Capítulo 4

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 -Queres sobremesa?

-Não, estou cheia.

-Era só um café e a conta, por favor. – Digo ao empregado e ele assente, indo.

-Parece que estava tudo ainda melhor que das outras vezes, não achas?

-Sim! Eu não posso comer mais nada até... daqui a três dias! – Levanta três dedos no ar e rio.

-Acho que amanhã esse monstrinho faminto já vai estar bem acordado outra vez.

Sorri e esconde a face, envergonhada.

-Aqui. – Afasto-me um pouco e serve o café à minha frente, trazendo o talão.

-Obrigada.

Beberico o meu café enquanto confirmo todo o talão.

-O avô disse-me que hoje ia dormir a casa dele.

-Sim, a mãe vai lá meter-te a seguir.

-Vais passear com o Chris?

-Vamos à ópera.

Levo o café quase já a meio.

-Tu gostas dele?

Faz-me olhá-la pelo sobreolho, largar o talão e focar a minha atenção na sua pergunta. Se já não tivesse engolido o café na minha boca, poderia engasgar-me como sinto que quase aconteceu com a minha própria saliva.

-Bom, ele é muito meu amigo. E gosta muito de ti também.

-Mas... por amor. Como um pai. – O meu coração dispara. – Gostas dele como um pai?

Sinto a minha cabeça ficar zonza por instantes, saber que ela me está a confrontar com algo assim, mais cedo do que esperava, inquieta-me.

-Felicity... - Acabo o meu café e afasto a chávena. – Eu gosto muito de ti, adoro-te, tu e o avô são a minha família. – Mantem-se com os braços sobre a mesa, mãos juntas, e com o queixo apoiado sobre estas. Vai-me acenando que sim com a cabeça, enquanto os seus olhos esbugalhados pedem por mais e para que tudo salte para o momento em que terá a sua resposta direta. Poderia dizer que saiu a mim nesse sentido. Mas direi que somos parecidas, nesse sentido. – Há uns anos, a mãe gostou muito de um homem. – A minha voz falha no início mas rapidamente consigo estabilizar. Ambas precisamos desta conversa, não acerca de um pai para ela, isso ela já me perguntou antes, mas acerca de um amor para mim. – Mas as coisas não correram como nós queríamos e eu tive de ir embora.

-Quando saíste de Oxford?

-Sim, quando a mãe saiu de Oxford. Eu decidi que tinha de começar uma vida melhor e menos stressante, e tive a sorte de tu teres aparecido na minha vida. Consegui começar a vender os meus quadros, a ter um trabalho e conhecer novas pessoas, escrevi um livro. Aconteceu tudo da melhor maneira que podia pedir. O Chris é muito meu amigo e sabes que ele nos adora, e sem a ajuda dele talvez não tivesse sido o mesmo para mim, mas... se calhar ainda é demasiado cedo para pensar em gostar.. por amor. Percebes isso? – A sua cabeça abana mais uma vez, permanece muda. – Quando a mãe gostar assim de alguém, tu serás a primeira a saber. – Aperto a sua mão e ela levanta a cabeça.

-E depois achas que... um dia podíamos morar todos juntos?

Há algo para ela me estar a perguntar isso.

-Talvez um dia meu amor.

E mais uma vez, apenas me diz um sim com a cabeça.

-Estás triste com este assunto? – Faço com que ela me olhe. – Algum menino da escola te disse alguma coisa que não gostaste? Podes falar comigo sobre tudo o que quiseres.

The Shadow 3 - ForEverOnde histórias criam vida. Descubra agora