Meu Delírio - Livro 2 DEGUSTAÇÃO

Capítulo um

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SE VOCÊ LEU "MINHA OBSESSÃO" ESSE LIVRO É A CONTINUAÇÃO.

SE VOCÊ NÃO LEU, RECOMENDO QUE NÃO LEIA "MEU DELÍRIO" POR HAVER SPOILER.

Livro revisado.

Quando você cresce em uma cidade tão pequena como Colorado, é muito fácil sentir-se grande. Sem arranha-céus e poucas palmeiras. Em um lugar como esse, você logo aprende que precisa lutar com todas as forças pelo que deseja, porque chega uma hora em que é preciso correr para que esse mundo quase imperceptível não sufoque os seus sonhos. Para mim essa hora havia, enfim, chegado.

Segunda-feira, dia ensolarado e perfeito para dar a minha pri-meira aula na escola municipal princesa Isabel. Acordo cedo, co-loco tudo o que preciso dentro da bolsa e, antes de sair, dou uma última olhada no espelho. Ele me mostra sinais de uma noite mal dormida, olheiras em meu rosto que a maquiagem não consegue esconder. O meu cabelo se recusa a cooperar, desalinhado e re-belde.

Apenas respiro fundo, me convencendo que nada mais poderá ser feito em relação à minha aparência. Deixo o quarto e atravesso a sala em direção à porta.

— Espere, Zoe — Elisabeth caminha calmamente até mim, abrindo um sorriso incentivador enquanto me abraça. — Boa sorte, florzinha. Está ótima para o primeiro dia como a mais nova professora do Colorado.

Eu reviro os olhos, achando até engraçado o modo como Elisabeth mente só para me acalmar.

— Tudo bem, mãe — eu dou um passo atrás querendo encurtar o mais rápido possível aquela despedida desnecessária. — Quando tudo terminar, a senhora será a primeira a saber.

Elisabeth ainda disse algo com "tome cuidado" antes que eu me virasse e saísse. Caminho até o ponto de ônibus e não espero muito até, enfim, sentar e recostar-me no assento de couro rasgado e desconfortável. Fecho os meus olhos, enquanto o coletivo se afasta cada vez mais da minha casa.

Não me sentiria alegre em dizer que, apesar de ter passado em um concurso público, só consegui ficar no Colorado como professora graças ao Paulo, que não se cansava em dizer que era um prazer ajudar Elisabeth. Portanto, se não fosse assim, certa-mente eu teria que me mudar de cidade, caso quisesse exercer minha profissão. Algum tempo atrás eu já vinha a perceber o interesse dele nada profissional por minha mãe. Eu sentia arre-pios só de pensar que no fundo Paulo fosse igual ao Arthur. Imaginando coisas assim e que me levava desconfortavelmente direto para o passado. Lembranças nada agradáveis. Situações constrangedoras e recordações das vezes em que entrei escondida na sua casa várias noites para passar momentos com o seu irmão, na noite em que fui pega de surpresa por ele e só não fui expulsa por consideração a minha mãe? Morro de vergonha por ter feito tudo isso na cara do prefeito. Sinto uma onda de melancolia me invadindo ao pensar nisso tudo. Elisabeth nunca he-sitara em me contar as coisas; se algo já tivesse acontecido entre eles, eu saberia. Eu sempre lhe dera apoio em quase tudo, não poderia ser diferente dessa vez, caso o assunto fosse um novo relacionamento, mesmo que no fundo eu não desejasse que fosse com o Paulo.

Sinto a típica parada do veículo, até me dar conta de que ha-via chegado. Abro os olhos, os apertando fortemente contra o sol brilhante de verão. Sem conseguir esperar nem mais um segundo, saio às pressas do coletivo, e meu olhar é atraído para aquele homem, parado na porta do colégio, que sorria para mim com um ramalhete de rosas em uma das mãos.

— Seja bem-vinda, professora Morgan.

Quase posso ver o olhar de satisfação do Eros quando olha para mim. Ele almejou aquilo tanto quanto eu.