seguida, provavelmente querendo saber a que rumo levou minha conversa com Jones.

— E aí, Fill?

Cara, aonde você se meteu depois da aula? Já está em casa?

Consigo ouvir uma música agitada rasgando o fundo do meu smartphone.

— Estou, cheguei há um tempinho — minto, fechando o livro sobre meu colo. — Para onde que foi o pessoal?

Estão aqui comigo no bar. O que foi que a mandona te disse?

Estava torcendo para que ele não me perguntasse isso, mas uma ou outra eu teria que dizer.

— Hã... Ela me... obr... obrigou a ensinar o Danificado em uma matéria aí — gaguejo. — Era isso ou meus pais saberem do que houve, e sabe como eles são com essas coisas.

Pera aí, o que você disse? — Fill grita do outro lado. — Eu ouvi bem ou alguém vai ser amigo do único garoto gay da escola?

— Que amigo, nada! — digo zangado. — É só até o semestre acabar.

Ele ri, dizendo algo que não consigo distinguir para outra pessoa perto dele, certamente zombando de mim.

Final do semestre é daqui a um mês, querido — alerta-me ele, a voz brincalhona.

— Isso, zoa comigo, mas lembre-se de que o castigo seria para todos vocês, idiota.

Ah, é verdade. — Ele rapidamente fica sério. — Desculpe. Não quer vir aqui também, não?

Confiro o relógio mais uma vez, o horário mostrando estar próximo das dez.

— Não, eu já vou me deitar. Minha tortura começa amanhã, então tenho que ter pelo menos um pouco de conhecimento para ensiná-lo.

Você quem sabe. — Fill faz uma pausa. — Te vejo amanhã.

— Falou.

Desligo e, logo após, me rendo ao sono e finalmente durmo.

MINHA PRINCESA É UM PRÍNCIPE [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora