Capítulo cinco

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EU NÃO CONSEGUIA RESPIRAR.

Uma mão cobria a minha boca enquanto outra segurava com força o meu ombro e me arrastava para um lugar escuro e sombrio. Eu não conseguia ver o rosto do homem que me segurava, até ele me soltar e recuar um passo para me olhar com cautela. Meu coração batia acelerado.

— Zoe.

Arregalei os olhos, a minha boca se movia, mas ele não podia me ouvir. Um pânico cresceu dentro de mim, o mundo girava, eu buscava equilíbrio. Ele não era mais o que foi um dia. Estava sujo, desesperado. Eu tentei me aproximar, dizer algo que o fizesse se acalmar. Queria abraçá-lo, mas ao mesmo tempo desejava correr para longe. Estava apavorada.

Ele se afastou. Um passo de cada vez até desaparecer enquanto eu gritava o seu nome:

"Arthur"

Meus olhos piscam, enlouquecidos, examinando o quarto escuro como se quisessem encontrá-lo ali. Um nó sufocante se forma na minha garganta me fazendo querer chorar. Eu me sento ereta na cama, totalmente confusa. Olho para o relógio digital na mesinha de cabeceira: quatro horas e quinze minutos da madrugada. Tento me acalmar no mesmo passo em que me convenço que foi apenas um estúpido pesadelo.

Demoro cerca de vinte minutos até eu adormecer novamente. Acordo no dia seguinte com o sol já batendo na minha janela. Eu odiava dormir em quartos que tinham janelas de frente para o pôr do sol, mas como naquela casa havia apenas dois quartos ... e o de Elisabeth, além de ter as paredes grudadas com o muro da vizinha, não tinha janelas. Eu achava isso um absurdo e tinha até fobia de me imaginar presa em um quarto sem janelas.

As formalidades do dia de hoje me fazem afastar por completo as lembranças daquele sonho da noite passada. Eu preciso me focar no almoço que Elisabeth prepara para a família do Eros e todas as suas questões de achar que aquilo era necessário para celebrar a nossa união. Eu finalmente tomo banho e fico na frente do espelho por longos minutos. Visto uma roupa qualquer e coloco um pouco de maquiagem para tentar esconder o fato de que eu estou preocupada e mais ainda entediada com esse almoço de domingo quase em família. Eu sei o que eu sei e tanto tenho razões suficientes para apenas tolerar a família do Eros por simplesmente gostar dele demais. Amélie, sua mãe, quando soube sobre o nosso namoro saiu por toda cidade dizendo educadamente que não aceitaria jamais ver seu filho se relacionando com uma "abusada". Charles, seu pai, talvez tenha sido o único a fingir aceitar tudo de forma natural e podia ser que eu devesse respeitar por isso. A verdade é que esse almoço está longe de ser uma comemoração formal, nada sociavelmente aceitável por eles, estão apenas mantendo as aparências, e eu sei bem disso.

A voz de Elisabeth ressuou pelo corredor assim que saí do banheiro. Ela disse alguma coisa como "Se apresse, Zoe, e me ajude na cozinha". Bufei de raiva, porque além de tolerar tudo aquilo ainda teria que ajudar a organizar o circo todo.

Saio do quarto e encontro o Eros em pé bem no meio da sala, com as mãos no bolso, apreensivo. A confusão no rosto dele seria até engraçada, se eu não estivesse mais entediada do que ele. Ele ri e dá um passo para trás esbarrando no sofá. Se equilibra, mantendo a postura.

— Oi — diz quase em um sussurro. — Preparada para mais uma sessão de tortura?

— Eles já estão aí? — desvio o olhar para a cozinha à procura dos pais de Eros.

— Não, amor. — Quando me viro novamente para olhá-lo ele já está bem próximo de mim. — Eles gostam de ser pontuais, então não virão antes da hora marcada.

Ele se cala e toma os meus lábios em um beijo calmo, porém quente, contraindo os braços e me apertando contra o seu corpo com força. Os meus contornos femininos delicados se encaixam perfeitamente nos músculos rígidos dele. Se afasta lentamente e olha para mim como se pudesse ler meus pensamentos, e em seguida um lento sorriso surge no seu rosto. Eu amo o seu sorriso, sempre amei, antes mesmo de gostar dele já me fascinava aquele sorriso por milhões de motivos.

Meu Delírio - Livro 2  DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora