2 | O diabo conhece o anjo

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Depois da natação do mesmo dia, corro para meu carro e tranco a porta, ligando o ar quente para me aquecer. Me despedi rapidamente da galera com quem eu sempre ando, agradecido por eles não me perguntarem o porquê de eu estar tão apressado. Foi um saco sorrir forçadamente para as meninas que mexiam comigo pelo corredor quando eu passei por elas, como se nunca tivessem visto um garoto de dezessete anos sem camisa.

Abaixo o espelho no carro e ajeito meu cabelo com os dedos para um lado, substituindo o pente que eu nunca tive. Me mantenho parado, fitando o volante e tentando me lembrar do início da minha primeira conversa com Arthur. Eu praticamente não distingo nenhuma de suas falas com nitidez; apenas me martela ao pensamento a seguinte pergunta: como eu não reparei antes nele em toda a época do colegial?

Falando em Arthur, ele sai pela porta com duas garotas, conversando amistosamente com elas de forma que seu sorriso ficasse evidente e impossível de não ser notado. Ele só aumenta minha introspecção relativa a ele mesmo, e isso me deixa de um jeito estranho. As meninas que estão com ele abrem a boca numa expressão assustada, enquanto Arthur parece ficar vermelho. Uma covinha aparece em cada lado de sua bochecha quando ele ri e...

Por que o estou detalhando todo?

Suspiro como se eu afastasse uma coisa negativa do meu pensamento — o que, na realidade, é mentira — e ligo o carro, em busca de uma saída que pudesse me fazer não pensar nele. Ao escutar o som atritado do meu Volvo prata, sei que já não estou mais preso ao colégio e às pessoas que agora me veem como um idiota.

 Ao escutar o som atritado do meu Volvo prata, sei que já não estou mais preso ao colégio e às pessoas que agora me veem como um idiota

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— E a escola? — pergunta meu pai no jantar.

Parece que eles só querem saber sobre ela quando eu apronto algo e o escondo, por mais que eu tente agir naturalmente, transparecendo que nada aconteceu.

— Vai bem. — Pauso momentaneamente. — Último ano é sempre o mais agitado por causa da faculdade.

Nem eu sabia o que estava dizendo, mas meu pai sorri, satisfeito. Alguns fios brancos já fazem parte de seu cabelo castanho, embora ele ainda não tenha chegado na casa dos quarenta. Até mesmo umas pequenas rugas surgem próximo aos seus olhos pretos quando um sorriso se forma em seu rosto.

Quanto à minha mãe, já ocorre o oposto: o cabelo cobreado se mantém intacto com o tempo, um toque que combina perfeitamente à cor azul de seus olhos. Além dos olhos, puxei o tamanho dela, que é alta — 1,74 m —, numa diferença de três centímetros mais baixa que eu. Não digo isso porque ela é minha mãe, mas acho ela muito linda, sem contar que reage melhor à velhice do que meu pai.

— Hã... Eu esqueci de falar uma coisa — comento assim que termino de comer. — Vou chegar mais tarde agora porque o colégio vai ter aulas extras, e eu me inscrevi.

— Isso é bom — diz minha mãe, tocando meu ombro. — Só tenha cuidado no horário, tudo bem?

Concordo com a cabeça, sentindo-me culpado pela mentira que contei. Mas era isso ou seguir pelo caminho obscuro deles, que na maioria das vezes significava pegar meu carro e cortar minha mesada durante meses, talvez anos pela gravidade do meu ato.

MINHA PRINCESA É UM PRÍNCIPE [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora