Capítulo quatro

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A luz do dia que entra pela janela iluminando o suficiente para me avisar que já é hora de levantar. Abro os olhos com dificuldade e me espreguiço devagar na minha cama macia e fofa. Olho para o meu celular: cinco mensagens da Nicole, que por mais que eu queira não podem ser ignoradas. Me levanto sem ânimo algum, estou péssima e percebo isso logo que me olho no espelho. Olheiras enormes de uma noite mal dormida.

O dia está agradável, mas o sol do começo de verão não me anima. Me enfio em um vestido casual cor preta, recolho minha bolsa e saio. Elisabeth está sentada no sofá assistindo a um programa de TV chato, daqueles que eu não suporto nem o nome. Eu a comprimento como faço todos os dias, aliás não é por simples questões ainda não respondidas e extremamente estranhas que eu devo tratá-la de forma diferente, mesmo achando que ela e todo mundo naquela cidade estavam mentindo para mim.

— Espero você para o almoço? — ela pergunta isso sem olhar nos meus olhos.

— Melhor não — ela parece despreocupada. — Nunca sabemos o que a Nicole planeja para o ato seguinte.

Ela sorri.

— Bom passeio — ela permanece concentrada na TV. — Qualquer aproximação do João, ligue para a polícia, tudo bem?

— Não se preocupe.

Saio e encerro o assunto. Sinto que se permanecesse ali a questionaria sem pensar, mais uma vez sobre o Arthur. Não seria muito inteligente da minha parte fazer isso, uma vez que Elisabeth não abriria o jogo comigo, contudo sua atitude de também não falar sobre eu ir à Santa Catarina me deixa confusa. Só me parece que tudo está mais estranho ainda.

 Pela primeira vez em meses eu pude sentar na cafeteria da cidade e literalmente não fazer nada, a não ser ouvir a Nicole e suas teorias malucas de como arranjar um namorado. A guria estava um pouco desesperada em arranjar um bom homem que a levasse ao altar. Segundo ela, a idade já pesava e de modo algum poderia torna-se mais uma solteirona do Colorado.

— Você só tem vinte e seis anos, Nicole — eu mostro os dentes para ela em um sorriso exagerado. — Como pode dizer que já passou da idade de casar?

— Como não? — ela pergunta levando aquilo muito a sério.

— Você tem vinte e dois anos e já está com os dois pés na igreja. Já posso me desesperar por isso?

— Não exagere.

Fecho os olhos, e centenas de pensamentos passam pela minha mente em questão de segundos: eu vestida de noiva caminhando até o altar, Eros me esperando com o seu sorriso encantador; juras, promessas; troca de aliança; beijo, noite de núpcias. E então meu cérebro para e se transporta para um caminho diferente: Arthur.

— É um sonho, Zoe. A coisa toda — ela joga a cabeça para trás e sorri. — Era totalmente improvável que você e o Eros formassem um casal tão lindo assim e fossem casar em tão pouco tempo. É simplesmente... perfeito.

Eu sorri para ela, mesmo que minha mente estivesse em outro lugar.

— Disso não tenho dúvida — eu mal contive um suspiro

—, mas temos muitas coisas para ajeitar antes que isso aconteça.

— O que diabos há com você? — Nicole diz com um tom seco na voz. — Outras mulheres em seu lugar estariam eufóricas, planejando compras, buffet, decorações, festas. E você está aqui, sem ânimo algum. O quê? Não ama mais o Eros?

— Longe disso — digo, sacudindo a cabeça. — Você soube que o João está solto?

— Soube — ela se encolhe na cadeira, aparentando ser bem mais pequena do que é. — Aliás, todos já sabem. Estou furiosa com isso.

Meu Delírio - Livro 2  DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora