Capítulo sete

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O nervosismo tomava conta de mim a cada passo que eu dava em direção a biblioteca do Colorado. Olhei para a praça, a mesma praça que eu me refugiei quando os problemas pareciam me sufocar, nessa mesma praça que meus segredos foram revelados e que me declarei pela primeira vez ao Arthur. A minha história fora escrita aqui e nada havia mudado, os mesmos bancos, a mesma faixada o mesmo cheiro bom de livros.

Formei uma fila com os alunos para que não houvesse desordem na hora de entrarmos. Liguei para Solange horas antes avisando a ela que estaria ali, e por mais que parecesse loucura minha ir sozinha com os alunos, eu optei que fosse assim por me achar capaz o suficiente para cuidar de cada um deles, mesmo que não houvesse animação alguma em seus rostos.

Observei pela última vez a entrada da biblioteca, antes de soltar um sorriso e dizer palavras de ânimo como: Vai ser muito legal hoje meninos, animem-se. Porém nada parecia motivá-los.

– É só uma biblioteca velha, com livros mais velhos ainda. – Diziam eles – Queríamos ir para qualquer outro lugar.

Eu sabia disso, mas eu precisava estar ali, e eles mais ainda. Me aproximei com meus acompanhantes até Demetrius. Ele inclinou a cabeça e o corpo, sorrindo, em uma saudação cavalheira. Uma voz suave e gentil invadiu minhas lembranças, quando Solange dirigiu a palavra a mim com ternura. Meus olhos alegres se ergueram em direção aos dela. Esperei muito por aquele momento, em que entraria naquele lugar com os meus alunos assim como havia prometido a mim mesma. Nos abraçamos brevemente e Solange me ajudou a levar todos para dentro.

– As coisas continuam as mesmas. – Eu sussurrei com os olhos marejados – Este lugar representa muito para mim.

– E você para ele querida Zoe – ela observa o ambiente analisando qual são as melhores mesas para colocar os alunos – A biblioteca nunca mais foi a mesma sem você.

- Não diga isso – sorri – se não eu acabo voltando.

Lá dentro a luz era brilhante, impiedosa, fazendo com que tudo ficasse mais mágico para mim. Eu queria caminhar novamente por aqueles corredores de estantes lotadas de livros e me perder no meio deles. No instante imediato eu sinto meu coração se apertar quando as lembranças votam uma após a outra. Quando olhei para o Arthur e soube que ele abalaria a minha vida. Foi ali dentro daquela biblioteca que o conheci e me apaixonei, mas foi ali também que conheci Nicole, Eros, meu querido Eros, tão tímido, tão encantador. Antes de tudo, quando ele era apenas um bom amigo, prestativo, atencioso e cordial. Nossas conversas por aqueles corredores ainda ecoavam pelos meus ouvidos como uma boa música, me recordando que agora ele era mais do que uma boa lembrança, em breve seria o meu marido. Era inevitável me sentir assim, sentir saudades, porém ao mesmo tempo dor pelas mentiras, pela loucura, por tudo não ter saído como planejei.

– O que pensa em fazer?

– Oi – eu olho um pouco assustada para Solange me esquecendo por poucos minutos que eu estava ali como professora e não mais como aquela adolescente que fui um dia – Eu quero que eles escolham livros para ler. Depois passarei um desafio literário para eles.

– Ótimo Zoe. – ela abriu um sorriso – Sinto muito orgulho de você por incentivar esses jovens a ler. Pode deixar que eu cuido disso.

Eu ajudo ela a fazer com que os alunos escolham livros para ler e em seguida os acomodo em grupos separados pela biblioteca. O ambiente não está lotado, como anos atrás o povo do Colorado ainda não aprendeu como uma boa leitura pode mudar o nosso dia.

– O prefeito tem vindo muito aqui?

Tentei fazer com que essa pergunta parecesse mais normal possível, mas minha voz falhou bem no meio da frase. Solange me olhou despreocupada, aparentemente, mas sabia que ela havia pego a minha preocupação no ar.

Meu Delírio - Livro 2  DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora